Ele morreu nesta segunda-feira (5), aos 68 anos, o ex-meio-campista do Adílio Flamengo. Ele estava internado desde julho em um hospital da Freguesia, em Jacarepaguá, zona oeste do estado. Rio de Janeiropara o tratamento de um câncer de pâncreas.
A morte foi confirmada pelo Flamengo em postagem nas redes sociais. “Hoje nos despedimos do nosso Camisa 8, mas para nossa sorte, assim como o traçado do número eternizado, Adílio é infinito”, escreveu o perfil do clube.
Adílio de Oliveira Gonçalves nasceu e cresceu próximo à sede do Flamengo, na Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Foi morador da Cruzada São Sebastião, conjunto habitacional do Leblon construído em 1955 por influência de Dom Hélder Câmara. O bloco de prédios foi construído para receber ex-moradores da Praia do Pinto, favela entre Lagoa e Leblon que foi alvo de incêndio em 1969, após anos de ameaça de despejo.
Adílio, terceiro dos seis filhos de Dona Laíde Gonçalves, foi, ainda criança, uma estrela do futebol de várzea do bairro. Seu apelido era Pelé. Ainda mais jovem, brilhou nas partidas de futebol defendendo o Sete de Setembro, time da Cruzada, e o Royal, time de futebol de areia da praia do Leblon.
Instigado por seu melhor amigo de infância, Julio Cesar, teve que pular o muro da sede do Flamengo, aos 11 anos, para pedir as primeiras oportunidades na escolinha de futebol de salão. Ele não era membro do clube.
Antes de ser amigo, Júlio César foi antagonista de Adílio nas partidas juvenis — Júlio era da Praia do Pinto e Adílio era da Cruzada. Juntos se profissionalizaram e defenderam o Flamengo nas décadas de 1970 e 1980. O ponta-esquerda Júlio César foi apelidado de Uri Geller, uma referência ao ilusionista israelense famoso por supostamente ser capaz de derramar colheres com o poder da mente.
Adílio foi promovido aos profissionais em 1975, na mesma temporada de Tita e Andrade. Zico e Júnior já estavam entre os profissionais. Anos depois, apareceu o lateral-direito Leandro.
Formação histórica rubro-negra de 1981
Os jovens das categorias de base se tornaram a espinha dorsal da maior geração da história do Flamengo, responsável pelo maior período de conquistas do clube: um Libertadores (1981), um Mundial de Clubes (1981), três Campeonatos Brasileiros (1980, 1982 e 1983) e quatro Campeonatos Cariocas (1978, dois em 1979 e 1981).
Leandro, Júnior e Zico foram titulares da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982. Adílio só foi convocado duas vezes para defender o Brasil.
Camisa 8 lembrado pela impressionante visão de jogo e pelos bons passes e arremessos, Adílio é o primeiro entre os titulares da histórica formação rubro-negra de 1981 a morrer —a escalação que ficou famosa contava com Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
Em 1981, o Flamengo conquistou três títulos — Libertadores, Carioca e Mundial — em 21 dias.
No segundo dos três jogos da final da Libertadores de 1981, contra o Cobreloa, do Chile, no estádio de Santiago, o Flamengo perdeu por 1 a 0 e Adílio foi alvo de uma cotovelada do adversário Mario Soto, saindo de campo com um corte profundo na sobrancelha . .
Três dias depois, na final, no Uruguai, Anselmo, atacante reserva, entrou apenas para dar um soco em Soto e vingar Adílio, sob ordens do técnico Paulo César Carpegiani. O Flamengo venceu por 2 a 0 e sagrou-se campeão.
Na volta ao Rio, Adílio e Anselmo foram os mais comemorados pela torcida, ao lado de Zico.
Na final do Campeonato Brasileiro de 1983, contra o Santos, despedida de Zico antes de sua transferência para a Udinese, da Itália, Adílio roubou a cena e foi o craque. Marcou o terceiro gol e fez uma atuação de gala diante de 155.523 pessoas, naquela que é a partida de maior público da história do Campeonato Brasileiro.
Após o jogo, ele foi para a lateral do campo e jogou a camisa rubro-negra número 8 para os amigos da Cruzada que assistiam ao jogo em geral. “Muitas crianças me perguntaram [um gol] e foi neles que pensei na hora do gol, uma forma de dar-lhes um pouco de alegria no sofrimento e na vida difícil”, disse aos jornalistas após a vitória.
Em 1983, sua história foi contada em um episódio de Caso Verdadeiro, programa da TV Globo que apresentava dramas baseados em fatos reais. É citado na música “Saudação aos Favelas”, de Pedro Butina e Sergio Fernandes, gravada por Bezerra da Silva.
Adílio, Andrade e Leandro foram os remanescentes da geração de 1981 nos anos seguintes. Mas quando o clube conquistou a Copa União de 1987, com Zico de volta, Adílio não fazia mais parte do elenco. Suas conquistas, no entanto, foram marcantes: Adílio é, até hoje, o terceiro jogador que mais atuou pelo Flamengo. Foram 617 jogos oficiais, atrás de Zico (732) e Júnior (875). Em 2019, recebeu busto de bronze na sede da Gávea.
Carreira internacional e futsal
Tornou-se ambulante de bola após deixar a Gávea. Jogou pelo Coritiba, por pequenos clubes de Santa Catarina e do Rio de Janeiro. Fora do país, passou pelo Barcelona de Guayaquil, no Equador, e pelo Alianza Lima, no Peru.
Em 1989, em uma jogada inusitada, deixou o futebol de campo para jogar no futebol de salão. Fez parte da seleção brasileira que conquistou o Copa do Mundo de Futsal em 1989, na Holanda. De volta a campo, encerrou a carreira aos 41 anos, no Barra Mansa, no Rio de Janeiro.
Treinou pequenos clubes do Rio e da Arábia Saudita. Também foi técnico e coordenador das categorias de base do Flamengo até 2008. Em 2010, foi candidato a deputado estadual e não foi eleito.
Em 2020, ficou quase um mês internado com gastroenterite e desidratação. Ele voltou ao hospital este ano, em março, devido a dores na coluna, abdômen e estômago. Ele estava sendo tratado de câncer no pâncreas.
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