O terceiro boletim com dados parciais sobre pré-candidaturas LGBTQIA+ às eleições municipais deste ano, mapeado pelo Programa Voto Com Orgulho, e divulgado nesta sexta-feira (28), apresenta um total de 333 pré-candidaturas, das quais 299 se declararam pessoas LGBTQIA+ e 34, pessoas aliadas à causa. No boletim anterior foram identificadas 304 pré-candidaturas, sendo 273 pessoas LGBTQIA+ e 31 pessoas aliadas à causa.
Em entrevista à Agência Brasil, o diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTQIA+ e coordenador geral do Programa Voto Com Orgulho, Claudio Nascimento, destacou um fato histórico para as eleições de 2024, que é a liderança de pessoas negras (pretas e pardas ) no ranking das pré-candidaturas, com 52,4% do total, totalizando 176 pré-candidaturas. São 148 pré-candidaturas de brancos; os dos indígenas, dois; os dos amarelos, seis, e dos ciganos, um.
Nascimento afirmou que a maioria dos pré-candidatos negros é uma notícia animadora, “que nos eleva o coração ao ver uma presença maior de pessoas negras LGBTQIA+. Isto é extremamente importante, tendo em conta que, quando se discute a questão da violência e da discriminação, as pessoas negras LGBTQIA+ são as mais degradadas e discriminadas. Eles também se levantam para dizer que querem ser protagonistas, que querem participar de espaços de poder e ajudar a decidir os rumos do nosso país e de suas cidades. Isso é muito importante para nós.” Por ser negro e nordestino, Cláudio Nascimento disse que ficou muito orgulhoso ao ver esses dados.
Quanto à orientação sexual dos pré-candidatos, foram identificados 147 gays, 41 bissexuais, 39 lésbicas, 19 pansexuais, três assexuais, além de 84 pessoas heterossexuais, incluindo 41 mulheres trans, 29 pessoas cis aliadas, três homens trans e três não -pessoas binárias. .
Dos 333 pré-candidatos, 327 pretendem concorrer ao cargo de vereador e seis a prefeito. Para Nascimento, isso mostra que a discussão sobre a presença da comunidade LGBTQIA+ nos espaços de poder ainda ocorrerá principalmente por meio do Poder Legislativo, como vem acontecendo. “Nas últimas eleições municipais, elegemos 105 vereadores LGBTQIA+, e nossa previsão para esse pleito é atingir cerca de 200 eleitos, dobrando o número.” Segundo ele, é no Legislativo que se trava a batalha mais dura para tratar das questões LGBTQIA+.
“Você tem a presença da extrema direita fascista nos espaços Legislativos que tentam obstruir qualquer iniciativa que avance na perspectiva de proteção e defesa dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Então, nesse sentido também é um conforto ter essa presença forte no Legislativo.”
Nascimento destacou, porém, que levando em conta os mais de 5,5 mil municípios brasileiros, ainda está longe de comemorar. “Mesmo que o número de candidaturas tenha aumentado, sabemos que é um desafio para as próximas décadas trabalhar na ampliação da representatividade política da comunidade LGBTQIA+, que ainda é pequena em relação à nossa necessidade de representatividade.”
Das pré-candidaturas registradas até agora, o Estado de São Paulo tem o maior número, 81, seguido pelo Rio de Janeiro, com 40; Rio Grande do Sul, com 29; Minas Gerais com 25; e Paraná, com 24. O Estado de Santa Catarina aparece com 17 e Pernambuco, com 16. Ceará e Bahia têm 11 pré-candidaturas cada. Paraíba e Rio Grande do Norte têm dez pré-candidaturas cada.
Os estados de Mato Grosso e Maranhão têm oito pré-candidatos cada; os do Pará e do Espírito Santo, sete cada; e Goiás, Alagoas e Sergipe, cinco cada. O Piauí aparece com quatro e o Amazonas com três. Mato Grosso do Sul e Rondônia têm dois pré-candidatos cada. Os estados do Tocantins, Roraima e Amapá aparecem cada um com uma pré-candidatura.
Quanto à identidade de gênero, 148 dos pré-cadastrados são mulheres (44,4%), sendo 72 mulheres cis e 76 mulheres trans e travestis. Os homens cis totalizam 158 pré-candidatos. Há também nove homens trans como pré-candidatos e 18 pessoas não binárias. Das mulheres trans, cinco se declaram intersexuais. Entre as pessoas não binárias, duas também se declararam intersexuais.
Quanto à escolaridade, o boletim informa que 198 pessoas concluíram o ensino superior; 69, ensino superior incompleto; 47 anos, ensino médio completo; 13, ensino médio incompleto; um, ensino fundamental completo; e cinco, ensino fundamental incompleto. Das pessoas cadastradas com ensino superior, 62 possuem especialização, 33 possuem mestrado e oito possuem doutorado.
