Brasileiros convivem com mais estabilidade de preços há exatos 30 anos, desde que o real entrou em circulação. O novo dinheiro permitiu que as pessoas fizessem planos para o futuro e, consequentemente, investissem suas economias em diversos produtos financeiros que surgiram a partir da moeda. No entanto, O período de hiperinflação moldou profundamente a forma como os brasileiros investem até agora.
A circulação do real a partir de 1º de julho de 1994 mudou o cenário da alta generalizada dos preços, que atingiu 4.922% no acumulado em 12 meses em junho de 1994um dia antes do lançamento da moeda. A inflação terminou 1994 em 916% e caiu para 22% em 1995. Desde então, é incomum que a inflação acumulada em 12 meses ultrapasse os dois dígitos.
No início da década de 1990, o poder de compra dos brasileiros caiu quase meio mês depois. Assim, o dinheiro necessário para comprar dois quilos de carne, por exemplo, permitia a compra de pouco mais de um quilo trinta dias depois. O resultado dessa desvalorização acelerada da moeda era visto no supermercado no início de cada mês: carrinhos cheios e longas filas para estocar alimentos na despensa ou no freezer eram uma estratégia para evitar o aumento dos preços antes de serem remarcados.
Neste ambiente, fazer investimentos era um luxo para poucos. Havia apenas 17 milhões de contas bancárias no Brasil em dezembro de 1990, enquanto a população totalizava 146 milhões de pessoas. Isso significa que pouco mais de 10% dos brasileiros acessaram bancosnuma época em que não existiam plataformas de investimento.
Para garantir o rendimento dos investimentos, era comum os correntistas recorrerem diariamente às instituições financeiras porque o dinheiro que estava estacionado perdia valor rapidamente. As aplicações financeiras foram as mais utilizadas e as operações de compra e venda de títulos públicos pelo prazo de uma noite, conhecidas como “durante a noite”, tornou-se um símbolo deste momento. Muito antes, claro, de nascer a plataforma Tesouro Direto, em 2002.
Naquela época de superinflação, os investidores tinham muito menos liberdade para decidir onde investir o seu dinheiro. Além das operações overnight, cadernetas de poupança e ações em bolsa, as poucas opções no menu do aplicativo eram as certificados de depósito bancário (CDB), fundos de ações e de renda fixa dos bancos para os mais ricos e fundos de pensão para funcionários de algumas empresas.
“Era um mercado muito bruto, com ações, fundos de pensão, poupança overnight, poupança e poucas regras para o setor”, afirma. Jorge Siminoex-diretor de investimentos da Viver, dono de um dos maiores fundos de pensão do país. “Os brasileiros não conseguiram economizar dinheiro nem se proteger da inflação. Faltou informação e os poucos que investiram procuraram aconselhamento de pessoas próximas”, afirma.
A caderneta de poupança era o principal produto financeiro da época, mas, assim como hoje, foi um produto ruim em termos de remuneração. “As pessoas perdiam dinheiro constantemente para a inflação, mesmo quem estava na poupança”, afirma Alexandre Espírito Santoeconomista-chefe da Investimentos Wayprofessor e detentor imortal do Academia Nacional de Economia. “A caderneta era um cofrinho onde você colocava moedas com um abridor de latas. Era muito pré-histórico”, diz ele.
Com a inflação galopante, a bolsa brasileira, a atual B3, não estava no radar nem dos investidores estrangeiros nem dos brasileiros.. Até porque a Bolsa do Rio havia encerrado suas atividades no final da década de 1980, após escândalos envolvendo o megainvestidor Naji Nahas, e as pessoas pensavam que a bolsa era um cassino. Além disso, abrir conta em uma corretora de investimentos para operar na bolsa era extremamente difícil, apenas para quem tinha informação.
“Consegui fazer isso só porque trabalhava em uma corretora, mas lembro que para meu pai negociar, ele ligava para a corretora pela manhã para fazer pedidos e a corretora só confirmava no final do dia, porque a exchange interromperia suas operações na hora do almoço”, diz o Espírito Santo.
