Por um lado, a necessidade de expandir um orçamento estagnado e garantir o financiamento da saúde para uma população envelhecida. Por outro lado, as filas que já atingiram mais de meio milhão de pessoas à espera de cirurgias eletivas, a crescente influência das emendas parlamentares na alocação de recursos e um cenário em que os investimentos para ampliação e melhoria dos serviços são atualmente menores do que no passado . última década — apesar de um aumento de mais de R$ 9 bilhões em 2024. Em meio a essas necessidades, o Sistema Único de Saúde (SUS) tenta se equilibrar.
O orçamento para Ações e Serviços de Saúde Pública (ASPS) — em média 90% do total do Ministério da Saúde — não acompanha a crescente demanda por serviços. Essas ações são a base do financiamento do SUS e, entre 2013 e 2024, essa dotação orçamentária cresceu 19%, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), disponibilizados no Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), do governo federal. governo. Em 2024, foram R$ 222,9 bilhões. Os valores reservados para investimentos em saúde, porém, caíram em proporção maior, 30%, de R$ 17,5 bilhões para R$ 12,3 bilhões.
É a rubrica que reúne os recursos destinados à expansão da infraestrutura física e da capacidade instalada no SUS. “Os investimentos são como ativos que precisam ser constantemente renovados. São responsáveis, por exemplo, pela construção de mais Unidades Básicas de Saúde e pela aquisição de ambulâncias e equipamentos. O baixo investimento reflete na qualidade dos serviços”, afirma o economista Victor Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS).
Outra forma de ver o panorama do financiamento da Saúde no Brasil: estudo realizado pelo IEPS mostra que, entre 2013 e 2023, o orçamento federal para a Saúde ficou praticamente estagnado, com crescimento nominal de 2,5%. Apenas nos anos de 2020, 2021 e 2022, os valores ficaram acima da média, fruto de transferências para combate à pandemia de covid-19. A análise da Lei Orçamentária Anual (LOA) para cada um desses dez anos aponta queda de 64,2% nos valores destinados aos investimentos em saúde.
Em meados do período analisado, em 2017, entrou em vigor a lei do teto de gastos. A Emenda Constitucional 95 limitou os gastos públicos, por 20 anos, à variação acumulada da inflação. Na prática, não só congelou os gastos, mas também se refletiu na queda dos investimentos. Para cada R$ 5 destinados ao orçamento da saúde, apenas R$ 1 deixou de ir para despesas não obrigatórias e a maior parte foi para despesas obrigatórias, como financiamento do sistema e pagamento de salários, segundo o estudo do IEPS.
Após uma década de estagnação, os montantes atribuídos à saúde cresceram significativamente este ano. A comparação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 com a de 2023 aponta aumento de 46%. Isto se deve principalmente ao fato de o projeto de lei orçamentária se basear no novo regime fiscal, que substituiu o teto de gastos e permitiu a expansão dos gastos com saúde de acordo com o mínimo constitucional.
Como resultado, houve uma expansão da previsão de despesas correntes em 49%. O total destinado a investimentos em saúde aumentou mais de 600%. Os valores para essas duas categorias foram orçados em
R$ 179,7 bilhões e R$ 10,8 bilhões, respectivamente. “Os investimentos em 2023 estavam em um nível muito baixo. O aumento em 2024 é significativo, mas ainda não compensa integralmente as perdas da última década”, afirma o pesquisador do IEPS. “Está caminhando na direção certa, mas este orçamento [de 2024] ainda precisa ser acompanhado de perto para verificar se atende às demandas do SUS.”
Ao Valor, o Ministério da Saúde afirma que a aprovação da Emenda Constitucional 126, em dezembro de 2022, possibilitou aumentar a dotação orçamentária destinada à ASPS ao revogar o regime fiscal conhecido como teto de gastos.
O SUS é um sistema tripartido. A responsabilidade pela sua gestão e financiamento é compartilhada entre os governos federal, estaduais e municipais. Cabe à União aplicar anualmente o valor do orçamento do ano anterior, acrescido da variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Os estados são obrigados a investir pelo menos 12% de suas receitas e os municípios, 15%. Dados do Ministério da Saúde, porém, indicam a carga para os municípios. Alguns investem mais de 40% da sua renda em saúde.
