“Depois de quase 20 anos [de carreira]Pedi demissão no ano passado e quase ninguém entendeu o porquê.” O relatório faz parte do vídeo do neurocirurgião americano Goobie (pseudônimo usado em seu canal YouTube), que decidiu abandonar a profissão quando deixou de ver sentido no próprio trabalho. “Acho que isso é o que as pessoas chamam de crise de meia-idade”, diz ele em trecho do vídeo.
Ao longo de mais de uma hora, Goobie conta que se formou em medicina pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das melhores universidades do mundo, e que trabalhou por duas décadas como neurocirurgião com operações focadas na coluna — até ele parou de ver propósito no que fazia.
“Me tornei médico para ajudar as pessoas. No início da faculdade fiz o Juramento de Hipócrates, e lembro de um dos professores mais antigos dizer que nosso trabalho é aliviar o sofrimento, não fazer cirurgias ou dar remédios, mas diminuir o sofrimento. dor dos outros. [Isso] isso pode ser feito com operações e medicamentos, mas também apenas ouvindo e entendendo o que as outras pessoas estão passando”, diz Goobie.
A questão do neurocirurgião é que, mesmo com as mais avançadas tecnologias e técnicas que aprendeu especialmente para sua área, seu trabalho se restringia a “apenas” lidar com os problemas dos pacientes, e não com o que causava a doença.
Apesar de poder ajudar alguns pacientes, Goobie diz que viu “muito mais sofrimento do que poderia aliviar”. O neurocirurgião percebeu que a resposta de seus pacientes à cirurgia foi muito variada, com alguns apresentando bons resultados e excelente recuperação, enquanto outros não apresentaram melhora mesmo após a cirurgia.
Houve também aqueles pacientes que, de uma semana para outra, nem precisaram de intervenção cirúrgica, porque as dores desapareceram — o que o levou a estudar para tentar entender o motivo dessas diferenças.
Dilema moral ou crise de meia-idade?
Goobie diz ter observado que as pessoas que melhoraram geralmente tinham certos hábitos em comum, como: dieta com baixo teor de sal e alto teor de vegetais; praticavam atividades físicas; eles não fumavam nem bebiam muito; tinha amigos e familiares próximos; dormiam aproximadamente 8 horas e não estavam estressados.
Segundo ele, as pessoas desse grupo se recuperaram muito mais rápido que os outros — e às vezes nem precisaram de cirurgia. Mas isso se tornou um problema para ele, relatou Goobie.
“Isso é um problema porque nosso sistema médico [nos Estados Unido] não foi construído para essas práticas. Os hospitais foram feitos para gerar dinheiro, precisam crescer economicamente. O problema é que se você encontrar uma forma de as pessoas se curarem sem remédios, sem cirurgia, sem fazer pagamento, você vai ficar sem emprego”, afirma.
Goobie diz que essas dúvidas e críticas se tornaram um dilema moral que o fez não ver mais sentido em sua profissão. Ele resume: “Vi a medicina focando nos lugares errados, mais preocupada em ganhar dinheiro com cirurgias e remédios”.
Saúde mental e trabalho
Ao longo do vídeo, Goobie diz que a desconexão entre seus valores morais e éticos e o que via em seu trabalho estava causando um impacto psicológico e físico em si mesmo. O médico relata que engordou cerca de 18 kg em poucos meses e que estava com dificuldade para dormir, ficava estressado e irritava-se com mais facilidade.
Desalinhamento, falta de pertencimento ao ambiente de trabalho são alguns sintomas que podem levar o profissional a desenvolver a Síndrome de Burnout, aponta o psiquiatra Pedro Pan.
A Síndrome de Burnout, ou “Síndrome do Esgotamento Profissional”, é um distúrbio emocional com sintomas de extrema exaustão, estresse e esgotamento físico resultante de situações desgastantes de trabalho ou acadêmicas.
Pan ressalta que, caso atendesse um paciente com as mesmas queixas do Goobie, recomendaria que o profissional se afastasse do trabalho e recomendaria acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
“Ele [Goobie] vivenciaram todos os pilares do Burnout, além de citar alguns elementos que sugerem um desgaste profissional muito grande. Ele estava fisicamente indisposto, exausto, ganhando peso, irritado e ansioso. Então, a saúde mental dele ficou muito prejudicada, dormindo mal e comendo mal”, explica Pan.
Mudar de carreira é mais comum do que parece
Especialistas em carreira consultados pelo Valor afirmam que mudar de carreira no meio da carreira profissional é mais comum do que parece — e pode não ter nada a ver com uma “crise de meia-idade”, como Goobie reflete no vídeo.
O caso do neurocirurgião é muito específico. Recebendo altos salários, o médico teve liberdade para pedir demissão sem que isso representasse um grande problema para sua vida financeira.
Porém, para a maioria das pessoas com esse desejo, a vida financeira pode ser um obstáculo na hora de tomar uma decisão radical como mudar de carreira. Ainda assim, os profissionais entrevistados elencam dois fundamentos nos quais as pessoas nesta situação devem se inspirar: que os valores não podem ser negociados e que é possível mudar de carreira mais tarde na vida.
Tamires Cruz, especialista em recolocação profissional, afirma que é preciso ter autoconhecimento das próprias habilidades ao iniciar esse tipo de movimento.
“Se você não vê mais um propósito na sua área, a primeira coisa que uma pessoa precisa saber é que ela não precisa se aposentar dessa profissão e procurar quais são seus talentos e em quais áreas pode se aplicar a eles. conhecimento, estratégia de carreira e profissionalização são essenciais para construir uma nova carreira”, afirma Tamires.
É por isso que a mentora de RH Natália Soares, do Instituto NS, sugere refletir tanto profissionalmente como financeiramente para iniciar a transição de carreira. “É preciso avaliar a sua situação financeira, saber quanto tempo a pessoa pode ficar desempregada ou mesmo as faixas salariais para essa nova carreira”, ressalta.
Decidida a transição, o profissional precisará analisar formas de recomeçar. “[Precisará] Trabalhar em possíveis novas habilidades que a nova área exigirá e [pensar no] networking para entrar no mercado. A maioria das pessoas faz essa transição gradativamente, pois nem todo mundo tem dinheiro para ficar muito tempo desempregado”, afirma Natália.
Essa transição gradual inclui etapas como fazer cursos profissionalizantes, ajustar currículo e redes profissionais (como LinkedIn), análise de mercado e busca de novas vagas mesmo estando no antigo emprego, acrescenta Tamires.
*Estagiário sob supervisão de Diogo Max
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