Alguns itens, como açúcar e café, já começam a reagir aos efeitos do clima. A forte seca que atinge diversas regiões brasileiras, somada às recentes ondas de calor e aos incêndios que atingem lavouras em vários estados, especialmente em São Paulo, preocupam o consumidor brasileiro, que teme que os efeitos climáticos possam aumentar os preços de alguns alimentos. Segundo especialistas consultados pelo Globo Rural, alguns itens da cesta básica, como açúcar e café, já começam a reagir aos efeitos do clima, com aumento de preços. Outros produtos, como carne, feijão e laranja, não deverão sofrer mudanças drásticas tão cedo. Leia também Mapa das queimadas: veja as cidades afetadas pelas queimadas no Brasil Incêndios no Brasil: saiba como o clima pode favorecer novos episódios Brasil registra o maior número de queimadas em agosto desde 2010 Açúcar Açúcar cristal deve subir e afetar preços dos alimentos onde está é usado como ingrediente Freepik Os canaviais do interior de São Paulo foram duramente atingidos pela onda de incêndios do final de agosto, com mais de 80 mil hectares de cana destruídos. As perdas causadas nas lavouras deverão impactar os preços do açúcar, que deverão permanecer em níveis mais elevados até o primeiro trimestre de 2025. Além das recentes queimadas, uma longa estiagem, que atinge o Centro-Sul do país desde abril, deverá continuar a afetar afetarão os canaviais até outubro. “Com isso, a entressafra vai começar mais cedo, porque como a seca prejudicou os canaviais não vai ter muita cana e as usinas vão terminar a moagem mais cedo neste ano”, afirma Maurício Muruci, analista da Safras & Mercado. Somente na última semana de agosto, os preços no mercado internacional subiram 12%, e atualmente são negociados em torno de 20 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Valores de Nova York. “Nossa expectativa é que os preços cheguem a 22 centavos por libra-peso até o final de setembro, podendo chegar a 26 centavos até o final do semestre”, afirma. O aumento deverá se refletir no mercado interno a partir de outubro. A tendência é que com o aumento do preço do açúcar VHP (açúcar bruto) – que é o que é comercializado no mercado internacional – as indústrias optem por produzir mais desse produto em detrimento do açúcar cristal, que é o que é vendido para consumidores. Portanto, o preço dos cristais também deverá aumentar, gerando um efeito em cadeia em diversos alimentos. “O aumento dos preços dos cristais no mercado interno deverá impactar toda a indústria alimentícia que utiliza açúcar como ingrediente e também itens da cesta básica, com efeitos do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sobre a inflação já visíveis a partir de outubro”, diz o analista. Também deverá haver aumento nos preços dos combustíveis, o que deverá ocorrer a partir do final de setembro, com aumento no valor tanto do etanol hidratado quanto do anidro, em 10% nos próximos 30 dias. Café Alta do preço do café deve impactar inflação em setembro Getty Image Alta do preço do café deve impactar inflação oficial, medida pelo IPCA, neste mês de setembro. Isso porque entre setembro de 2023 e junho de 2024, embora tenha havido aumento no preço do produto in natura de mais de 100% na variedade conilon, e de 87% no Arábica, as indústrias vinham relutando em repassar os aumentos para o consumidor. Porém, diante desses aumentos constantes, as empresas começaram a perder fôlego e iniciaram reajustes de preços no varejo. “Até o momento, apenas 18% do aumento dos preços foi repassado aos consumidores, boa parte agora em agosto, o que deverá impactar a inflação de setembro. Outros 18% devem ser repassados até o final do ano”, explica Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Texto inicial do plugin No caso do café, embora tenham sido registrados incêndios em regiões produtoras, eles não causaram danos diretos aos cafezais. “Mas só a notícia do incêndio já é fator de elevação do preço”, afirma o diretor da Abic. As lavouras de café também sofrem com a seca. “Para setembro, mês de florescimento da nova safra, não há previsão de chuvas, o que deve ajudar a manter os preços em patamares elevados”, afirma Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint Global Markets. Carne Bovina A oferta de carne só será normalizada a partir de 2025 Wenderson Araujo/CNA No caso da carne bovina, a crise atual ainda não afetou os preços nos supermercados, mas pode afetá-los no futuro. No Mato Grosso do Sul, o efeito da seca deste ano nas pastagens reduziu a disponibilidade de animais prontos para abate na região. Segundo o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias, o preço da carne bovina no Estado tem sido negociado acima de R$ 240 neste mês, ante a média de R$ 220 do início de agosto. “Sim, há uma dificuldade das indústrias em encontrar animais acabados no Estado. Com escalas apertadas, os frigoríficos aumentaram os preços, mas ainda têm dificuldade em conseguir gado macho”, destaca o analista. Em São Paulo, o indicador Cepea/Esalq para Boi Gordo encerrou agosto com alta de 4,8% em Barretos (SP) e Araçatuba (SP), regiões consideradas referências para o mercado. Iglesias explica que Agosto é um mês caracterizado pela menor oferta de animais terminados a pasto, o que se reflecte na subida sazonal dos preços, mas que esta tem sido agravada pelo tempo seco e pelos incêndios nas zonas produtoras. Com a escassez de animais, o abate de fêmeas ganhou ainda mais força, fenómeno ancorado na atual fase do ciclo pecuário, mas que também tem refletido a dificuldade de manutenção de porcas no campo. Texto inicial do plugin “Esse desgaste adicional que as áreas de pastagem estão sofrendo devido às queimadas tende a atrasar a entrada de animais terminados a pasto no mercado não só no Mato Grosso do Sul, mas também em outros estados”, comenta o analista. Caso isso aconteça, ele estima que a oferta só se normalize a partir de 2025. “Conviveremos com uma oferta mais tímida neste período, o que gerará efeitos no mercado, com aumento dos preços ao consumidor”, acrescenta Iglesias. Feijão Preço do feijão ainda não foi impactado pela seca Ibrafe/Divulgação Sobre o mercado do feijão, Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), comenta que ainda não é possível afirmar com precisão se haverá impacto no consumidor final. Moreira lembra ainda que, apesar da colheita ter sido menor neste ano (castigada pela falta de chuvas), o menor volume não impactou os preços. Segundo dados da Fipe, o preço acumulado do feijão no mercado nacional registou este ano uma queda de 2,6% e nas últimas semanas continuou a cair. Incêndios de laranja não devem afetar volume de laranja disponível no mercado Ceagesp / Divulgação Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP indica que os incêndios ocorridos em algumas áreas citrícolas do interior do estado São Paulo no final de agosto foram pontuais e não deverão resultar em impactos significativos no volume de frutas disponíveis no mercado. Segundo relatos de funcionários do Cepea, as áreas afetadas são pequenas e os proprietários conseguiram controlar o fogo rapidamente. O mercado de laranja, porém, segue pressionado, por outras variáveis. “A frente fria que voltou a atingir o Estado de São Paulo no final de agosto, por exemplo, foi um dos fatores que afastou os consumidores”, aponta o comunicado do Cepea, acrescentando que, “além disso, o fim do ano O período do mês também limitou as vendas. Por outro lado, a oferta cada vez mais restrita e os preços elevados dos contratos industriais continuam a sustentar os valores médios de negociação das laranjas frescas. Em 2024, o aumento no valor do consumidor chegou a 20%, segundo dados da Fipe.
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