A análise do IEPS revela uma situação que está relacionada a essa sobrecarga dos municípios. Dos mesmos R$ 5 destinados ao SUS, dos quais apenas R$ 1 não foi para despesas não obrigatórias, R$ 0,35 foi destinado de acordo com decisões do Legislativo, fruto de emendas parlamentares. Despesas obrigatórias, como custos administrativos e repasses para Atenção Primária à Saúde (APS) e Média e Alta Complexidade, respondem por 78% do orçamento. As despesas discricionárias, orientadas pelas prioridades estabelecidas pelo gestor, e as emendas parlamentares representam 22% do total. Entre 2014 e 2023, desconsiderando as despesas relacionadas à Covid-19, os aditamentos aumentaram R$ 7 bilhões, enquanto as despesas discricionárias foram reduzidas em R$ 5 bilhões.
As emendas parlamentares aceleraram ainda mais em 2020, com a introdução de uma nova modalidade: as emendas do relator, também conhecidas como orçamento secreto. “Isso tem implicações, como a alocação de recursos de forma não necessariamente alinhada às prioridades de saúde pública, e esse cenário se agrava em anos eleitorais, quando há maior liberação de recursos via emendas parlamentares”, afirma Nobre. “Proteger o orçamento da influência política é um desafio constante. A transparência e a participação social são essenciais para garantir que os recursos sejam alocados de acordo com as reais necessidades de saúde.”
Apesar do orçamento permanecer estagnado, o alívio fiscal do sector quase duplicou no país, segundo o IEPS. Entre 2013 e 2023, os subsídios relacionados a todos os itens de saúde aumentaram 88%, passando de R$ 37,6 bilhões para R$ 70,7 bilhões. “Essas isenções beneficiam mais quem tem renda maior, quem tem despesas médicas dedutíveis do Imposto de Renda, por exemplo”, afirma o economista.
Os resultados da forma como o SUS tem sido financiado ao longo dos anos se refletem desde a atenção básica até o acesso às especialidades médicas. Professora titular de saúde pública da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu (SP) e ex-diretora de programas da Secretaria de Gestão e Educação em Saúde, do Ministério da Saúde, Eliana Goldfarb Cyrino vê o SUS em um momento de reconstrução após passando por um processo de desmonte do governo de Jair Bolsonaro (PL). “O SUS sempre foi subfinanciado, mas nos últimos anos houve uma falta de financiamento ainda maior. No governo Bolsonaro havia um componente ideológico muito forte voltado para a destruição do SUS. Podemos lembrar disso especialmente durante a pandemia. A constante mudança de ministros e a incompetência administrativa diante de um sistema tão complexo também foram problemáticas”, afirma.
Para enfrentar o desafio, alguns programas foram implementados. Em 2023, o departamento agora liderado por Nísia Trindade lançou o Programa Nacional de Redução de Filas para Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas (PNRF). De março de 2022 a janeiro de 2023, houve um aumento de 19% no número de cirurgias eletivas realizadas pelo SUS.
Outra medida é o Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE). Lançado este ano, o objetivo é reduzir a espera por consultas, exames e outros procedimentos especializados. Segundo o ministério, o novo modelo foca a atenção no paciente e em suas necessidades, reduz o número de locais que ele precisa frequentar e integra exames, consultas e acompanhamento de saúde durante o processo.
Essas iniciativas buscam agregar avanços, como a parceria com hospitais privados de ponta que fazem parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do qual participam a Beneficência Portuguesa (BP), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Sírio-Libanês, Hospital do Coração (Hcor) e Hospital Israelita Albert Einstein.
O objetivo é apoiar e melhorar os serviços do SUS por meio de projetos voltados à formação de recursos humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de novas tecnologias, bem como gestão e assistência especializada. “Entre 2021 e 2023, foram apoiadas 188 UTIs no Brasil, resultando em uma redução de 53% nas três principais infecções relacionadas à assistência. Esse resultado evitou 15 mil infecções, 5,5 mil mortes e gerou uma economia de R$ 791 milhões”, explica Maria Alice Rocha, diretora executiva de pessoas, experiência do cliente, marketing, sustentabilidade e impacto social da BP.
A telemedicina é uma das tecnologias que o programa ajudou a implementar. Rocha afirma que a incorporação dessa ferramenta, em um país de dimensões continentais como o Brasil, representa uma oportunidade para melhorar a saúde, criando processos e protocolos que reduzam o tempo de diagnósticos e listas de espera e melhorem a formação dos profissionais de saúde. “Há um consenso de que a colaboração para reduzir barreiras de acesso aos serviços de saúde e promover informação de qualidade pode ser um marco para um sistema universal em um país de dimensões continentais como o Brasil”, afirma Rocha.
consignado para servidor público
empréstimo pessoal banco pan
simulador emprestimo aposentado caixa
renovação emprestimo consignado
empréstimo com desconto em folha para assalariado
banco itau emprestimo