Os ajustes na população brasileira divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levaram a revisões nas tendências demográficas das cidades brasileiras. Essas mudanças nas estimativas populacionais das cidades, segundo especialistas, trazem consequências para a gestão pública municipal que vão desde a alocação de mais ou menos recursos públicos em áreas como educação e segurança, por exemplo, até mudanças na partilha do Fundo de Participação Municipal (FPM). , que leva em conta as populações das cidades.
O IBGE ajustou a população nacional, de 203,1 milhões de habitantes, na data de referência de 31 de julho de 2022, para 210,9 milhões, em 1º de julho de 2022, com população de 212,6 milhões estimada em 1º de julho de 2024. Essas atualizações também modificaram a população. estimativas para diversos municípios, em comparação com o que era projetado antes do ajuste feito pelo instituto.
Um estudo divulgado para o Valor relacionado ao tema mostra que, diferentemente do que se pensava antes do mais recente anúncio do IBGE sobre o assunto, três, e não nove capitais brasileiras, apresentaram queda na população desde o Censo de 2010. Antes das atualizações do instituto sobre o tema, e com os números disponíveis, pensava-se que as capitais não eram mais centros populacionais atrativos, lembrou o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, ex-professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE. Na pesquisa “População dos Municípios Fluminenses em 2010, 2022 e 2024”, Diniz calculou o impacto, nas populações das 27 capitais, do ajuste feito pelo IBGE, uma espécie de “antes e depois”.
Entre as capitais, antes da atualização dos números pelo instituto, informou Diniz, as cidades de Belém perderam população antes do Censo 2010; Força; Natal; Recife; Salvador; Belo Horizonte; Vitória, Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro. Porém, após o ajuste feito pelo IBGE, apenas Natal perdeu população em relação ao Censo 2010; Salvador e Campo Grande.
“Não fazia sentido o Rio de Janeiro ter perdido população entre 2010 e 2022. Porque, quando você pega dados do Ministério da Saúde, do DataSus, você vê que nasceram muito mais pessoas do que morreram no Rio de Janeiro” , detalhou o especialista.
No estudo do especialista, a capital fluminense ganhou destaque, pela diferença entre a população estimada para a cidade quando comparada à estimativa de julho de 2022 e os dados após o ajuste feito pelo IBGE. Antes dos novos números do instituto, a população do Rio era estimada em 6,2 milhões em 2022, o que representaria uma perda de 109 mil habitantes desde o Censo de 2010. Após o ajuste, a cidade do Rio tem 6,7 milhões – um aumento de 409 mil habitantes em relação ao registrado no Censo 2010.
Diniz ressaltou, porém, que os novos números só foram possíveis graças à iniciativa do IBGE que, de forma independente, e concomitante ao Censo 2022, realizou um levantamento para avaliar o estudo, denominado Pesquisa Pós-Enumeração (PPE). Esta investigação, explicou, visa avaliar a qualidade da informação do Censo e identificar possíveis omissões na cobertura. Assim, graças ao esforço do instituto, observou ele, o IBGE divulgou no mês passado os resultados do PPE e as novas projeções populacionais.
Mas o técnico afirmou que as mudanças no número de habitantes das cidades têm consequências na gestão pública municipal. “Conhecer o correto porte populacional dos municípios é fundamental para o planejamento das políticas públicas municipais e para o agendamento dos novos prefeitos que serão eleitos em outubro de 2024”, afirma o demógrafo.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Roberto Ziulkoski, concorda. A entidade vem acompanhando de perto os ajustes do IBGE na contagem dos municípios.
A confederação constatou que, com as novas estimativas populacionais das cidades feitas pelo IBGE, 191 (3,4%) municípios do país perderam população, enquanto 5.372 (96,4%) registraram aumento; e, em sete, a população permaneceu a mesma do Censo 2010.
Antes do ajuste, a CNM mapeou um cenário diferente, em que 2.397 cidades (43% do total) perderam população; quatro mantinham um número de habitantes; e 3.165 (57%) expandiram, em relação ao Censo 2010. “Os dados [populacionais dos municípios] eles estão sendo trocados o tempo todo”, reclamou.
Os reajustes, continuou, vão provocar alterações no valor que algumas cidades receberão do FPM. Mais de 80% dos recursos do fundo vão para cidades que não são capitais, lembrou. O tamanho da população dos municípios é usado para contabilizar a distribuição dos recursos do fundo – quanto maior a população, mais dinheiro a cidade tem direito.
Questionado se a mudança feita pelo IBGE não seria boa, visto que o aumento da população leva o município a receber mais dinheiro, Ziulkoski foi inflexível. “Se você focar apenas no FPM, é melhor. Mas, se tiver uma perspectiva de gestão, é pior”, rebateu.