Dos pré-candidatos inscritos, 97 são petistas; 67º PSol; 32 ao PDT; 25 ao PSB; 24 à Rede de Sustentabilidade; 16 ao PCdoB; 13 para o PSDB e 12 para o MDB. Dos demais partidos, oito pretendem concorrer ao PV; sete pelo Podemos; seis para Cidadania; seis pelos Progressistas; três pelo Solidariedade e União Brasil. Com duas pré-candidaturas cada, aparecem Agir, Avante e PMN. Os partidos Mulheres Brasileiras (PMB) e Renovação Democrática (PRD) têm apenas um candidato cada.
Do ponto de vista político-ideológico, 207 pré-candidatos declararam-se de esquerda; 67, centro-esquerda; 31, centro; 21, extrema esquerda; três, de direita e de centro-direita, cada; e um, extrema direita.
O Programa Voto Com Orgulho é coordenado pela Aliança Nacional LGBTI+ em parceria com o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ (Rio de Janeiro) e o Grupo Dignidade (Curitiba), e conta com apoio institucional do Sinergia Instituto de Diversidade Sexual de Minas Gerais, do Associação Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, União Nacional LGBT, Rede Trans, Sleeping Giants Brasil, Associação de Famílias Homotransafetivas e Global Equality Caucus.
Os interessados podem cadastrar sua pré-candidatura neste site e obter mais informações pelo e-mail Votocomorgulho@votocomorgulho.org.br.
Também nesta sexta-feira, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e a VoteLGBT, organização da sociedade civil que busca aumentar a representatividade LGBT na política, lançaram oficialmente o site 2024.votelgbt.org com o primeiro mapeamento de pré-candidaturas LGBT a cargos municipais eleições, em todos os estados do país.
A ação faz parte da campanha Cidades+LGBT, que visa aumentar a visibilidade e o apoio aos candidatos LGBT+ nas eleições deste ano. Os dados foram coletados por uma equipe de 16 organizadores em todas as regiões do país. O diretor executivo do VoteLGBT, Gui Mohallem, informou à Agência Brasil que a campanha já mapeou 376 candidaturas. O objetivo das duas entidades é aumentar exponencialmente este número, chegando a 800 pré-candidaturas no final dos trabalhos.
Mohallem disse que a metodologia da campanha difere completamente do mapeamento realizado pelo Programa Voto Com Orgulho. Segundo ele, os dados sobre a população LGBT no Brasil são muito incipientes. “Muito menos para candidatos LGBT.” A meta de chegar a 800 pré-candidaturas é uma estimativa baseada na percepção de movimento: “É uma expectativa. Acreditamos que existam 800 pré-candidaturas por aí. Só saberemos depois que o mapeamento estiver concluído”, acrescentou.
A estratégia do VoteLGBT e da Antra com o mapeamento é mostrar aos partidos que a população LGBT está organizada e se articulando, como movimento, para ocupar cargos na política. “É um alerta aos partidos que farão suas convenções a partir de julho e decidirão efetivamente quem serão candidatos nas eleições e, principalmente, quanto dinheiro essas pessoas receberão”.
Mohallem reforçou que dar visibilidade a essas candidaturas é uma forma de dizer que há um contingente nos partidos que está crescendo e disposto a concorrer. Por isso, reiterou que a meta de atingir 800 pré-candidaturas é mais uma expectativa. O principal objetivo é pressionar as partes.
O mapeamento inclui um questionário para verificar a incidência da violência política, como é o relacionamento com o partido e qual é o faturamento das candidaturas. No final de julho, após as convenções partidárias, a Antra e o VoteLGBT divulgarão um balanço desse processo, informando quantos recursos, historicamente, foram investidos pelos partidos em candidaturas LGBT. “Posso dizer que é muito pouco”, disse Mohallem.
Ele disse que, em 2020, 6% do teto de gastos dos partidos foi investido em candidatos LGBT. O percentual subiu para 10% nas eleições de 2022. Segundo Mohallem, apesar do aumento, ainda há muito pouco investimento nas candidaturas desta população.
Atualmente, o Brasil conta com 29 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e com capacidade de disputar eleições. Porém, as pré-candidaturas mapeadas até agora estão concentradas em 24 partidos e 248 municípios. Até o momento, o Sudeste lidera em número de candidaturas (41%), seguido pelo Sul (24,2%), Nordeste (23,2%), Centro-Oeste (6,2%) e Norte (5,4%).
As cidades brasileiras com maior número de candidatos LGBT são São Paulo, na Região Sudeste (18); Porto Alegre, no Sul (12); Natal, no Nordeste (8); Belém, no Norte (5); e Campo Grande, no Centro-Oeste (3). Um terço das candidaturas mapeadas são de pessoas trans.
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