A Inteligência Artificial vem surpreendendo o mundo com a promessa de uma vida mais produtiva, automatizada e eficiente. Dados da Goldman Sachs Research indicam ainda que, através da otimização de processos e da geração de novos negócios, a tecnologia pode impulsionar o PIB global em até 7% nos próximos 10 anos.
Contudo, as externalidades desta inovação precisam ser discutidas para garantir um desenvolvimento alinhado às práticas ESG [ambientais, sociais e de governança corporativa] .
Começando com eixo ambiental, em que a utilização de água, energia e minerais para viabilizar estes sistemas pode tornar-se um obstáculo à descarbonização da economia e ao combate às alterações climáticas.
De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), só o consumo eléctrico dos centros de dados poderá atingir 1.050 TWH até 2026, quase o dobro da despesa anual da França.
Somente nós NÓS, onde está localizada a maioria dos data centers, o consumo poderá aumentar de 4% para 6% em dois anos. Além disso, a demanda por gás natural no país, segundo a Thunder Said Energy, poderá crescer 8%, sem falar na queima de combustíveis fósseis, que também deverá aumentar.
Outro estudo, encomendado pelo governo britânico e apresentado em maio, confirma que a IA – que gera uma pegada de carbono durante o treinamento de modelos, execução de inferências e na produção de hardware computacional – deve aumentar as emissões de gases de efeito estufa, estimular a mineração e aumentar o volume de produtos eletrônicos. desperdício, que cresce acompanhando a obsolescência tecnológica.
Para não darmos mais um passo atrás na evolução sustentável da humanidade, os custos ocultos e os impactos ambientais têm de estar na agenda.
Aqui, é necessário um debate sobre a substituição de abordagens, implementações e utilizações com utilização intensiva de energia, com particular urgência para modelos generativos, que estão a espalhar-se rapidamente.
Pensando no princípio de “crescimento inclusivo, desenvolvimento sustentável e bem-estar”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – (OCDE), as organizações devem utilizar a IA com o objetivo de obter resultados benéficos, e uma forma de fazer isso é verificar o melhor modelo aplicável com base em sua finalidade e uso.
Do ponto de vista da energia necessária para o processamento dos dados, existem abordagens computacionais menos dispendiosas e alinhadas com o propósito e real valor acrescentado.
Por fim, uma oportunidade para o Brasil, onde, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 45% da matriz vem de fontes renováveis: hospedar modelos em locais capazes de produzir energia limpa.
Como o planeta paga a conta da cara criação e formação, com impacto na qualidade de vida de todos os seus habitantes, o PL 2338/23, que visa regulamentar a Inteligência Artificial no país, já demonstra a preocupação de que o desenvolvimento, a implementação e a utilização desses sistemas baseia-se na proteção e mitigação de riscos ao meio ambiente.
No eixo social, a tecnologia pode ser uma ferramenta para a justiça, o desenvolvimento e a acessibilidade, mas para isso a indústria precisa apresentar respostas eficientes aos vieses algorítmicos, como maior diversidade e inclusão, bases de dados representativas e testes eficientes.
O que também diz respeito à governação. As empresas precisam estar atentas à atuação da Inteligência Artificial, garantindo harmonia entre objetivos estratégicos, valores organizacionais e aplicação. Tal estrutura exige uma abordagem holística, capaz de abranger questões éticas, legais e técnicas desta nova dimensão da realidade, materializando a explicabilidade e auditabilidade dos sistemas de mitigação de riscos e análise assertiva das decisões tomadas.
Não há dúvida de que esta inovação deve ser incentivada, mas sempre pensando na sustentabilidade e na geração de valor social. Afinal, a sociedade civil deve alcançar soluções que beneficiem a todos e incentivem modelos cada vez mais colaborativos.
Sem incorporar práticas ESG, a IA poderia, de facto, conduzir-nos ao futuro diatópico que tantos temem.
Rodrigo Toler é especialista em Direito Digital e Proteção de Dados, mestre em Direito, Economia e Tecnologia pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e advogado sênior do Opice Blum Advogados.
Rodrigo Toler, especialista em Direito Digital e Proteção de Dados e advogado do Opice Blum Advogados — Foto: Opice Blum Advogados/ Divulgação
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