Eliezer Batista tinha apenas 36 anos quando assumiu pela primeira vez a presidência da Vale, em 1961, no início do governo Jânio Quadros. Em uma viagem de dez horas pela Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), no trecho da capital capixaba até Itabira (MG), o deputado paraibano João Agripino, então recentemente nomeado ministro de Minas e Energia, tornou-se convencido de que aquele homem que passou grande parte da viagem lhe mostrando mapas e trazendo ideias originais sobre o desenvolvimento da Vale era o melhor nome para ocupar o cargo de liderança da empresa.
Com 12 anos de experiência já acumulados na empresa, incluindo o cargo de superintendente da EFVM, Eliezer conhecia as deficiências da empresa, então estatal, cujas áreas eram fragmentadas. A ferrovia tinha um “dono”, a navegação era feita por terceiros e a venda do minério era feita por comerciantes ou mesmo concorrentes. O Cais do Atalaia, em Vitória, por sua vez, apresentava sérios gargalos logísticos no escoamento de uma produção maior. Por fim, os norte-americanos, maiores compradores do minério da Vale, vinham perdendo o apetite pelo produto. Ou seja, os riscos económicos para o crescimento da empresa eram evidentes.
Nos quase quatro anos de sua primeira gestão, Eliezer implementou os fundamentos do OK moderno, por apresentar um sistema logístico que integrava mina, ferrovia, porto, navegação e vendas. “Fomos uma das primeiras empresas a atuar num conceito moderno de sistema globalizado integrado, a cadeia de suprimentos”, disse o engenheiro anos depois aos jornalistas Luiz Cesar Faro, Carlos Pousa e Claudio Fernandez, autores do livro depoimento “Conversas com Eliezer” (Conversas com Eliezer) (2005).
Para isso foi necessária a construção de um novo porto. E assim nasceu Tubarão, que mudou o transporte marítimo de granéis sólidos no mundo ao permitir a atracação de navios com peso superior a 120 mil toneladas —hoje, até 400 mil toneladas.
“Tubarão criou um novo paradigma para toda a cadeia produtiva do aço. As siderúrgicas mudaram-se para o litoral, aumentando em mais de cem vezes a produtividade do transporte de minério de ferro. Também revolucionou a própria estrutura portuária global. Os novos portos passaram a ser utilizados simultaneamente para o transporte de grãos e minérios”, destacou a Faro, Pousa e Fernández.
Como define seu amigo, o advogado e ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães, no mesmo livro, Eliezer “inventou” um porto de águas profundas para receber navios de grande calado: “Sua imaginação criativa e sua determinação em dar destino a a mineradora, provocaram uma revolução na tecnologia global de transporte marítimo, que, a partir da introdução dos grandes graneleiros, se espalhou até chegar aos grandes petroleiros”.
Não sou muito a favor de hiperbolismo tropical, mas Tubarão foi a maior revolução na navegação mundial.”
— Eliezer Batista, ex-presidente da Vale, em comunicado sobre os 60 anos da empresa
O “sistema holístico” de Eliezer só foi possível graças a uma parceria estratégica com o Japão. Preocupado em reconstruir sua siderurgia, o país asiático investiu nas ideias do engenheiro. Em abril de 1962, a Vale assinou contrato com um consórcio de dez siderúrgicas japonesas, que previa o fornecimento de 50 milhões de toneladas de minério de ferro num período de 15 anos. “A combinação dos interesses japoneses em reconstruir sua indústria siderúrgica com o nosso desespero em encontrar mercado para nosso produto deu origem ao Tubarão”, disse Eliezer em comunicado comemorativo dos 60 anos da empresa. OKem 2002. No final da década de 1960, com Tubarão em operação, a empresa já exportava quase dez milhões de toneladas de minério de ferro por ano pelo porto — o dobro do volume registrado em 1961. Em 1978, já chegava a 45 milhões e, em 2023, atingiu 82,3 milhões.
