As secas, incêndios e inundações deste ano fazem parte de um quadro amplo das alterações climáticas, afirma o Secretário das Alterações Climáticas, Maros. A intensa estação seca em grande parte do Brasil e os números recordes de incêndios não deveriam estar acontecendo agora. Previa-se que eventos climáticos extremos como este se tornariam mais frequentes e agudos em alguns anos. É o que afirma a secretária nacional das Alterações Climáticas, do Ministério do Ambiente, Ana Toni. “Estamos atingindo ‘pontos de inflexão’ [fases críticas das mudanças do clima] muito claro. E este momento chegou muito mais cedo do que a ciência previu. As projeções indicavam que esse tipo de evento extremo, com calor, incêndio, enchentes, começaria a ser mais visto em 2030, 2035. E estamos em 2024”, afirmou ela em entrevista ao Valor. Este ano El Niño e La Niña (fenômenos que alteram a temperatura da água do Pacífico e provocam secas e fortes chuvas em diversas regiões do mundo) afetaram fortemente o Brasil. A tendência é que essa situação piore se não fizermos nada.” Mas a atual forte seca associada às queimadas, bem como as enchentes no Rio Grande do Sul em maio, não são apenas resultado de fenômenos nos oceanos. E, sim, a partir de uma imagem mais ampla das alterações climáticas. “Não podemos necessariamente dizer que tudo o que vivemos este ano continuará nos anos seguintes”, disse ela. “Agora, a tendência é que isso piore se não fizermos nada.” Ela cita, porém, o Plano Climático, documento que deve nortear as políticas climáticas do país até 2035. O plano está sendo elaborado com a participação de 22 ministérios, especialistas e discussões com setores produtivos. As conversas começaram no final de 2023 e agora ganham um cenário trágico devido à seca extrema e aos incêndios florestais sem precedentes em muitas regiões brasileiras. Dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram como neste ano os focos de incêndio superaram em muito as marcas registradas até então. A série histórica utilizada pelo Inpe começa em 1998. No Estado de São Paulo, o número máximo de focos de incêndios florestais registrados por imagens de satélite até então nos meses de agosto havia sido de 2.444. Essa foi a marca de 2010. Em 2022 e 2032, o número de surtos no Estado não ultrapassou 400 em agosto. Mas em agosto deste ano atingiram o recorde de 3.612, segundo dados do Inpe. Agosto e Setembro são os meses mais críticos para incêndios devido ao tempo seco. incêndios Valor Outras regiões Em Mato Grosso, o número de incêndios em agosto voltou ao registrado no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Houve 14.617 incêndios. No ano passado, foram 2.626 cadastrados. Outro estado fortemente afetado pelo fogo neste ano, o Amazonas teve 10.328 incêndios em agosto, segundo dados do Inpe. Nunca, pelo menos desde 1998, os incêndios foram tão numerosos. A pior marca no Amazonas até então era de agosto de 2021: 8.558 focos. Os dados de incêndios no Brasil como um todo também são alarmantes. Em agosto deste ano, o Inpe registrou 68.635 focos de incêndios florestais por meio de imagens de satélite. Em 2023, ocorreram 28.065 surtos. Seca e fumaça são uma combinação prejudicial à qualidade do ar. É uma ameaça para sectores da economia que dependem directamente do ambiente. Agro e mudanças climáticas Em carta enviada esta semana a Ana Toni, representantes e instituições ligadas ao agronegócio destacaram o quanto o setor está sendo afetado pelas mudanças climáticas. “O setor vive da natureza. É o primeiro a sofrer com o que já vem acontecendo”, aponta o texto assinado por representantes de exportadores de soja, produtores rurais, pecuaristas e frigoríficos. “Dependemos do clima. A intensificação do efeito estufa resultou num aumento na frequência e intensidade de eventos climáticos extremos e em mudanças nos padrões de precipitação e temperatura.” Segundo o texto, “o setor sai perdendo com o que acontece”. Entre os signatários estão André Nassar (Abiove, que reúne exportadores de soja), Fernando Sampaio (Abiec, exportadores de carne), Marcello Brito, do Centro Global Agroambiental, Pedro de Camargo Neto (pecuarista) e Sérgio Bortolozzo (Sociedade Rural Brasileira) . O setor de energia hidrelétrica também sofre com as mudanças climáticas. Por um lado, chuvas e ventos muito intensos colocam em risco a fiação dos postes nas cidades, com risco constante de cortes de energia. Por outro lado, períodos de seca muito pronunciados ameaçam a geração de energia devido à redução do nível dos reservatórios de água das hidrelétricas. “Em 2021, por exemplo, tivemos um cenário muito crítico, com uma seca tão forte que afetou o nível dos lagos a ponto de algumas usinas precisarem para sua produção”, lembra Alexei Vivan, diretor-presidente da Brasileira Associação das Empresas de Energia Elétrica. “Este ano, o Operador Nacional do Sistema Elétrico e o Ministério de Minas e Energia estão sendo conservadores e antes que os reservatórios atinjam níveis preocupantes decidiram despachar as termelétricas para reter a água nos reservatórios”, disse. A energia gerada pelas termelétricas é sempre uma opção mais cara para o consumidor – e mais poluente. Em agosto, em entrevista ao Valor, o cientista Carlos Nobre, referência em estudos climáticos no Brasil, disse que hoje todos concordam sobre as causas das mudanças climáticas, todos entendem que é preciso reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas que começa o desacordo quando se trata de definir o que cada sector produtivo precisa de fazer para reduzir as suas emissões e quais as políticas – e custos – que os governos têm de assumir. Na carta que enviou ao Ministério do Meio Ambiente, representantes do agronegócio expuseram uma dessas divergências. Enquanto o governo federal estuda como construir formas de eliminar – ou quase eliminar – o desmatamento ilegal e também o desmatamento legal até 2030, representantes agrícolas questionam a viabilidade de uma meta como essa. O governo também estuda medidas para outros setores produtivos. Marcos Freitas, professor da Coppe – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisas de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, lembra que, apesar dos compromissos e esforços de governos e setores empresariais, a temperatura, o clima global e o concentração de CO2 na atmosfera permanecem em níveis preocupantes. Ele concorda com Ana Toni e diz ainda que o planeta parece viver uma antecipação da ocorrência de eventos climáticos extremos. “Esses acontecimentos estão acontecendo de forma brutal”, define. E lidar com isso exigirá mudanças mais aceleradas em diversas áreas. “Temos que nos adaptar.”
taxa de juros para empréstimo
o que cai na prova da pmmg
como fazer empréstimo no bradesco
bpc loas pode fazer empréstimo
sac banco bmg
bradesco empréstimo consignado
saturação idoso tabela
0