O saldo das importações de criptomoedas no Brasil pode ultrapassar US$ 20 bilhões este ano, segundo estimativas de economistas. No ano passado, foram US$ 11,7 bilhões, segundo dados do Banco Central.
O Brasil é um importador líquido de criptomoedas – ou seja, os brasileiros importam mais do que exportam esses ativos. A produção de criptoativos depende de um processo chamado “mineração”, que exige equipamentos específicos e muita energia, insumo ainda muito caro no Brasil.
Mas não é por falta de interesse. As importações líquidas brasileiras de criptomoedas aumentaram 59% em 2023, depois de aumentarem 24% em 2022, observa Roberto Secemski, economista-chefe para o Brasil do Barclays. Nos 12 meses até maio, totalizaram um recorde de US$ 15,3 bilhões.
Extrapolando a taxa média de crescimento dos últimos seis meses para o resto do ano, estas importações poderão totalizar 23,2 mil milhões de dólares (1,1% do PIB) em 2024, estima Secemski. Um cálculo mais cauteloso, usando metade desta taxa de crescimento anterior, ainda levaria a US$ 19,2 bilhões (0,9% do PIB) em importações líquidas de criptografia para o ano.
Cerca de 12% da população brasileira (ou 26 milhões de pessoas) tinham criptomoedas em seu portfólio em 2023, observa Secemski, citando pesquisa da consultoria Triple-A. Isso faz do Brasil o sexto maior país em termos de pessoas que possuem ativos criptográficos, como percentual de sua população total.
As compras de criptoativos pelos brasileiros ganharam impulso entre 2020 e 2021, em meio a taxas de juros domésticas muito baixas, com a Selic chegando a 2% ao ano, lembra Secemski. “O interesse dos investidores locais em criptomoedas pode refletir uma preferência pela diversificação de investimentos, alguma forma de dolarização, bem como atração pela velocidade, segurança e baixos custos de transação”, afirma.
Mas o que a criptografia tem a ver com a balança comercial?
Como qualquer outra importação, as compras de criptoativos do exterior pelos brasileiros são contabilizadas na balança comercial apurada pelo Banco Central. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal não inclui criptomoedas em suas estatísticas, pois considera apenas bens materiais (tangíveis) que mudaram fisicamente de propriedade entre não residentes e residentes ou vice-versa.
O problema é que, ao considerar os criptoativos na balança comercial, a balança comercial (exportações menos importações) calculada pelo BC é sistematicamente inferior à medida pela Secex, uma vez que as criptomoedas, no caso brasileiro, pesam mais nas importações do que nas exportações.
A segunda consequência disso é que, ao utilizar a balança comercial incluindo criptoativos, a conta corrente do Brasil (resultado da troca de bens, serviços e renda entre residentes e não residentes no país) também se torna mais negativa.
Tradicionalmente, a conta corrente do Brasil é negativa, porque o país precisa, por exemplo, contratar serviços de fora (como seguros e transporte marítimo) mais do que é capaz de vender seus serviços no exterior, ou também porque há mais brasileiros gastando em viagens no exterior do que os gastos dos estrangeiros com turismo no Brasil. Ou mesmo porque há mais empresas no Brasil enviando lucros e dividendos para o exterior do que o contrário.
A conta corrente é uma das contas que compõem o balanço de pagamentos do país, que é o registro de todas as transações entre os residentes brasileiros e o resto do mundo. A balança de pagamentos inclui não apenas as trocas de bens e serviços, mas também, por exemplo, os chamados “ativos não financeiros não produzidos”, que fazem parte da conta de capital, e os investimentos diretos no país, que estão incluídos na conta financeira.
Não há problema em o país ter um défice em conta corrente porque, por exemplo, está a crescer economicamente e precisa importar mais máquinas ou pedir mais dinheiro emprestado ao exterior, desde que os investimentos estrangeiros diretos no país também sejam significativos e “cobrem” essas despesas . Caso contrário, a balança de pagamentos torna-se negativa e o país precisa de “consumir” muitas das suas reservas internacionais (em moeda estrangeira, principalmente dólares) para pagar esta conta.
Sem reservas suficientes, o país, na forma do Banco Central, perde margem de manobra para agir em caso de crise externa ou de volatilidade disfuncional da taxa de câmbio. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1987, quando o Brasil anunciou uma moratória (suspensão do pagamento de juros da dívida externa), para impedir a perda de reservas.
Há algum tempo, a situação das contas externas brasileiras é considerada pelos economistas como “confortável”. Os défices da balança corrente são moderados e em grande parte cobertos pelo investimento directo no país. Além disso, as reservas totalizam mais de 350 mil milhões de dólares – em 1985 eram 11,6 mil milhões de dólares e, em 1986, pouco antes da moratória, tinham caído quase para metade, para 6,8 mil milhões de dólares.
Mas a diferença entre a balança comercial calculada pelo governo federal (sem criptos) e a do BC (com criptos) gera distorções e incomoda, pelo efeito que tem nas transações correntes.
Como resolver este problema?
A partir de hoje, o BC vai mudar isso. Nos dados de junho, as transações com criptoativos deixam de ser computadas pela autoridade monetária na balança comercial, que faz parte da estrutura da conta corrente, para serem registradas como aqueles “ativos não financeiros não produzidos”, na conta de capital. A mudança segue uma mudança metodológica do próprio Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao contrário dos ativos financeiros (investimentos em ações ou derivados, por exemplo), os “ativos não financeiros não produzidos” são considerados “reais”, mas não resultam de um processo de produção. Não se trata de máquinas e equipamentos, mas de patentes, direitos autorais ou mesmo recursos naturais.
A reclassificação dos criptoativos não altera o resultado global da balança de pagamentos, porque apenas haverá um deslocamento deste número da conta corrente para a conta de capital, mas, mantendo-se tudo o resto igual, reduz o défice nas transações correntes.
Com a mudança, a tendência é que o equilíbrio entre o governo federal e o BC se aproxime.
“Só os criptoativos criariam uma diferença de cerca de US$ 18 bilhões entre o saldo da Secex e o saldo do BC. Essa diferença começou a ficar muito grande”, diz Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre).
A expectativa dos economistas é que não só os dados de junho já apresentem a nova metodologia, mas também que a série anterior do BC seja revista. Segundo Ribeiro, a mudança metodológica deve afetar significativamente os dados de 2017 ou 2018, pelo menos. Antes disso, não há registro significativo de importações de criptomoedas.
Para Ribeiro, ainda há dúvidas sobre como exatamente o BC fará essa mudança.
Por exemplo: haverá tratamento diferenciado para “moedas estáveis” — “moedas estáveis”, moedas digitais lastreadas em outros ativos, atreladas, por exemplo, ao dólar ou ao ouro na proporção de “1 para 1” — e “moedas instáveis” (“moedas não estáveis”, como bitcoin e ethereum)? Ribeiro diz acreditar que deveria haver, porque “são mecanismos ligeiramente diferentes”, afirma.
Além disso, o processo de mineração de criptoativos será contabilizado no balanço de serviços? “Não sei, algumas coisas ainda estão em aberto, espero que [BC] apresentar uma metodologia mais organizada nesta quinta”, diz Ribeiro.
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