O Brasil é o décimo país com mais mulheres em cargos de liderança (37%), segundo a edição mais recente da pesquisa “Mulheres nos Negócios: caminhos para a equidade”, produzida pela consultoria Grant Thornton. O estudo, que há duas décadas monitora e mede anualmente a proporção de mulheres líderes em empresas de 28 países, revelou também que apenas 8% das empresas brasileiras pesquisadas não têm mulheres em cargos de alta gestão, enquanto 23% dos cargos de CEO cargos em empresas nacionais de médio porte já são ocupados por profissionais do sexo feminino.
Se à primeira vista o panorama apresentado pela investigação parece bastante encorajador, uma análise mais aprofundada do tema mostra-nos que ainda há muito a fazer no que diz respeito à equidade de género no mundo corporativo. É verdade que muitos avanços e conquistas foram registrados nos últimos anos. Prova disso é que, se em 2004 a proporção de mulheres em cargos de liderança em todo o mundo era de 19,4%, vinte anos depois esse número subiu para 33,5%. Crescimento significativo, mas ainda inconsistente e “decepcionantemente lento”, nas palavras do relatório da Grant Thornton.
Segundo a pesquisa, se esse ritmo for mantido, as empresas não alcançarão a igualdade entre líderes masculinos e femininos até o ano de 2053. Cenário semelhante foi identificado pelo estudo “Women in Work Index 2024”, da PwC, segundo o qual seria levará mais de meio século para eliminar as actuais disparidades salariais entre homens e mulheres nos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Como pode ser visto, as organizações precisam de estar empenhadas em acelerar este progresso em direcção à equidade. E a participação activa dos homens é essencial para o bom andamento deste processo. Afinal, é urgente que os líderes masculinos não apenas assumam a responsabilidade por essa mudança, mas também sirvam de exemplo para os demais colaboradores, a partir de decisões e atitudes que fomentem uma cultura organizacional pautada pelo pertencimento e focada no engajamento e participação da equipe. para apoiar esta transformação.
Para que os homens se tornem não apenas aliados, mas embaixadores de causas como a igualdade de género e o empoderamento das mulheres, é necessário estimular a empatia deste público pelas suas colegas mulheres, a partir da compreensão de que a realidade que enfrentam é, em muitos aspectos, diferente do deles.
Neste sentido, é fundamental romper com preconceitos e estereótipos nas mais diversas situações, seja numa sala de reuniões, numa entrevista de recrutamento ou durante uma sessão da comissão executiva da empresa.
Uma postura importante a adotar neste processo é a escuta ativa. Esta atitude é uma grande aliada de uma cultura de inclusão, pois permite o contacto direto com as histórias, experiências e pontos de vista que as mulheres têm para oferecer e partilhar, e que podem ser consideradas nos processos de tomada de decisão. da empresa.
Além dessa abertura à escuta, é preciso demonstrar interesse genuíno e oferecer espaço para que os profissionais expressem suas opiniões, desejos e expectativas. Esse tipo de postura gera um movimento de transformação, pois estimula o diálogo sobre a importância e os benefícios trazidos pela perspectiva feminina, bem como sua capacidade de produzir um ambiente de participação igualitária, favorecendo a geração de novos negócios e mudanças. eficaz na cultura da organização.
Outro ponto relevante é reconhecer e celebrar os sucessos alcançados pelas mulheres, dando-lhes o devido crédito – inclusive financeiro – e destacando, sempre que possível, a importância da equidade na obtenção de bons resultados. Esse tipo de atitude permite que os próprios homens tenham maior consciência das vantagens concedidas aos profissionais do sexo masculino e, a partir dessa reflexão, contribuam para que todos possam obter esses mesmos benefícios de forma igualitária.
Em suma, é urgente que as empresas se convençam de que a diversidade de género no ambiente corporativo é, de facto, uma vantagem para todos. Não se trata de eliminar as vozes e contribuições de um grupo em detrimento de outro, mas sim de agrupá-las, em benefício do bem-estar coletivo. Afinal, além das vantagens económicas, promover uma cultura inclusiva, capaz de estimular e permitir o acesso de mais mulheres a todos os níveis da hierarquia, leva a menores taxas de evasão, a uma maior produtividade e a um maior envolvimento da força de trabalho.
Tudo isto é essencial, pois pessoas competentes e motivadas impulsionam melhorias que vão desde o desempenho financeiro e a inovação da corporação até à sua capacidade de atrair e reter talentos, bem como a eficácia das decisões tomadas pela liderança sénior. Esta transformação, no entanto, só pode acontecer se os homens forem verdadeiramente capazes e empenhados em liderar a questão da equidade de género, assumindo a responsabilidade de provocar esta mudança.
Ao aderirem efetivamente à perspectiva de género nas suas políticas e ações de diversidade e inclusão, as empresas estão a contribuir para garantir que todo o seu público interno – e não apenas as mulheres – tenha uma perceção mais clara do perfil igualitário da gestão e do seu compromisso. com uma agenda orientada pela equidade. Uma liderança que valoriza a pluralidade favorece um ambiente corporativo mais inovador e eficiente. E, enquanto os homens continuarem a ser maioria nos cargos de decisão, é seu dever promover uma cultura que beneficie o coletivo e o empresariado, criando espaço para que outros grupos também tenham acesso a esses cargos de poder.
Mayra Santana Silva é gerente executivo de Recursos Humanos da Volkswagen Financial Services Brasil. Psicóloga formada com pós-graduação em Gestão de Pessoas e Administração de Empresas, possui mais de 15 anos de experiência geral na área, tendo atuado em grandes multinacionais, como HSBC, Renault e Nissan.
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