Em votação unânimeo Comitê de Política Monetária (Copom) de Banco Central (BC) manteve a meta para a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano. Esta é a primeira quebra após sete cortes consecutivos em uma série iniciada em agosto de 2023, partindo da taxa de 13,75% ao ano.
No comunicado, os diretores do Copom destacaram que O política monetária “deve permanecer contracionista durante tempo suficiente, a um nível que consolide não só o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno dos seus objectivos.”
Ou seja, se o cenário apresentado pelo Copom não mudar, a Selic só terá movimentação nos primeiros meses do próximo ano. A partir daí, se de fato as apostas identificadas na pesquisa Focus se aproximarem da meta de 3% ao ano, os juros voltarão a ser cortados.
Cláudia Morenoeconomista de Banco C6considera que, a partir da indicação do Copom de manter a taxa de juros em 10,50% ao ano em 2025, o BC deveria dar algum peso às projeções para o ano de 2026 em seu horizonte relevante a partir da próxima reunião.
Como o mercado recebeu a decisão
A decisão do Copom desta quarta-feira (19) confirmou o expectativas da maioria dos agentes do mercado financeiro. De acordo com Termômetro Copomde Valor Investirque rastreia as probabilidades das resoluções do comitê, antes que a decisão seja anunciada, 93% dos investidores acreditavam que a Selic ficaria em 10,50% ao ano após a reunião de junho. Os outros 7% apostavam em um segundo corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic.
De modo geral, os comentários dos analistas confirmaram o alinhamento do tom do comunicado com o que as instituições do mercado financeiro esperavam.
Com tanta tensão envolvendo os detalhes desta reunião do Copom, o fato de a declaração não ter frustrado o mercado já é algo grandioso e deve impactar positivamente os ativos de renda fixa e a bolsa brasileira na sessão de amanhã.
Estoques em alta, taxas de juros futuras em queda. Se nada mais atrapalhar a chegada lá, claro.
Leonardo Costaeconomista de ASAindica que a primeira leitura do comunicado do Copom é de “neutralidade na maioria dos pontos, sem indicar possibilidade de aumento das taxas de juros e indicando manutenção do patamar elevado por mais tempo”.
Para Costa, um bom indício foi que o balanço de riscos do BC continua equilibrado. Se houvesse alteração neste ponto, a sinalização do Copom seria mais dura – ou seja, poderia até indicar novas máximas.
Enquanto lê Nicolas Borsoieconomista-chefe da Nova Futura Investimentosa “afirmação de que o Copom permanecerá vigilante e que a convergência da inflação à meta ditará os próximos passos sugerem que aumentos nas taxas de juros são uma possibilidade“.
No entanto, a casa não projeta cenário de alta dos juros, “já que manter a taxa Selic em 10,5% é suficiente para levar o IPCA à meta ao final de 2025. Em nosso cenário, projetamos que a taxa Selic permaneça em 10,5% até dezembro de 2024 e termine 2025 em 10% ao ano“.
O economista-chefe do Genial Investimentos, Márcio Camargodestaca que o tratamento dado pelo Copom à deterioração do cenário fiscal no Brasil foi surpreendente “no sentido de que o comitê manteve a ênfase do comunicado da última reunião. Mas minha expectativa era que isso ganhasse mais peso agora, dado tudo o que aconteceu entre reunião e outra”, afirma, em referência à mudança nas metas fiscais para 2025 e 2026 e à dificuldade do governo em aprovar novas medidas no Congresso para aumentar a arrecadação.
Cenário inflacionário no Brasil
Ó IPCA de maio, lançado na semana passadaacelerou mais rápido do que o esperado. Os 0,38% de abril se transformaram em 0,46% no mês seguinte, contra expectativa de 0,41%. As projeções em Boletim Foco para a inflação no final de 2024 vêm subindo desde abril, quando o governo alterou as metas fiscais para 2025 e 2026.
Para 2025, economistas também veem IPCA mais alto. Os dois anos estão incluídos no chamado “horizonte relevante” considerado pelo BC para, a partir de agora, calibrar a Selic. O indicador IPCA anualizado está atualmente em 3,94%, enquanto a meta de inflação do BC a partir de 2024 está fixada em 3%, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Para este ano, a maioria dos analistas já mira 3,96%, bem acima dos 3,72% previstos pelo boletim antes do último corte da Selic. Para o próximo ano, a previsão passou de 3,64% no início de maio para 3,80% no relatório mais recente.
Ou seja, um pouco acima, um pouco abaixo, as expectativas ficam longe da meta.
