Na noite desta sexta-feira, 21 de junho, a XP Investimentos informou aos clientes que possuíam aplicações nos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) da Yara Brasil Fertilizantes, com liquidação prevista para o dia anterior, que os valores não foram pagos integralmente. O motivo foi a inadimplência de nove das 26 empresas que mantinham operações comerciais com a multinacional e cujas dívidas serviram de base para a emissão do título.
O CRA é um produto financeiro estruturado e complexo.
Uma empresa chamada securitização, Nesta operação específica, a Ecoagro emite títulos que representam valores a receber oriundos de determinada transação comercial.
Neste caso, a origem foram créditos decorrentes da venda de insumos agrícolas pela Yara para um grupo de 22 revendedores e quatro cooperativas para parcelamento. Para usar o jargão de mercado, esses “recebíveis” foram “securitizados” pela Ecoagro e transformados em CRA da Yara.
Por meio de oferta pública coordenada pela Alfa Corretora, os CRAs da Yara foram vendidos no mercado.
Conforme anúncio de encerramento da emissão, datado de 3 de julho de 2023, o valor vendido de CRAs tipo sênior foi de R$ 198.870 mil e o valor vendido de CRAS tipo subordinado mezanino foi de R$ 50.668 mil. No total, a operação atingiu quase R$ 250 milhões.
Aproximadamente 70% dos CRAs da Yara, tanto do tipo mezanino sênior quanto subordinado, foram vendidos para instituições financeiras. O restante ficou com instituições financeiras vinculadas ao emissor ou participantes de consórcio de distribuição e fundos de investimento.
Segundo o comunicado da XP, que tem clientes que adquiriram CRAs da Yara, devido ao não recebimento dos valores totais, alguns procedimentos tiveram que ser adotados.
Os recursos recebidos das empresas inadimplentes foram utilizados para pagar parcialmente os CRAs seniores. Os CRAs do tipo subordinado mezanino permanecem abertos em sua totalidade.
De acordo com o prazo de securitização CRA da Yara, os títulos subordinados mezanino são garantidos pela empresa. Para estes, o comunicado da XP diz que “o pagamento do título da Yara quitará os CRAs subordinados mezanino, na sua totalidade, no dia 26 de junho”.
O pagamento dos CRAs do tipo sênior dependerá das negociações realizadas pela securitizadora com as empresas inadimplentes.
Segundo o comunicado da XP, “segundo a Ecoagro, os valores que mais do que cobririam o saldo devedor dos CRAs seniores até 30 de junho deverão ser pagos em grãos. A liquidação financeira dos grãos ocorrerá no dia 30 de julho”.
Na prática, o investidor que adquiriu CRAs Yara sem ler detalhadamente o Termo de Securitização, especialmente a seção “Fatores de Risco” no Anexo V pode ter ficado com a impressão de que o CRA tipo sênior Yara possuía algum tipo de garantia da multinacional. No total, o documento tem 165 páginas.
A parte que trata dos riscos da operação começa na página 94 e termina na 117 e lista mais de 45 fatores de risco que podem afetar o resultado do investimento. Dentre eles, está explicitamente descrito que a Yara não oferece garantia para a parcela sênior da emissão.
Por esse motivo, a taxa de remuneração original do CRA tipo sênior era de CDI + 1,87% ao ano. Maior que a remuneração do tipo subordinado mezanino CRA, que era de CDI + 1,70% ao ano.
Há uma probabilidade concreta de que o CRA sênior da Yara seja pago em 30 de julho.
Mas há uma lição para os investidores nesse tipo de operação exigirem informações precisas sobre as condições do CRA em investimentos futuros.
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