Ziulkoski explicou que um prefeito precisa ser o mais preciso possível nos números populacionais para lidar com o orçamento municipal. Ele deu exemplo de concursos públicos, cujo número de funcionários é medido com base em uma população específica – e, se a população for contabilizada incorretamente, o prefeito não pode demitir o funcionário posteriormente, destacou.
Como você faz a projeção se não tem certeza do número?”
—Aroaldo da Silva
Para refinar melhor os dados, Ziulkoski também defendeu a contagem da população do país pelo IBGE em 2025. Ele lembrou que normalmente a contagem é feita entre dois censos demográficos, mas a pesquisa que deveria ser feita em 2020 foi adiada para 2022 devido à pandemia. Então, em tese, o próximo ano seria para fazer uma contagem.
“Que [os números do IBGE] Não está causando mais confusão agora porque os prefeitos estão em campanha [de reeleição devido ao pleito municipal em 2024]” ele disse. “Mas a partir de novembro, dezembro [quando a eleição estiver definida]problemas começarão a surgir no próximo ano, incluindo mais de 3.000 novos prefeitos, que não têm ideia do que está acontecendo”, alertou.
“A eleição municipal tirou o foco desse debate, isso é fato”, concordou Aroaldo Oliveira da Silva, secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC. Silva comentou que, no momento, ou os prefeitos estão ocupados com a reeleição; ou, no caso dos em segundo mandato, com a organização da prefeitura para transferência ao seu sucessor.
A pedido de Valor o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que reúne sete municípios da região metropolitana de São Paulo, calculou o número de habitantes no total de cidades que compõem o grupo, após ajuste do IBGE. Foram registradas 2,79 milhões de pessoas nas cidades: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Em cálculos baseados nos 2,55 milhões de habitantes da região no Censo 2010, isso representaria um aumento de 9,3% na população dessas localidades. Porém, com os números de junho do ano passado, a população do Grande ABC foi estimada em menor, em 2,70 milhões de habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022, o que representaria um aumento de 5,6% em relação ao Censo de 2010.
“Isso afeta diretamente o fundo de participação dos municípios [a partilha]”, disse o secretário executivo. “Mas afeta outras políticas”, acrescentou, usando como exemplo a área da educação. “Se não tivermos clareza sobre o real tamanho do município ou região, isso afeta diretamente a oferta do número de vagas [nas escolas]”, disse ele. “E a discussão da saúde, vocês vão fazer uma projeção para uma vacina [compra de imunizante]. Como você faz a projeção se não tem clareza do número?”, questionou.
Silva também mencionou a questão da aquisição de recursos para atendimento à população pelas prefeituras. As compras não são rápidas, passam por licitação e, uma vez efetivadas, não podem ser devolvidas. “Porque, se você subdimensionar, na hora de fazer a compra, você vai deixar alguém sem vacina, por exemplo”, explicou.
O Valor procurou o IBGE para falar sobre as informações populacionais publicadas este ano. Márcio Mitsuo Minamiguchi, gerente de Estimativas e Projeções Populacionais do instituto, lembrou que, por lei, o IBGE deve publicar estimativas de população das cidades todos os anos, até agosto, no “Diário Oficial da União” (“DOU”). . Os números servem de base para o Tribunal de Contas da União (TCU) fazer as contas necessárias que definirão o compartilhamento dos recursos do FPM, lembrou. No entanto, os números de 2024, publicados em agosto, foram os primeiros a ter em conta as melhorias nas contas do instituto para o país e para os estados, com impacto nas estimativas da população municipal, explicou.
Minamiguchi foi questionado sobre as diferenças significativas registradas entre o que foi anunciado no passado pelo IBGE para as cidades, em termos de população, e o que foi anunciado este ano. O gestor do instituto comentou que, nas investigações do instituto durante o refinamento dos dados, “esperava-se” uma população maior em escala nacional.
“Já se esperava que o Brasil fosse maior, e também em relação aos estados e municípios, isso [a elevação populacional] também vai aparecer”, finalizou. Mas ele comentou que o período prolongado de coleta do Censo 2022, que durou mais de três meses devido a questões envolvendo a pandemia – o que dificultou a comparação e o processamento posterior dos dados – pode ter contribuído para isso. “Há um certo nível de lacunas de cobertura. Sempre há”, admitiu.
Na população nacional, o ajuste do IBGE após o PPE adicionou 7,9 milhões de habitantes à contagem inicial, ou 3,9% a mais de população. Este aumento foi superior ao dos Censos anteriores. Em 2000, a população foi ajustada de 169,6 milhões para 174,7 milhões (um aumento de 3%); e no Censo 2010, de 190,5 milhões para 194,7 milhões (aumento de 2,2%).
Quando os dados foram divulgados, em agosto, a gerente de Estudos e Análise da Dinâmica Demográfica do IBGE, Izabel Marri, lembrou que houve ajustes na população de todos os Censos recentes. Mas ela admitiu que, no caso do Censo de 2022, os dados mostraram “uma possível omissão populacional maior” do que nos demais, relatou na época.
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