Sob o impacto das mudanças nos hábitos de consumo e da concorrência do comércio eletrónico, os centros comerciais têm procurado estratégias para se adaptarem à era pós-covid. Entre as medidas que estão no radar, destacam-se as mudanças no mix, com maior ênfase em alimentação, serviços e lazer e o lançamento de empreendimentos de uso misto, integrando diferentes empreendimentos comerciais e residenciais. Em 2023, o faturamento do setor somou cerca de R$ 195 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). O número ultrapassou os níveis pré-pandemia pela primeira vez.
Mas o crescimento, de 1,5% em relação a 2022, fica abaixo da inflação do período, calculada pelo IPCA em 4,62%. Este ano, as vendas do primeiro trimestre estão 1,7% acima das registradas um ano antes.
Para o presidente da Abrasce, Glauco Humai, o faturamento deve aumentar no segundo semestre. “Vemos um cenário macroeconômico melhor do que o de 2023, com a menor taxa de desemprego dos últimos anos, aumento da massa salarial e possibilidade de queda dos juros um pouco mais”, afirma. Para o executivo, as vendas tradicionalmente mais fortes no segundo semestre e a injeção de dinheiro na economia provocada pelas eleições municipais também devem contribuir para o desempenho nos próximos meses.
Mas a concorrência online ainda pesa muito. “Embora as vendas do e-commerce tenham crescido 77% entre 2021 e 2023, os shoppings ainda não recuperaram o faturamento, em termos reais, de antes da pandemia”, diz Luiz Marinho, sócio-diretor do Gouvêa Malls, com base em dados da Abrasce e NielsenIQ Ebit. Ele ressalta, porém, que o impacto do comércio eletrônico varia muito de caso para caso.
Neste cenário, o crescimento das vendas das maiores empresas de centros comerciais neste primeiro trimestre superou facilmente a média do setor de 1,7%. Na Multiplan, o aumento foi de 10,6%. Na Iguatemi foi de 10,3% e na Allos, de 8,3%. Marinho comenta os números: “Isso mostra o desequilíbrio entre o mercado como um todo e as redes mais estruturadas – não apenas essas três, de capital aberto -, que têm mais investimentos em marketing, eventos, programas de fidelidade, entre outras ações.”
Na avaliação da consultora, o perfil do público também é responsável pela diferença de desempenho, com melhores resultados em shoppings voltados às classes A e B, de onde vêm 18% e 51% dos usuários, respectivamente – quase sete em cada dez frequentadores, os dois grupos juntos.
“A inflação e a redução do crédito impactaram o bolso dos consumidores da classe CDE”, afirma Luciana Medeiros, sócia da PwC Brasil. “Nossa pesquisa mostra que os consumidores desses segmentos gostariam de comprar mais se pudessem ter mais crédito”, diz ela, com base em pesquisa da consultoria e do Instituto Locomotiva. “Então, obviamente, um shopping que é focado nesse público é mais impactado.”
Vemos um cenário macro melhor que o de 2023, com a menor taxa de desemprego”
-Glauco Humai
A situação económica também se reflecte nos projectos do sector. “Com a combinação da pandemia seguida da subida fortíssima das taxas de juros, estamos vendo mais projetos de expansão do que greenfields [novos lançamentos]”, afirma Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail. Mesmo assim, na sua opinião, há espaço para mais empreendimentos. “O número de shopping centers no Brasil não chega a 15% do dos Estados Unidos, o que, embora não signifique que teremos a densidade lá, mostra que temos espaço para crescer”, afirma.
Humai, da Abrasce, prevê que serão inaugurados oito ou nove shoppings neste ano e entre seis e oito nos próximos quatro anos. Tanto nos lançamentos quanto nas reformas e ampliações, a adequação do mix está em destaque. “Mais áreas dedicadas a serviços, lazer, alimentação e bem-estar, bem como espaços interativos, são exemplos de estratégias para direcionar o tráfego de clientes aos shoppings”, diz relatório da Fitch Ratings.
“O que vem ganhando espaço é basicamente o tripé serviços, entretenimento e alimentação”, acrescenta Marinho. Segundo pesquisa da Abrasce, enquanto 43% dos usuários vão aos shoppings para comprar, os outros 57% vão para outra finalidade: lazer (31% do total), alimentação (21%) e serviços (5%).
Alimentação é a categoria mais presente entre as 24,9 mil marcas em shoppings do Brasil, com 18% do total, mostra outro estudo da Abrasce. O segmento desbancou vestuário, líder na edição anterior da pesquisa, em 2014, e é seguido por serviços e conveniência, com 15,4%.
“Esperamos ter shoppings cada vez mais abertos, com conceito de praça, onde haja áreas livres e áreas com restaurantes integrados às lojas, e não aquelas praças de alimentação de antigamente, mais isoladas e com operações todas concentradas”, diz Humai, da Abrasce.
O que vem ganhando espaço é o tripé serviços, entretenimento e alimentação”
—Luiz Marinho
Por isso, é crescente a presença de locais mais requintados para comer. “Algo que antes era impensável, como comemorar um aniversário em um restaurante mais sofisticado de um shopping, agora está se tornando normal”, explica Tadeu Masano, coordenador do centro de excelência em varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Anteriormente em primeiro lugar no ranking dos segmentos mais presentes nas empresas, o vestuário ocupa agora o terceiro lugar, com 15,3% do total, afetado em parte pela concorrência do comércio eletrónico. “Hoje existe uma gama maior de players online que vendem roupas. Todo mundo fala das famosas blusas. Então, claro, isso também impacta nos shoppings”, afirma Medeiros, da PwC Brasil.
Na direção oposta, os serviços ganham espaço e se diversificam. “Hoje temos educação dentro dos shoppings, saúde dentro dos shoppings e uma oferta crescente de atividade física”, diz Serrentino. A área de beleza também está em alta, diz Medeiros. “São negócios ligados à estética, beleza, bem-estar, emagrecimento, tratamento capilar, cuidados com a pele ou pequenas clínicas”, afirma. Segundo a consultora, outra tendência são as grandes estruturas de lazer. “Nos Estados Unidos, por exemplo, já existem shoppings com parques aquáticos e pistas de esqui.”
A integração dos shoppings com centros de convenções, torres comerciais, hospitais e universidades também deverá aumentar, prevê Humai. “Temos casos assim, mas são casos. Acho que agora vão deixar de ser casos e passar a ser mais uma regra”, afirma.
Lojas-conceito e iniciativas de promoção de marcas também devem avançar, afirmam Medeiros e o futurista Álvaro Machado Dias, sócio do Instituto Locomotiva. “Podemos esperar mais experiências de marca e menos experiências de loja no futuro”, afirma Machado Dias. Por isso, ele aposta no crescimento dos espaços expositivos utilizados pelos fabricantes. “Uma marca pode aproveitar os pontos de fluxo para, por exemplo, expor uma geladeira lançada recentemente, que pode ser adquirida online.”
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