Vivemos numa era de profundas transformações na forma como comunicamos e exercemos as nossas liberdades. As redes sociais revolucionaram a comunicação, democratizando o acesso à informação e à opinião pública. No entanto, este novo paradigma trouxe à luz questões complexas sobre a liberdade de expressão, especialmente no Brasil, onde a proibição do X (antigo Twitter) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) gerou um debate polêmico sobre a censura e o papel do judiciário na regulamento. do ambiente virtual.
O que estamos testemunhando é uma nova forma de censura, semelhante à descrita por André Marsiglia no livro Censura por Toda Parte, onde relata o surgimento de investigações como as Fake News e as medidas legais que afetam a imprensa e o debate público. Tal como a imprensa de Gutenberg no século XV, as redes sociais de hoje enfrentam a repressão por parte das autoridades que vêem este poder como uma ameaça. O poder judicial, com decisões monocráticas e inquéritos confidenciais, tornou-se uma nova instância de controlo sobre o discurso público.
A questão central é que, no mundo real, as regras que protegem a liberdade de expressão são claras e estabelecidas, mas no mundo virtual estamos a lidar com uma zona cinzenta onde a arbitrariedade judicial tem estado presente. As redes sociais, como qualquer outro espaço de vida, precisam de regulamentação, mas esta regulamentação deve centrar-se num contexto “Conheça o seu cliente” (KYC) – identificando quem é responsável pelo conteúdo – e não na censura prévia ou em decisões baseadas no humor ou na personalidade. opinião dos juízes.
A utilização de KYC nas redes sociais poderia transformar o cenário, garantindo que as pessoas sejam responsabilizadas pelas suas palavras sem a necessidade de censura direta. A lei que se aplica ao mundo físico deve aplicar-se ao mundo digital, protegendo tanto a liberdade de expressão como o direito de resposta e a integridade das instituições.
Contudo, o que temos visto é um perigoso movimento de censura prévia, em que o Judiciário extrapola suas funções e atua como árbitro do que pode ou não ser dito. Este tipo de censura tende a perpetuar-se nas democracias modernas, onde o poder não está concentrado numa única figura, mas está distribuído por várias mãos. Quando o STF proibiu X, foi uma demonstração clara de como o Estado pode usar seu poder para restringir o debate público, em nome de um suposto bem maior.
Regulamentar as redes sociais é uma medida não apenas bem-vinda, mas necessária. No entanto, isto deve ser feito sem prejudicar as liberdades fundamentais que garantem a diversidade de opiniões e o debate livre. As redes sociais devem ser espaços onde o direito à liberdade de expressão seja protegido, desde que haja transparência sobre quem fala e de onde vem a informação. Isto só pode ser alcançado através de legislação clara que responsabilize as pessoas sem ser tentada a silenciar aqueles que discordam.
Guilherme Assis é cofundador e CEO da Gorila.
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