Diante do cenário que combina as metas do Acordo de Paris e os impactos das mudanças climáticas, a indústria siderúrgica tem buscado formas de reduzir as emissões globais de poluentes. Os investimentos em hidrogênio verde, o aumento da utilização de sucata nos processos produtivos, a diversificação da matriz energética com o avanço do uso de renováveis e gás, além de projetos de utilização de briquetes, cluster de ferro de alta qualidade minério que reduz em até 10% as emissões de carbono na produção de aço.
Responsável por 8% das emissões globais, segundo dados da Agência Internacional de Energia, o setor siderúrgico é considerado difícil de reduzir os poluentes globais. A produção de aço é altamente dependente do carvão, utilizado principalmente como agente redutor para extrair o ferro do minério e fornecer o teor de carbono necessário ao produto. Cerca de 70% do aço produzido no mundo utiliza coque, cuja queima gera dióxido de carbono.
Em dezembro, a Vale inaugurou a primeira planta de briquetes de minério de ferro do mundo, na unidade de Tubarão, em Vitória (ES). O produto tem potencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no alto-forno em até 10% ou, no futuro, permitir a produção de aço com emissão zero quando o hidrogênio verde estiver disponível. Os testes de carga na primeira planta começaram em agosto de 2023.
Uma segunda fábrica em Tubarão está prevista para ser inaugurada ainda este ano. Juntos, eles terão capacidade para produzir 6 milhões de toneladas por ano —resultado de um investimento de R$ 1,2 bilhão que gerou 2,3 mil empregos no auge da construção.
Mais de 30 empresas já demonstraram interesse em receber remessas de briquetes em 2024. Por se tratar de um produto inovador, a produção dos dois primeiros anos será utilizada para testes nas instalações desses clientes. A maioria dos interessados é da Europa e do Médio Oriente, mas houve encomendas de clientes de todo o mundo, incluindo o Brasil, garantindo procura há mais de um ano.
O briquete é produzido a partir da aglomeração de minério de ferro de alta qualidade em baixas temperaturas, utilizando uma solução ligante tecnológica, que confere alta resistência mecânica ao produto final. Anunciado pela Vale em 2021, o produto emite menos particulados e gases como dióxido de enxofre (SOX) e óxido de nitrogênio (NOX), quando comparado aos processos tradicionais de aglomeração, além de dispensar o uso de água em sua fabricação.
A Vale também assinou recentemente um protocolo de intenções com a H2 Green Steel para estudar conjuntamente o desenvolvimento de pólos industriais no Brasil e na América do Norte. Nestes complexos industriais, a H2 Green Steel pretende fabricar produtos de aço de baixo carbono, como hidrogênio verde e briquetes de menor impacto ambiental, utilizando briquetes de minério de ferro produzidos pela Vale e energia elétrica de fontes renováveis para abastecer a produção de hidrogênio. verde.
“O novo marco do hidrogénio é um importante impulsionador deste potencial. Com a aprovação do quadro legal, existe um ambiente regulatório mais seguro e incentivos fiscais que poderão impulsionar novos investimentos na produção de hidrogénio verde, uma solução promissora para a transição energética do país. Além disso, esta nova indústria também poderá incentivar outras indústrias, como energia renovável, fertilizantes e aço verde, sendo fundamental para a neoindustrialização do país”, informa a empresa por meio de sua assessoria de imprensa.
Fundada em 2020, na Suécia, a startup H2 Green Steel tem sua história acompanhada de perto pela indústria. A empresa pretende produzir aço, a partir do próximo ano, utilizando hidrogênio verde em seu processo, o que representaria uma redução de 95% nas emissões de CO2 em comparação aos altos-fornos que queimam carvão. Com financiamento de 6 bilhões, o projeto é considerado o maior do segmento H2V do mundo.
Com uma matriz baseada em energias renováveis, como eólica e solar, o Brasil pode se tornar um pólo de produção de hidrogênio verde, cujo marco regulatório foi aprovado recentemente em Brasília. “Pode ser o ponto de partida da neoindustrialização verde no Brasil com a transformação da economia mundial para uma matriz de baixo carbono”, afirma a presidente da Associação Brasileira da Indústria Eólica, Elbia Gannoum.
No Brasil, a indústria siderúrgica começa a analisar oportunidades. Um exemplo é a Arcelor Mittal, que anunciou em 2022 a compra da Companhia Siderúrgica do Pecém por US$ 2,2 bilhões. Além de ampliar sua produção no Brasil, a aquisição teve a energia como um de seus pilares, com a intenção de capitalizar investimentos de terceiros para formar um hub de eletricidade limpa e hidrogênio verde em Pecém (CE).
Projeções destacadas na publicação “Hidrogênio de Baixo Carbono”, da FGV Energia, indicam que até 2050 a participação do hidrogênio (H2) na matriz global poderá crescer de 2% para 5% (mais conservador) ou até 22% (mais otimista). ), com a expansão sendo dominada pelo hidrogênio de baixo carbono, popularmente chamado de verde. O porto do Pecém, que tem como acionista o porto de Rotterdam (Holanda), foi eleito pela União Europeia, em 2022, como principal hub de importação de H2V do bloco. Um dos projectos mais avançados é o da mineradora australiana Fortescue, que poderá investir 5 mil milhões de dólares no projecto de gás.
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