Desde que o governo anunciou a devolução gradual do Imposto de Importação sobre carros elétricos e híbridos, o imposto já foi aumentado duas vezes, em janeiro e julho. Mas, até agora, as marcas chinesas, principais importadoras destes veículos, não aumentaram os preços. Para evitar a transferência imediata, estas empresas prepararam-se. Eles anteciparam a importação de grandes volumes de veículos e agora têm estoque suficiente para manter os preços por mais algum tempo.
A Anfavea, associação que representa os fabricantes já instalados no Brasil, reclama da situação. Na semana passada, o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, disse que o nível de estoques de veículos elétricos e híbridos chineses atingiu mais de 86 mil em junho, um dia antes da segunda etapa do aumento de impostos. Segundo o diretor, a quantidade armazenada dava para nove meses de vendas. Esse estoque estaria, ao final de agosto, em mais de 81 mil, segundo Leite.
Desde 2016, os carros 100% elétricos estavam isentos do Imposto de Importação e os híbridos tinham alíquota reduzida. No final de 2023, o governo anunciou que iria retomar gradativamente a tributação. As duas primeiras fases do reajuste ocorreram em janeiro e julho. As taxas passam a ser de 18% para 100% elétricos, 25% para híbridos e 20% para híbridos “plug-in”. O cronograma de aumento de impostos continuará gradativamente até atingir, em julho de 2026, a alíquota máxima, de 35%, permitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Ao perceber que a concorrência chinesa ainda é forte, a Anfavea espelhou decisões tomadas por outros países, como os Estados Unidos, que elevaram a alíquota do Imposto de Importação de produtos chineses de 25% para 100%. Decidiu então enviar um pedido ao Ministério das Finanças para que a taxa do Imposto de Importação sobre os chamados veículos electrificados aumentasse imediatamente para 35%.
Até o momento, o governo não se pronunciou sobre o assunto. Na semana passada, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, discordou ao ser questionado sobre o assunto ao participar de entrevista promovida pela própria Anfavea.
A entrevista continuou depois que o ministro já havia deixado a sede da Anfavea, em Brasília. O mesmo repórter que lhe questionou sobre o imposto fez então pergunta semelhante ao presidente da entidade. Leite disse que o pedido para que o imposto seja elevado à alíquota máxima agora será encaminhado à Câmara de Comércio Exterior (Camex).
O episódio da semana passada intensificou ainda mais a disputa pelo mercado brasileiro entre marcas com fábricas no país e marcas chinesas, que também têm planos de produzir no país, mas, por enquanto, ainda importam. Enquanto a Anfavea representa um lado, os chineses são associados à ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).
Ao comentar os dados de estoque dos concorrentes apresentados pela Anfavea, o presidente da ABVE, Ricardo Bastos, disse que a entidade não tem o número porque seus representantes “têm mais o que fazer além de contar carros”.
Ao mesmo tempo, Bastos não refutou a informação. Ele calculou que o número não deveria estar errado e considerou “natural” que as empresas fizessem estoques num momento em que foi anunciado que o imposto iria subir.
O mercado dos chamados veículos eletrificados – híbridos e veículos elétricos – continua a expandir-se. Com 14,6 mil unidades, incluindo as fabricadas no Brasil, como a linha Toyota, o volume vendido em agosto representou um crescimento de 57% em relação ao mesmo mês do ano passado.
A participação dos veículos híbridos e elétricos ainda é pequena quando comparada ao mercado total. No mês passado foi equivalente a 6,6%. Mas o ritmo de expansão continua acelerado.
Os estoques elevados ajudam as marcas a se tornarem mais conhecidas pelos brasileiros enquanto preparam a produção no país. A BYD pretende começar a montar veículos ainda este ano, com peças importadas, em uma fábrica que está sendo construída em Camaçari (BA), onde operava a Ford. A GWA (Great Wall Motor) prepara a fábrica que adquiriu da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, para operar no primeiro semestre de 2025.
A competição pelo mercado brasileiro de veículos tende a permanecer acirrada, principalmente num momento em que a maior oferta de crédito provoca aumento na demanda.
Em agosto, a média diária de registros totalizou 10,8 mil unidades, a melhor do ano e 19,5% superior à de agosto de 2023, segundo a Anfavea. As vendas internas atingiram 237,4 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Isso representou um aumento de 14,3% em relação ao mesmo mês do ano passado
De janeiro a agosto, o crescimento total do mercado foi de 13,3%, totalizando 1,62 milhão de unidades. No caso dos veículos híbridos e elétricos, no mesmo período foram vendidos 109,2 mil veículos, um aumento de 123% face ao acumulado de janeiro a agosto de 2023.
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