O pianista, arranjador e compositor Sergio Mendes morreu nesta sexta-feira em Los Angeles (EUA) aos 83 anos. Desde o final de 2023, o músico enfrentava doenças decorrentes de problemas respiratórios.
O pianista, arranjador e compositor Sergio Santos Mendes foi um dos poucos músicos brasileiros que alcançou sucesso duradouro no populoso mercado fonográfico dos Estados Unidos, com uma carreira que durou décadas. Seu nome ganhou notoriedade internacional e passou a ser identificado com destaque entre os mais conhecidos da vertente musical, posteriormente chamada de “samba-jazz” (ou “hard bossa nova”), que surgiu na década de 1960, com forte perfil instrumental. Foi uma linha de criação que trouxe variações na composição e nos arranjos, além da prevalência instrumental, que a distinguiu da intimidade da bossa nova, em evidência desde o final da década de 1950.
Antes de se estabelecer nos Estados Unidos, liderou grupos musicais de diversas formações – trios, quartetos, quintetos – que se apresentaram em Niterói, sua cidade natal. No início da década de 1960, tornou-se presença constante nas casas noturnas do Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, onde se aproximou de intérpretes e compositores da bossa nova, entre eles Antonio Carlos Jobim. Forma o “Bossa Rio Sextet”, que se apresenta em diversas cidades, e grava o LP “Você Além Não Ouviu Nada” em 1964, com arranjos de Jobim, Moacyr Santos e dele mesmo, num estilo samba-jazz.
Com o grupo “Brasil 64”, viajou naquele ano para uma temporada em Los Angeles, e acabou se mudando definitivamente para os Estados Unidos. Gravou dois álbuns, em 1964 e 1965, e se apresentou em outras cidades americanas. Faz parte do grupo a cantora Gracinha Leporace, com quem mais tarde se casaria e o acompanharia ao longo de sua carreira.
Atuando em grupos que formou com músicos brasileiros, como o Brasil 65, conseguiu oportunidades nas gravadoras Philips, Atlantic e Capital, mas sem obter resultados expressivos. Até assinar contrato com a A&M Records, gravadora recentemente criada pelo trompetista Herb Alpert, seu amigo, e gravar o álbum que seria seu primeiro grande sucesso nos Estados Unidos, “Herb Alpert apresenta Sergio Mendes & Brasil’66”, lançado em agosto de 1966. Com esta e outras gravações de “Brasil 66”, da qual participaram as cantoras Lani Hall e Bibi Vogel, sua música tornou-se conhecida internacionalmente.
Colocado em 7º lugar entre 200 listados pela revista “Bilboard”, com mais de um milhão de cópias vendidas, o álbum trazia a faixa “Mas que Nada”, composição de Jorge Ben, da época, no início da década, em que os dois se apresentaram em “boates” do Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro. Foi a primeira música de um brasileiro a aparecer na lista de vendas da revista “Billboard”.
Seguiram-se discos de ouro e platina. Sua popularidade o leva a programas de televisão ao lado de estrelas como Bob Hope, Jerry Lewis, Danny Kaye e Andy Williams. Ele faz turnês com Frank Sinatra nos Estados Unidos e na Europa. Ele também se apresenta no Japão.
Tornou-se recordista de discos de músicos brasileiros na lista de sucessos da “Billboard”, com 14 menções entre o “Top 100” e 3 entre o “Top 10”, pontos altos em uma carreira em que gravou mais de 40 discos de estúdio. álbuns.
Foi duas vezes premiado com o Grammy Latino, principal premiação da indústria fonográfica: em 2005, por “excelência musical” e em 2010, pelo álbum “Encanto”, considerado o melhor pop contemporâneo brasileiro daquele ano. Teve também quatro indicações a prêmios, em 2006, 2008, 2011 e 2015. O álbum “Herp Albert apresenta…” foi incluído no Hall da Fama do Grammy em 2011. Nesse mesmo ano, foi lançado o CD “Celebration” em comemoração. seus 50 anos de gravações.
No CD “Timeless”, de 2006, que produziu em parceria com o rapper will.i.am, conhecido por fazer parte da banda de hip-hop “The Black Eyed Peas”, reuniu convidados famosos, como Stevie Wonder, Justin Timberlake, Jill Scott, Erika Bahdu. É um álbum de estilos diferentes, com bossa nova, samba, hip hop, reggaeton. Foi uma obra que comemorou seus muitos anos nos Estados Unidos. A faixa “Mas que Nada” deu o tom comemorativo.
Em 2012, “Real in Rio”, sua composição em parceria com Carlinhos Brown para o filme “Rio”, do diretor Carlos Saldanha, foi indicada ao Oscar de melhor canção original (o vencedor foi “Os Muppets”, composta por Christophe Beck ).
No início de 2020 ficou pronto o CD duplo “Sergio Mendes: Na Chave da Alegria”, com a participação de Gracinha Leporace, Hermeto Pascoal e dos Americanos Common, Cali y El Dandee, Buddy, Sujar Joans, Shelea Frazer. Foi a sua primeira gravação em cinco anos, coincidindo com a produção de um documentário sobre a sua vida, com o mesmo título, dirigido por John Scheinfeld. A pandemia de Covid levou ao adiamento dos lançamentos nas datas previstas.
Nos anos seguintes, continuou com sua agenda de apresentações em diversos países, inclusive no Japão, onde foi um dos primeiros brasileiros a obter sucesso, em 1968 e depois em novas apresentações que se seguiram ao longo dos anos. Em 2013, para comemorar os 50 anos de shows no país, gravou um CD com nove cantores japoneses.
Nasceu em Niterói, em 11 de fevereiro de 1941.
Em 1992, o niteroiense gravou o álbum “Brasileiro” (que ganhou o Grammy de música mundial), com diversas músicas de Carlinhos Brown, então ainda uma promessa do pop nacional. Duas décadas depois, em 2012, a dupla foi indicada ao Oscar por “Real in Rio”, música feita para o filme de animação “Rio” (2011).
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