As empresas se sentem prejudicadas por concorrentes regionais que obtiveram liminares que as liberaram de adquirir ativos ambientais. As distribuidoras Ipiranga e Vibra estudam tomar medidas legais para evitar a obrigação de adquirir e retirar Créditos de Descarbonização (CBios) este ano. A informação foi antecipada pela Reuters e confirmada pelo Valor com duas fontes. Procuradas, as distribuidoras preferiram não comentar. Leia mais Partido pede inconstitucionalidade de trechos do RenovaBio Distribuidores já podem reduzir metas do RenovaBio com contratos de longo prazo O movimento reflete a ação de dezenas de outras pequenas e médias distribuidoras, com atuação regional, que foram à Justiça nos últimos meses e obtiveram liminares que bloquearam a obrigação imposta pelo programa RenovaBio de compra de CBios. A primeira distribuidora a realizar o movimento foi a Mar Azul, do mesmo grupo da Petrozara Distribuidora, ainda em 2022. A liminar obtida pela empresa incentivou outros concorrentes, de alcance regional, a recorrerem à Justiça contra a compra de ativos ambientais. Segundo fonte do setor, já foram concedidas mais de 20 liminares favoráveis às distribuidoras. Problema de concorrência Como resultado, os grandes distribuidores nacionais começaram a perder competitividade em vários mercados, afirmaram as fontes, sob condição de anonimato. Segundo uma das fontes, o diesel vendido pelas distribuidoras que continuam obrigadas a cumprir as metas do RenovaBio é até R$ 0,12 por litro mais caro do que o diesel vendido pelas distribuidoras que obtiveram autorização da Justiça. Na gasolina C, a diferença chega a R$ 0,08 por litro. Os valores são estimados com base em estudo realizado pela PUC-RJ contratada pela Federação Nacional dos Distribuidores de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (Brasilcom), que reúne sindicatos distribuidores dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás, São Paulo, Mato Grosso e Pernambuco. Ainda segundo a mesma fonte, a falta de competitividade dos grandes distribuidores é mais acentuada em alguns mercados do Centro-Oeste e Nordeste. “Colapso” do RenovaBio Para um integrante do setor, se a movimentação da Ipiranga e da Vibra resultar em liminares favoráveis, será “o colapso do programa”. Na indústria, a avaliação é que as ações podem pressionar o governo a alterar as regras do RenovaBio – ou, no limite, fazer com que o Judiciário arbitre o problema. Entre as mudanças que as distribuidoras já propuseram ao governo está a transferência da obrigação de compra de CBios para as refinarias de petróleo, que são aquelas que de fato emitem gases de efeito estufa. Nesse caso, o principal obrigado a comprar CBios seria a Petrobras, que detém mais de três quartos do refino do país. Refinaria Riograndense de Petróleo, em Rio Grande (RS), é um dos ativos da Petrobras João Paulo Ceglinski/Petrobras Ajuizamento de ações judiciais por Ipiranga e Vibra ainda está em avaliação dentro das empresas, mas é vista como forma de resolver uma distorção de mercado causada pelo impasse regulatório. Embora tenha crescido o número de pequenas e médias distribuidoras que não cumprem mais as metas do RenovaBio, elas estão protegidas de possíveis sanções que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) possa aplicar. Argumento As distribuidoras de menor porte que até agora obtiveram liminares argumentam que o peso financeiro da obrigação de compra de CBios precisa respeitar a capacidade financeira das empresas. Eles defendem que as obrigações sejam estabelecidas não em número de CBios, como acontece atualmente, mas em um valor financeiro em relação à receita de cada distribuidora. Nas ações, eles oferecem depósito judicial do valor que entendem dever para cumprir sua obrigação no RenovaBio. Se também tomarem medidas judiciais, Ipiranga e Vibra também deverão usar o mesmo argumento jurídico, apurou o Valor. Texto inicial do plugin Contexto das distribuidoras Além das cobranças dos CBios, as distribuidoras de combustíveis também enfrentam o aumento da concorrência com os “devedores reincidentes”, que são aquelas empresas que evadem sistematicamente para garantir competitividade. O problema, que não se restringe ao segmento de distribuição de combustíveis, disparou o alarme em Brasília. No Congresso, onde tramita agora um projeto de lei (PL 15/2024) que beneficia empresas que pagam impostos em dia, reduzindo sua tributação, e pune “devedores reincidentes”. Outro problema que o sector enfrenta é a crescente participação do crime organizado no sector. Recentemente, o governador Tarcísio de Freitas afirmou que o PCC já teria 1.100 postos e até usinas de etanol. Estima-se que 20 distribuidoras do segmento tenham fechado nos últimos dois anos.
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