O cumprimento do contrato com os japoneses estava condicionado à construção de um novo porto em Vitória, com capacidade para receber navios de grande porte, pesando 120 mil toneladas, inexistentes na época. Na época, a maior em operação no mundo chegava a 30 mil toneladas. Os Liberty, navios que atracavam no Píer de Atalaia, só podiam transportar dez mil. Somente com navios de grande porte o negócio se tornaria viável, mesmo assim eles não poderiam voltar do Japão sem carga. Eliezer teve a ideia e os japoneses criaram o minério-óleo — navio que transportava minério de ferro e voltava carregado de petróleo do Golfo Pérsico.
Com o contrato assinado em mãos, Eliezer saiu em busca de financiamento internacional. Bateu às portas de instituições financeiras nos EUA e na Europa, sem sucesso. “Um grande banqueiro americano disse-me claramente: ‘O seu país não tem crédito e a sua empresa não existe. Além disso, não acredito nessas empresas siderúrgicas japonesas. “Este é um sonho tropical”, responderam alguns; ‘os japoneses só sabem fazer brinquedinhos’, outros desprezavam”, revelou em “Conversas com Eliezer”.
San Tiago Dantas, ministro da Fazenda no governo João Goulart, comprou o empreendimento. Ainda na gestão de Jango, Eliezer Batista assumiu o Ministério de Minas e Energia, acumulando o cargo com a presidência da Vale. O projeto passou então a ser de interesse nacional, garantindo os recursos necessários à sua implementação. Jaws custou US$ 100 milhões e foi entregue no prazo. O engenheiro que o projetou, porém, não participou de sua inauguração, em 1º de abril de 1966. Com o golpe militar, ocorrido dois anos antes, Eliezer foi afastado da presidência da Vale, acusado de ser comunista. Além de ter participado do governo deposto, pesou contra ele a prosaica acusação de falar russo. Poliglota autodidata, falava inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e também russo, que aprendeu com imigrantes ucranianos em Curitiba, onde estudou Engenharia.
O legado de Eliezer além da mineração impulsionou a economia
Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, lembra da liderança do engenheiro em projetos visionários para o Brasil
O que o Porto de Tubarão, Carajás, o agronegócio Centro-Oeste, a indústria nacional de celulose, o gasoduto Brasil-Bolívia e o Porto de Sepetiba têm em comum? Todas as iniciativas são influenciadas diretamente por Eliezer Batista.
“Acompanhei de perto as conversas de Eliezer com outros grandes empresários sobre temas relevantes para o Brasil e para o mundo, que resultaram em projetos visionários”, relata o economista Paulo Hartung, governador do Espírito Santo entre 2003 e 2010 e de 2015 a 2019. Hartung também aponta o transformação que o Porto de Tubarão representou para o Espírito Santo. “O porto tornou-se a base de um pólo industrial, capaz de processar matérias-primas, processo conhecido como pelotização, que criou empregos e acrescentou valor às exportações”, salienta.
Outro projeto que teve grande impacto em todo o país foi o desenvolvimento da indústria de celulose. “A liderança de Eliezer e da geração que o seguiu foi decisiva na modernização das instalações produtivas do estado e do país”, afirma Hartung.
Sempre olhando para o macro e construindo conexões entre áreas promissoras e eixos logísticos, Eliezer também ajudou na construção do agronegócio no Centro-Oeste: a Campo, empresa criada pela Vale para transportar soja do noroeste mineiro, abriu caminho para a nova fronteira do setor, que vai do Mato Grosso do Sul ao Pará.
A visão estendeu-se às ligações que envolvem gás natural. “Nosso conceito previa a construção do gasoduto da Bolívia a São Paulo, sobre o qual já havia alguns estudos”, relata o ex-presidente da Vale no livro “Conversas com Eliezer”.
E foi dessa forma, transformando potencial econômico em oportunidades, que Eliezer consolidou seu legado. “Comparado ao futebol, ele era como o Ademir da Guia”, resume Hartung.
fazer empréstimo no bolsa família online
como quitar empréstimo consignado
refin o que é
refinanciar emprestimo
empréstimo consignado funcionário público
aposentado emprestimo caixa
empréstimo para militar
empréstimo consignado pan