No próximo mês, Curitiba ganhará uma fábrica piloto de baterias de íon-lítio para carros elétricos. Fruto de uma parceria entre a academia e a iniciativa privada, a iniciativa faz parte de um dos projetos do Instituto Senai de Inovação, criado há 12 anos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial para apoiar a área de pesquisa e desenvolvimento nas empresas.
O Senai já conta com 26 institutos de inovação em funcionamento e dois em fase de implantação, que abrangem áreas de diversos segmentos industriais, como automação, energias renováveis, biodiversidade, biossintética, logística, química verde e sistemas avançados de saúde. “Cada um deles tem profundo conhecimento de uma área de interesse do setor”, destaca Gustavo Leal, diretor-geral do Senai.
No caso da linha de baterias, o projeto interessa sobretudo à indústria automóvel numa altura em que o setor, a nível global, atravessa uma das mais importantes e profundas transformações da sua história, com a eletrificação a desempenhar um papel importante na descarbonização dos transportes.
Quer os carros sejam puramente elétricos ou híbridos, as baterias tornar-se-ão o “coração” das próximas gerações de veículos. E o Brasil ainda depende da importação desse produto.
“Precisamos aprender a produzir baterias; hoje dependemos da China”, destaca Marcos Berton, pesquisador-chefe do Instituto Senai de Eletroquímica. O instituto liderado por Berton é o responsável pelo projeto piloto da bateria, que ocupará uma área de 800 metros quadrados dentro do próprio instituto, em Curitiba. A duração do projeto será de três anos.
Essa “linha de produção” foi criada pelo Senai em conjunto com 27 empresas, entre montadoras como Stellantis, Volkswagen, General Motors e Marcopolo, e fornecedores de componentes como WEG, Moura e Tupy, além de Petrobras, Companhia Brasileira de Alumínio e a brasileira Companhia Metalúrgica e de Mineração (CBMM). Ao grupo também se juntaram diversas startups e empresas que vão atuar no fornecimento de minerais como o fosfato, usado em baterias.
“Pensamos em criar um projeto que envolvesse toda a cadeia”, destaca Berton. Segundo ele, há dois anos empresas começaram a ser procuradas pelo Senai para participar do projeto.
A relevância do projeto da bateria foi confirmada recentemente, quando começou uma onda de anúncios sobre novos ciclos de investimentos nas montadoras envolvendo, em sua maior parte, o desenvolvimento de carros híbridos e, futuramente, 100% elétricos. Somente nas montadoras de automóveis e comerciais leves, os investimentos já somam R$ 115,5 bilhões na década.
A bateria de íons de lítio é uma tecnologia de armazenamento de energia em expansão em todo o mundo porque permite um carregamento mais rápido. Além de carros elétricos, é utilizado em celulares, notebooks e tablets.
A execução desse projeto envolve um investimento de R$ 60 milhões, sendo R$ 45 milhões do Senai e R$ 15 milhões da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Ambas as entidades desembolsaram outros R$ 36 milhões em outro projeto também focado no desenvolvimento de baterias de lítio, em Pernambuco.
Precisamos aprender a produzir baterias; hoje dependemos da China”
– Marcos Berton
Nos últimos 82 anos, o Senai se consolidou como parceiro do setor na área de cursos técnicos. Mas nem todo mundo conhece o Instituto de Inovação, criado com recursos próprios do Senai e outra linha especial de financiamento do BNDES no valor de R$ 1 bilhão.
Com centros de atuação espalhados por vários estados, mas todos com atuação nacional, o instituto reúne 1.350 pesquisadores e já desenvolveu mais de 3 mil projetos de pesquisa, nos quais já foram investidos R$ 2 bilhões. O desenvolvimento do instituto envolveu também uma parceria com a Sociedade Fraunhofer, entidade de pesquisa científica na Alemanha.
Desde então, o instituto busca ser um elo entre a academia e as demandas do setor industrial. Os projetos envolvem parcerias com universidades e diversas fontes de financiamento, como a Embrapii. No caso do setor automotivo, parte importante dos recursos vem de programas governamentais voltados ao setor, como o Rota 2030 e, agora, sua segunda etapa, chamada Mover. As empresas inscritas nesses programas recebem incentivos fiscais em troca de investimentos em pesquisa e inovação.
Para Roberto de Medeiros, superintendente de Inovação e Tecnologia do Senai, o Mover é um dos programas voltados ao setor automotivo que mais tem incentivado a indústria a investir em parceria com a academia. Segundo ele, esse movimento já se refletiu em ganhos de produtividade na cadeia produtiva.
Vários projetos de inovação do Senai já saíram do ambiente de pesquisa e foram para o mercado. Há dois anos, por meio de um projeto encomendado pela Shell, o Instituto de Automação da Produção, da Bahia, desenvolveu um robô para inspecionar equipamentos subaquáticos da indústria de petróleo e gás.
No Instituto Senai de Eletroquímica, uma parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) obteve a certificação internacional de uma folha de alumínio como componente de baterias de íon de lítio.
Durante a pandemia, a investigação científica também ajudou a encontrar soluções para produtos que faltavam no mercado. O Instituto de Biossintética e Fibras trabalhou com a Klabin para encontrar, no derivado de celulose, uma nova fórmula para álcool gel.
E, lembra Berton, em uma ação voluntária, empresas e o Senai conseguiram produzir 50 mil respiradores em 30 dias. “O mundo gira em torno do conhecimento e queremos ser uma extensão da pesquisa e desenvolvimento da indústria”, destaca Leal.
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