Uma ferramenta baseada em inteligência artificial ajudou a colocar o Espírito Santo em primeiro lugar na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Alunos da rede pública estadual do Espírito Santo, que obtiveram o 11º ano do país em 2020, alcançaram a liderança na prova de 2022 e repetiram o feito no ano passado, desta vez empatados com Sergipe. Os dados de 2023 foram disponibilizados recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inpe), responsável pelo exame.
Desenvolvida pela startup Letrus, a solução consiste em treinamento de máquinas para oferecer um processo automatizado de análise e correção de redações. Dessa forma, a plataforma ampliou exponencialmente a capacidade dos alunos de praticar a escrita, que até então era limitada pelo tempo dos professores. Diante dos resultados rápidos refletidos nas notas do Enem, outros Estados já contrataram o sistema, como Mato Grosso e Goiás.
“Quanto mais prática [de redação], mais consequências laborais para os professores, o que é, sem dúvida, uma limitação”, explica Luís Junqueira, professor de língua portuguesa e fundador da Letrus. Adepto de um modelo de ensino baseado no exercício contínuo da escrita, acredita que quanto maior o número de textos corrigidos e de esclarecimentos dados aos alunos, melhor será o desempenho. “O professor não precisará mais de três semanas para devolver uma redação para 50 alunos”, acrescenta.
A partir de milhares de redações antigas do Enem inseridas em um banco de dados, a ferramenta foi treinada para identificar padrões textuais e depois criar análises, comentários e sugestões. Além de questões relacionadas à pontuação e estrutura, a tecnologia pode alertar, por exemplo, para a falta de uma proposta clara no texto, a ausência de um agente social, um número exagerado de parágrafos ou o abuso de expressões opinativas, entre outras ações. que custa pontos no teste.
“É importante destacar que este é um trecho específico de uma dissertação focada no Enem. Entender os padrões, recorrências, desvios e estratégias que os alunos adotam na prova”, explica Junqueira, que montou uma equipe inusitada de linguistas e engenheiros para desenvolver a plataforma.
Tradicionalmente, as principais aplicações da IA na educação são os chamados sistemas de tutoria inteligentes (ITS). “Do ponto de vista educacional, os STIs fornecem feedback em tempo real, identificando áreas em que os alunos podem ter dificuldades e oferecendo atendimento direcionado”, definiu recente relatório publicado pelo Centro de Inovação na Educação Brasileira (CIEB).
Com a evolução do aprendizado de máquina, a qualidade do feedback aos alunos também melhora. O fundador da Letrus afirma que há evidências de que algumas correções e observações feitas por robôs já podem ser, em média, superiores às realizadas por humanos, o que poderia abrir uma discussão sobre uma suposta substituição de educadores por máquinas.
Vitor de Angelo, secretário de Educação do Espírito Santo e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), não vê esse problema. Além de destacar o fato de nenhum professor de redação ter sido desligado da rede pública após a parceria com a Letrus, ele disse que, quando o projeto funcionava em poucas escolas, havia disputa quanto à sua implementação. “A melhora nas notas são dados objetivos para mostrar que a tecnologia potencializa o trabalho que o professor faz”, afirma.
Ao concordar com a secretária, Junqueira elenca diversas outras funções que os professores desempenham além de corrigir redações, como orientação e acolhimento, por exemplo. “A tendência é superar [a correção mecânica]. A ferramenta já é maior e capaz de ser menos tendenciosa. É um caminho sem volta, só vai melhorar”, afirma, ressaltando que o foco da discussão deve ser o aluno.
“Dói-me deixar de promover atividades mais práticas porque não conseguiria acompanhar. O desafio é que a próxima geração escreva e leia melhor que a atual. Com a tecnologia também há ajuda nesse processo. Até porque a inteligência artificial é uma representação do ser humano”, afirmou. “E o lápis também é uma tecnologia.”
A tecnologia melhora o trabalho que os professores realizam”
—Vitor de Ângelo
Aprovado no curso de arquitetura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Lucas do Nascimento, 18 anos, utilizou a ferramenta Letrus nos primeiros meses do ano passado, em uma escola pública de Vitória. Pouco depois, porém, ingressou em um curso pré-universitário que oferecia outra plataforma para correção de redações, desta vez por humanos. Apesar de preferir a segunda opção, ele conta que as correções feitas pelos robôs ajudaram muito na evolução de seus textos.
“No curso tive acesso a professores de redação especializados em Enem, então os resultados foram melhores e as correções foram liberadas em dois dias. Mas para quem não tem essa oportunidade, acho que vale a pena a experiência com inteligência artificial”, afirma o estudante.
Para Bernardo Soares, professor de redação e pesquisador em tecnologias e formação de professores da Universidade de Lisboa, ao observar as competências específicas para avaliação da redação do Enem, fica claro que existem regras bem definidas quanto aos aspectos esperados dos alunos, o que leva à tecnologia trabalhar de forma semelhante ao trabalho de um professor, mas em menor tempo e de forma mais atenta.
“Assim, uma IA alimentada e treinada por critérios bem definidos e temas bem formatados pode sim trazer resultados muito positivos, como tem sido o caso, não só no incentivo à escrita e revisão por parte dos alunos, mas também na elaboração de relatórios para acompanhamento dos resultados pelos professores”, diz.
De acordo com o relatório do CIEB, são necessárias novas abordagens para aproveitar o potencial da inteligência artificial de forma segura e responsável no sector da educação. “Para avançar na prática da IA, é essencial considerar a literacia em IA, garantindo que todos tenham acesso equitativo, justo e ético à tecnologia, tendo em conta as desigualdades educativas”, alerta o documento.
Seguindo os resultados do Espírito Santo, os governos de Mato Grosso e Goiás já contrataram a ferramenta Letrus. No caso de Mato Grosso, a política pública desenhada para tecnologia envolve não apenas o terceiro ano, mas todos os alunos do ensino médio. A startup também venceu um concurso da USAid, agência governamental americana de desenvolvimento internacional, para realizar uma ampla pesquisa no Ceará, que avaliará o impacto da ferramenta não apenas no desempenho da escrita, mas também na posterior inserção dos jovens no mundo. mercado de escrita. trabalhar.
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