O Plano Real chegou e os investimentos evoluíram
Então veio o Plano Real, que foi bom para o mercado de ações brasileiro. Porém, nos primeiros dias, aumentou pelo “motivo errado”, diz Simino, ex-diretor da Vivest. “No início, o mercado ficou com medo de que a inflação não fosse controlada com o Plano Real e viu o mercado de ações como um ativo de defesa e proteção de valores. A visão era que esse investimento não fosse confiscado e que as empresas repassassem os altos preços aos consumidores e sofressem pouco”, afirma.
“Mas num segundo momento os acionistas investiram porque perceberam que o Plano Real daria certo e o apetite por investimentos de risco voltou“, ele adiciona. A expectativa era que, com a estabilização, a economia crescesse e as empresas da bolsa aumentassem os lucros e fossem privatizadas, especialmente Telebrása companhia telefônica que tinha o prestígio da Nvidia naquela época no Brasil.
Além das ações avançarem, os brasileiros com mais dinheiro disponível puderam fazer planos e pensar em investir. “A inflação em níveis civilizados mudou a maneira como as pessoas vivem. Eles não precisavam mais correr para comprar comida quando ganhavam um salário e podiam se planejar financeiramente para ter uma vida mais tranquila”, afirma. Flávio Condeanalista de renda variável na Aumentar investimentos. “Principalmente a população de baixa renda teve um ganho enorme de poder de compra, sem que uma doença macroeconômica atrapalhasse suas vidas”, afirma.
A economia mais estável permitiu a evolução da indústria de fundos de investimento e de outros produtos financeirosestados Álvaro Bandeira, consultor financeiro e economista. “Os brasileiros agora conseguiram fazer investimentos e, com sentimento de riqueza, buscaram alternativas entre as aplicações financeiras. A indústria de investimentos ficou mais sofisticada com o Plano Real”, afirma.
Surgiram fundos multimercados, que vinha de fundos commodities e no início investia apenas em ativos brasileiros, porque o mundo era menos globalizado. Depois, o fundos imobiliários e títulos de renda fixa emitidos por empresas. A concorrência entre bancos e gestores de recursos aumentou, até que, Anos depois, as plataformas de investimento chegaram para democratizar os investimentos e mudaram muito esse setor.
Hiperinflação marcou os brasileiros
Embora o Plano Real tenha mudado a economia e aberto as portas para os brasileiros investirem mais, a hiperinflação traumatizou muita gente e deixou feridas na forma como as pessoas investem no Brasil até agora. A aversão a investimentos de risco continuou depois de anos em que os brasileiros tiveram medo de perder poder de compra. E com altas taxas de juros reais (que descontam a inflação) que nunca saíram de cena, É difícil encontrar motivos para abandonar a renda fixa.
“O trauma passou, mas a aversão a investimentos de risco permaneceu. Para muitos brasileiros, comprar imóvel ainda é o melhor investimento”, afirma Simino, ex-diretor da Vivest.
Além desses ativos, a caderneta de poupança também ocupa lugar cativo entre os brasileiros, pois era onde eles confiavam para deixar seu dinheiro na época da hiperinflação, mesmo ela rendendo pouco e tendo sido confiscada antes do Plano Real. “As pessoas têm lembranças e a caderneta estar entre os investimentos preferidos é um resquício dessa época”, afirma Espírito Santo, da Way Investimentos.
Apesar da maior estabilização da inflação, as taxas de juros reais (que descontam a inflação) permaneceram muito elevadas no Brasil. Até hoje estão entre os maiores do mundo, por uma série de motivos que já renderam até livros e são questionados por muitos economistas. Com altas taxas de juros como remuneração de renda fixa, é difícil para o brasileiro ter incentivos para investir mais em risco.
“O Plano Real teve méritos, mas minha maior crítica a ele são os juros absurdos. Ainda estamos pagando a conta de colocar em prática um projeto que conteve artificialmente a inflação com juros tão altos”, afirma. Werner Rogerchefe de investimentos da Trígono. “Ligamos a economia à inflação e matamos o mercado de capitais e o mercado de ações. Os investimentos em renda fixa serão sempre favorecidos dessa forma se não fizermos o dever de casa para ajustar a matemática para controlar a inflação“, diz.
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