O comitê votou por unanimidade pela interrupção do ciclo de queda das taxas de juros nesta reunião. A notícia deve ser bem recebida pelo mercado interno amanhã, já que os investidores temem uma cisão causada por pressões políticas.
Atualmente, o Copom conta com nove membros, sendo quatro indicados pelo atual governo.
Conforme o mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Netotermina este ano, o seu sucessor será nomeado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ou seja, a partir de 2025, a autarquia será chefiada por um executivo nomeado pelo governo.
Como Lula e o PT vêm atacando Campos Neto e sua suposta “relutância” em cortar a Selic, o mercado entende que a análise técnica para a Selic e o que o governo quer estão dissociados.
Portanto, a decisão unânime do Copom hoje mostra que, apesar da pressão governamental, os conselheiros indicados mantiveram independência para votar.
A preocupação com a votação também veio da decisão de maio, que dividiu o colegiado. Assim, os quatro diretores indicados pelo atual governo votaram pelo corte de meio ponto, e os outros cinco votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual.
A vontade da maioria prevaleceu então. Mas ainda havia dúvidas sobre a divisão da comissão: Os diretores indicados pelo governo estão agindo no interesse da agenda política em detrimento da avaliação técnica?
Pois bem, com o resultado da reunião de hoje, essa questão adormece, e o BC toma o caminho para recuperar a confiança dos agentes de mercado na política monetária.
O comunicado de maio também se diferenciou dos anteriores por não fornecer pistas sobre os próximos passos do Copom (o chamado “forward guidance”).
Do ponto de vista do consumo, uma Selic maior ou menor implica empréstimos e financiamentos mais caros ou mais baratos. E, portanto, serve como ferramenta para resfriar ou aquecer a demanda e, por sua vez, a inflação.
Entenda o que é Selic
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O ambiente externo continua adverso, devido à elevada e persistente incerteza sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que a inflação cairá de forma sustentada em vários países. Os bancos centrais das principais economias continuam determinados a promover a convergência das taxas de inflação para os seus objetivos num ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário continua exigindo cautela por parte dos países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto de indicadores da atividade económica e do mercado de trabalho continua a apresentar um dinamismo maior do que o esperado. A inflação global ao consumidor apresentou uma trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacentes estiveram acima da meta de inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 calculadas pela pesquisa Focus ficam em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* são de 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em um cenário alternativo, em que a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.
O Comitê ressalta que, em seus cenários de inflação, os fatores de risco permanecem nos dois sentidos. Dentre os riscos ascendentes para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação, destacam-se: (i) maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) maior resiliência da inflação nos serviços do que o previsto devido a um hiato do produto mais reduzido. Entre os riscos descendentes, destacam-se: (i) um abrandamento da actividade económica mundial mais pronunciado do que o projectado; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado na desinflação global revelam-se mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as circunstâncias domésticas e internacionais permanecem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.
O Comité acompanha de perto o impacto da evolução recente da política fiscal na política monetária e nos ativos financeiros. O Comité reafirma que uma política fiscal credível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prémios de risco sobre ativos financeiros, impactando consequentemente a política monetária.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o equilíbrio de riscos e a ampla gama de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% ao ano e entende que esta decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação em direcção à meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo do seu objectivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, esta decisão implica também suavizar as flutuações no nível de actividade económica e promover o pleno emprego.
A situação atual, caracterizada por uma fase do processo desinflacionista tendencialmente mais lenta, por uma maior desancoragem das expectativas inflacionistas e por um cenário global desafiante, exige serenidade e moderação na condução da política monetária.
O Comitê optou por unanimidade por interromper o ciclo de queda dos juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado pela resiliência da atividade, projeções de inflação crescente e expectativas não ancoradas exigem maior cautela. Enfatiza também que a política monetária deve permanecer contracionista durante um período de tempo suficiente, a um nível que consolide não só o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno dos seus objectivos. O Comitê permanecerá vigilante e lembrará, como sempre, que quaisquer ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergir a inflação para a meta.
Os seguintes membros do Comitê votaram a favor desta decisão: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
* No cenário de referência, a trajetória da taxa de juros é retirada da pesquisa Focus e a taxa de câmbio começa em R$ 5,30/US$, evoluindo de acordo com a paridade do poder de compra (PPP). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva de futuros para os próximos seis meses e começa a aumentar 2% ao ano a partir de então. Além disso, é adotada a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025. O valor da taxa de câmbio foi obtido pelo procedimento, que começou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondamento da cotação média do câmbio observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à reunião do Copom.
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