O tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, general Mauro Lourena Cidrepassado ao ex-presidente JairBolsonaro“em forma fracionária” e “em espécie”, US$ 68 mil obtido com a venda de dois relógios, parte de um suposto esquema de desvio de joias do acervo público brasileiro. Os investigadores afirmam que quase metade do valor foi entregue ao ex-presidente em setembro de 2022, em Nova York. A informação consta de relatório da Polícia Federal (PF) divulgado nesta segunda-feira (8) pelo ministro Alexandre de Moraesdo Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o documento, o dinheiro foi obtido com a venda dos relógios Patek Philippe Calatrava e Rolex Day-Date18946. Segundo a PF, os recursos foram depositados em 13 de junho de 2022 em conta do BB Americas, com sede em Miami, em nome de Lourena Cid.
“Nos meses seguintes, até meados de março de 2023, os recursos foram repassados, por Mauro Cid e Lourena Cid, em frações e em espécie a Jair Bolsonaro”, informa o documento, com base em declarações de Cid e de seu pai.
Os investigadores relatam que os valores também foram entregues a Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente.
Segundo o texto, o objetivo era “dificultar a detecção, pelas autoridades brasileiras, do retorno de recursos ilícitos ao patrimônio do ex-presidente”. Os recursos obtidos com a venda das demais joias do “kit ouro branco”, no valor de US$ 18 mil, foram trazidos em dinheiro ao Brasil por Mauro Cid e entregues a Bolsonaro, “reforçando o modus operandi do grupo investigado para fazer garantir o produto dos crimes anteriores.
Com base nessas constatações, Bolsonaro, Mauro Cid, Mauro Lourena Cid e Osmar Crivelatti foram indiciados por atos de “ocultação de localização, movimentação e propriedade” das joias do chamado “kit ouro branco” e do relógio Patek Philippe, “ desviados da arrecadação pública brasileira e os recursos provenientes da venda dos referidos bens”.
Segundo a PF, uma dessas oportunidades de entrega de parte dos valores ocorreu em setembro de 2022, em Nova York, quando Bolsonaro participou da abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). A reportagem aponta que US$ 30 mil foram entregues pessoalmente ao ex-presidente na época.
“Mauro Cid confirmou que seu pai, Lourena Cid, entregou cerca de US$ 30.000,00 (trinta mil dólares) em dinheiro a Jair Bolsonaro, por meio de seu colaborador, na cidade de Nova York”, diz o documento.
Segundo a reportagem, a análise dos saques da conta bancária de Lourena Cid aponta uma saída em dinheiro de US$ 37,6 mil entre a data do recebimento dos US$ 68 mil e setembro de 2022. Segundo a PF, o valor é compatível com a afirmação de Mauro Cid de que o Foram entregues US$ 30 mil.
A reportagem também mostra elementos que comprovam que houve um encontro entre Jair Bolsonaro e Lourena Cid em Nova York naquele momento. A análise do extrato bancário de Lourena Cid mostrou um pagamento realizado no hotel onde Bolsonaro estava hospedado e uma foto encontrada no caderno de Mauro Cid mostra o ex-presidente sentado a uma mesa com Lourena Cid e o próprio Mauro Cid.
Além desse encontro em Nova York, Lourena Cid também informou, em depoimentos, que havia repassado valores a Bolsonaro por meio do assessor Osmar Crivelatti em duas ocasiões, em fevereiro e março de 2023. Segundo Lourena Cid, em uma ocasião, Bolsonaro e Crivelatti foi até sua residência em Miami, quando transferiu os valores para Crivelatti e na segunda-feira, o assessor foi sozinho até a residência de Lourena para recolher parte dos valores.
O documento detalha ainda outra fase da operação, quando os assessores de Bolsonaro teriam criado um esquema para resgatar joias vendidas ilegalmente, após a revelação do esquema na imprensa.
Com a possibilidade de uma auditoria do Tribunal de Contas da União ao acervo particular do ex-presidente, a comitiva de Bolsonaro ficou preocupada em recuperar os itens vendidos ilegalmente. O advogado Frederick Wassef foi o responsável pela recuperação do Rolex.
No dia 8 de março de 2023, Cid iniciou negociações com funcionários da loja de Relógios de Precisão, demonstrando interesse em recomprar o relógio Rolex. Porém, Wassef é quem foi escolhido para ir aos Estados Unidos recuperar o relógio.
À PF, ele afirmou que já havia agendado a viagem com a finalidade de realizar atividades turísticas e não com o objetivo de recuperar os itens, mas a reportagem aponta que as passagens foram adquiridas no dia 9 de março e o embarque ocorreu dois dias depois. depois.
“Desde que a apropriação das joias pelo ex-presidente JAIR BOLSONARO se tornou pública, os investigadores iniciaram, a partir do início de março, um intenso movimento, com trocas de mensagens e ligações diárias, para planejar e executar a operação clandestina de recompra e recuperação do joias que compuseram o kit ouro branco e ouro rosa”, afirma o relatório.
Além disso, também fica evidente a troca de mensagens simultâneas via WhatsApp entre Marcelo Camara, Mauro Cid, Osmar Crivelatti, Jair Bolsonaro, Frederick Wassef e Fábio Wajngarten a respeito do caso das joias. A investigação também deixa clara a coordenação majoritária de Cid com os demais participantes do esquema.
Ainda no dia 9, Cid manda mensagem para Camara afirmando que “Vão pedir esse e os outros…”, fazendo referência às joias do “kit ouro branco” que também foram desviadas e incorporadas ao coleção particular do ex-presidente. No dia 11 de março, Wassef e a advogada Thaís Moura partiram para os EUA.
