A Lei de cotassancionado há 12 anos, estimulou o migração em estudantes em escolas particulares para público no Brasil, buscando facilitar o acesso universidades regulamentado pela política.
A regra de agosto de 2012 garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas universidades federais para quem cursou o ensino médio na rede estadual, municipal ou federal. Nesta reserva, no entanto, estão incluídos outros critérios, como renda familiar Isso é corrida.
Estudo da economista Ursula Mello, pesquisadora do Insper, mostra que o movimento teve maior força no último ano do ensino fundamental, pouco antes do ensino médio. Neste período, o crescimento foi de 31% nas transferências, considerando o período de 2011 – último antes do anúncio da reserva de vagas – até 2016.
Na obra, publicada recentemente no “Journal of Public Economics” com o título “As ações afirmativas e a escolha das escolas”, foi organizada uma equação para demonstrar o aumento.
O cálculo foi baseado em uma metodologia chamada diferenças em diferenças. Compara um grupo de controle, ou seja, pouco afetado pela lei, a um grupo de tratamento, mais afetado pelo evento. Ambos com características semelhantes.
Em seguida, cada amostra é dividida em duas: antes e depois da alteração analisada. Por fim, cruzam-se os números, que dão os resultados, em pontos percentuais. Depois, são ampliados pelo tamanho da população da região, seguindo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Quanto maior a taxa, mais alunos migraram da rede privada para a pública no 9º ano do ensino fundamental. Em 2011, antes da Lei de Cotas, era próximo de zero. Em 2012, apenas alguns meses após o início da política, atingiu 2,9. No final de 2013, já havia saltado para 4,6.
O aumento continuou em 2014, com 6,5. Este foi o mesmo valor de 2015. Em 2016, último ano observado, houve uma queda, atingindo 3,3. Mello tem uma hipótese para isso. “As famílias podem ter começado a se preparar colocando seus filhos em escolas públicas mais cedo”, diz ele.
O aumento médio anual foi de 4,8 pontos percentuais. Convertendo pela fórmula aplicada, isso equivale a um crescimento de 31% em 2016, em relação a 2011.
No pico da fuga, em 2014 e 2015, esta taxa torna-se ainda mais elevada se alguns subgrupos forem isolados, como os não-brancos e as pessoas da classe média baixa de instituições privadas mais pequenas, onde se aproxima de 8.
Foi em São Paulo que Heloísa Bezerra, 24 anos, fez esse movimento. Tendo concluído o ensino fundamental em escola particular, decidiu cursar o ensino médio na rede pública, a partir de 2015.
Moradora da capital, ela até tentou completar a carreira em uma instituição privada, mas limitações financeiras a impediram. Aí surgiu uma ideia: estudar sem pagar mensalidade e investir o dinheiro da família em cursos preparatórios para o vestibular. A existência de cotas foi uma motivação adicional.
Por meio de vagas reservadas para escolas públicas, Heloísa ingressou no curso de Ciências Contábeis da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pretende se formar neste ano.
“Menos difícil, não mais fácil”
A jovem saúda a Lei de Cotas pela oportunidade que teve e por incentivar muitos outros colegas a se formarem. Para ela, a reserva de vagas “tornou menos difícil, e não mais fácil”, seu acesso ao ensino superior federal.
Elisa Cruz, professora de direito civil da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que a Lei de Cotas, como qualquer outra política pública, sempre terá pontos contraditórios. A possibilidade de usufruir do benefício tendo concluído apenas o final do ciclo básico em escola pública é uma delas. Ela, porém, acredita na possibilidade de melhora.
Ela lembra que a primeira experiência com cotas para o ensino superior no Brasil, na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em 2003, adotou um sistema que favorecia estudantes de escolas públicas, sem critérios de renda familiar.
No ano seguinte, uma elevada proporção de estudantes de classes superiores, estudantes de escolas públicas, beneficiou-se de ações afirmativas. Por isso, foram criadas divisões por renda no ano seguinte, tornando o processo mais justo, explica.
“A eficiência da Lei de Cotas, comprovada pela maior diversidade nas salas de aula, supera qualquer obstáculo”, afirma.
Marcele Frossard, coordenadora de programas e políticas da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, concorda com Cruz. “Quando o critério da educação pública não está associado à renda, as famílias de classe média e classe média alta se beneficiam. Podem usar isso para dar acesso privilegiado aos filhos, é trapaça”, afirma.
Algumas universidades reservam vagas para indivíduos oriundos das redes estaduais, municipais ou federais, sem observar critérios socioeconômicos. Eles, no entanto, são uma minoria. A Lei de Cotas foi atualizada pelo Congresso em 2023. Entre as mudanças aprovadas está a inclusão expressa dos quilombolas entre os beneficiários da reserva de vagas em instituições federais de ensino superior e de ensino técnico médio.
O projeto também reduziu a renda familiar mensal máxima para interessados em vagas destinadas a pessoas de baixa renda. Metade deles será reservada para candidatos que comprovem renda familiar de até um salário mínimo (R$ 1.412) por pessoa. Antes era um e meio (R$ 2.108).
A pesquisadora Ursula Mello faz uma avaliação mais otimista dos resultados de seu artigo. “Talvez essa migração seja uma oportunidade para dar mais visibilidade e investimento à educação pública brasileira.”
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