Para os produtores rurais brasileiros, os juros elevados dificultam o investimento em tecnologia no campo, segundo o Monitor de Tendências do Agronegócio Brasileiroelaborado pela Secretaria de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ao qual o Globo Rural teve acesso. Para elaborar o estudo, a entidade entrevistou 514 pessoas de diversas regiões do país.
O custo inicial é a principal barreira à inovação, segundo 45% dos entrevistados. Para 29% deles, o custo do crédito em geral é o grande problema, e 24% afirmaram que a má conectividade dificulta o acesso às inovações. Dos produtores entrevistados, 26% afirmaram possuir um pacote tecnológico adequado às suas necessidades.
A amostragem reúne produtores de soja, milho, café, algodão e cana-de-açúcar e pecuaristas de corte e leite. As entrevistas ocorreram entre os dias 26 de março e 9 de maio. “Os produtores estão mais cautelosos, os preços das commodities caíram e as taxas de juros estão muito altas. Então é natural que ele invista menos”, afirmou Roberto Betancourt, diretor do departamento de Agronegócio da Fiesp.
Dois terços dos agricultores e pecuaristas que responderam à pesquisa afirmaram que financiaram de alguma forma as suas operações na última colheita. Os produtores de algodão, soja e milho foram, proporcionalmente, os que mais acessaram linhas de crédito.
Os bancos oficiais eram a principal fonte de fundos para a maioria: eram responsáveis por 43% do crédito agrícola e 50% do financiamento da pecuária). Seguiram-se bancos privados, concessionárias e cooperativas de crédito. Apenas 6% dos produtores afirmaram ter utilizado mecanismos como Carta de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Fundo de Investimento em Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro).
“O Plano Safra parece ter muito dinheiro, mas fica aquém das necessidades do Brasil. No final, com os recursos disponíveis, o produtor cobre os custos e não os novos investimentos”, acrescentou Betancourt.
Assim como no caso do crédito, a maioria dos entrevistados (59% dos produtores de soja, 44% dos produtores de algodão e 38% dos pecuaristas de corte) citou o alto custo como o maior obstáculo para o acesso ao seguro rural. A contratação de políticas apareceu no radar de aproximadamente 40% dos entrevistados e 25% estavam indecisos.
“Me parece que não temos um custo competitivo para o seguro rural, como outros países oferecem. Parece-me também que as seguradoras oferecem poucas opções”, disse o diretor.
Para vender seus produtos, os agricultores e pecuaristas brasileiros ainda recorrem basicamente a cooperativas e corretores e fecham negócios no mercado spot, o que os deixa altamente expostos a riscos, diz Betancourt. “Apenas os grandes produtores utilizam o mercado futuro e as ferramentas de hedge”, disse ele.
A pesquisa da Fiesp mostrou que 49% dos entrevistados negociam no mercado spot por meio de vendas diretas ou corretores, fechando acordos que correspondem a quase metade da produção. Outros 33% afirmaram que optariam por uma cooperativa, concentrando todas as vendas nesta modalidade.
Dos entrevistados, 15% afirmaram fazer vendas antecipadas e 12% afirmaram utilizar tradings. 11% afirmaram optar pelo escambo, modalidade em que recebem insumos em troca da entrega da produção futura, 8% utilizam produtores de cereais, 8% utilizam a bolsa de futuros e 5% fazem exportações diretas.
Os produtores brasileiros concentram a compra de insumos para suas atividades entre o segundo e o terceiro trimestres do ano, mostra o estudo da Fiesp. No caso dos agrotóxicos, 34% dos entrevistados disseram ter feito compras entre abril e junho e 32%, de julho a setembro. Nas compras de fertilizantes, as participações são de 33% e 30%, respectivamente. Quanto às sementes, 31% dos entrevistados fazem compras no segundo trimestre e 28% no terceiro.
O profissional contratado pela fazenda é quem 31% dos produtores ouvem na hora de escolher os insumos, e 22% preferem informações de um agrônomo ou consultoria. Juntos, os vizinhos (18%) e os familiares (13%) ainda desempenham um papel relevante na escolha dos insumos, com quase um terço do total de respostas. No total, 15% dos entrevistados afirmaram escolher profissionais de cooperativas e 12%, revendedores.
A pesquisa mostra também que a adoção de bioinsumos na agricultura brasileira está em expansão, com destaque para as culturas de soja, algodão e cana-de-açúcar. No entanto, ainda existe um grande potencial de crescimento em todas as culturas. Na agricultura, 74% dos entrevistados afirmaram já utilizar bioinsumos em suas operações. Na pecuária, o uso de biológicos continua menos difundido (38%), mas, nos casos em que o produtor os utiliza, a adoção ocorre em mais de 75% da área total.
Embora os bioinsumos representem uma alternativa promissora, o alto custo de sua aquisição é citado como um dos motivos que dificultam sua adoção em larga escala, tanto por agricultores como pecuaristas. A dificuldade de aplicação e armazenamento dos produtos e a falta de informação e conhecimento também foram citadas como entraves à divulgação deste recurso.
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