O relógio foi recomprado no dia 14, data em que Wassef recebe uma mensagem de Flávio Bolsonaro que diz “Estou com saudades” e ele responde: “Estou lutando por você com lealdade e comprometimento como sempre”.
“De acordo com o recibo de venda da loja PRECISION WATCHES, enviado através do MLAT, a recompra do relógio Rolex – Day-Date foi realizada pelo valor de US$ 49.000,01, em nome de FREDERICK WASSEF, às 18h39 , horário local (19h39 horário de Brasília/DF)”, afirma a reportagem.
O pagamento foi feito em dinheiro, segundo a PF, com o objetivo de não deixar vestígios da origem dos recursos utilizados e ocultar a movimentação e a propriedade do relógio. “O objetivo, conforme explicado, era repatriar o imóvel sem deixar vestígios de que o Relógio havia sido vendido ilegalmente no exterior pelo ex-presidente Jair Bolsonaro”.
Wassef teve que preencher um formulário exigido pela legislação norte-americana para pagamentos em dinheiro superiores a US$ 10 mil, e apresentou a seguinte justificativa: “Eu pago em dinheiro, porque se eu usar de outra forma, por exemplo um cartão de crédito, o governo brasileiro cobra uma taxa muito.” À PF, ele afirmou que utilizou recursos próprios para efetuar o pagamento.
“Os recursos utilizados para recomprar o relógio Rolex não provieram do patrimônio de Jair Bolsonaro, demonstrando que o ex-presidente da república utilizou ilicitamente lucros obtidos com a venda ilegal do bem desviado da arrecadação pública brasileira”, aponta o texto.
O relatório da PF afirma ainda que Wassef se reuniu com Jair Bolsonaro durante o período em que esteve nos EUA. De volta ao Brasil, no dia 29 de março, Wassef começou a discutir com Cid a volta do Rolex ao acervo público brasileiro. Em depoimento, Cid afirmou que pegou o relógio em Wassef, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo/SP e depois passou o relógio para Osmar Crivelatti.
Crivelatti, por sua vez, destacou que pegou o relógio Rolex e levou para sua casa, para complementar os demais itens do kit ouro branco, no dia 2 de abril de 2023. Das demais joias que faziam parte do kit, ela ficou a cargo de Mauro Cid recompra e repatria os itens.
“Segundo os dados, Mauro Cid fez uma viagem muito curta aos Estados Unidos, pois chegou na manhã do dia 27/03/23 e por volta das 22h do mesmo dia embarcou na cidade de Miami […] chegando na manhã do dia 28/03/2023 na cidade de Brasília/DF. Ou seja, Mauro Cid ficou apenas algumas horas em solo americano, confirmando que viajou com o objetivo específico de recomprar as joias do chamado “kit ouro branco”, afirma a PF.
Os itens também foram entregues a Crivelatti, que afirmou ter levado o kit completo para a secretaria do Partido Liberal (PL) no dia 3 de abril e entregou os itens ao coronel Marcelo Câmara, que, por sua vez, junto com um advogado, levou o kit completo à agência da Caixa Econômica Federal no dia seguinte.
“Assim como ocorreu com a recompra do relógio Rolex de Frederick Wassef, as demais joias do chamado “kit ouro branco” foram adquiridas com recursos de terceiros, no caso em análise, recursos provenientes de Mauro Cesar Cid, sem qualquer registro formal”, destaca o texto.
A PF suspeita que Marcelo Câmara tenha agido para atrapalhar as investigações. Em depoimento prestado em 5 de abril de 2023, ele disse ser o responsável pelo recebimento de todo o acervo particular do ex-agente. Mas, segundo a PF, ele “afirmou falsamente que ‘todo o acervo foi encaminhado para a Fazenda Piquet’”, localizada em Brasília, com o objetivo de obstruir as investigações.
A reportagem diz ainda que Câmara afirmou ter certeza de que as joias não haviam sido levadas para os Estados Unidos, pois estava nos EUA com Bolsonaro e “sabe que elas não estavam lá”.
Reiterando seu objetivo de obstruir as investigações, diz a PF, após a divulgação do caso pela imprensa, o ex-assessor de Bolsonaro negou ter sido abordado por qualquer um dos envolvidos na situação e afirmou que “ninguém lhe pediu para dizer ou omitir qualquer coisa”.
Fabio Wajngarten afirmou, em nota, que foi indiciado apenas por exercer a função de advogado. “Minha orientação jurídica foi que os presentes recebidos pelo ex-presidente da República deveriam ser imediatamente devolvidos ao Tribunal de Contas da União, em defesa de eventuais dúvidas sobre questões de interesse público. E assessoria jurídica não é crime”, diz trecho da declaração.
Na semana passada, Wassef admitiu que trabalhou para recomprar um Rolex vendido nos Estados Unidos, mas disse que esse pedido não partiu nem de Bolsonaro nem de Mauro Cid. “Estive viajando pelos Estados Unidos durante quase um mês e só realizei um único ato, que foi comprar o Rolex com recursos próprios, para retornar ao governo federal”, disse o advogado.
Marcelo Câmara negou qualquer ato ilícito e afirmou que todas as suas ações “foram realizadas com o objetivo de manter total cuidado e zelo com estes documentos, de acordo com a legislação em vigor, sendo incompreensível a sua inclusão nesta investigação”.
Procurada, a defesa de Mauro Cid informou que não comentará. Ó Valor não conseguiu contato com Osmar Crivelatti.
A defesa de Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (8) que o ex-presidente, como chefe do Executivo, “não teve nenhuma interferência, direta ou indireta” na análise dos presentes que lhe foram oferecidos durante seu mandato. O comunicado também questiona a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que o caso deveria ter sido remetido à primeira instância do Poder Judiciário.
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