Aumentar o aprendizado e a conscientização dos brasileiros sobre a questão do racismo estrutural no Brasil. Foi com esse objetivo que a consultora e especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão de gênero e raça Luana Génot idealizou uma Inteligência Artificial (IA) que pudesse responder às mais diversas e íntimas dúvidas das pessoas sobre questões étnico-raciais e sociais. Foi assim que nasceu Deb, consultora e educadora antirracista do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), fundado por Génot.
“Queremos levar a educação antirracista para mais empresas, escolas e governos”, afirma Genót à Prática ESG.
Ela, que participa da Rede de Jovens Líderes Globais do Fórum Econômico Mundial e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, percebeu que em muitos encontros internacionais o tema da tecnologia em geral e da IA generativa em particular estão sendo fortemente discutido, mas ainda não com uma solução para o anti-racismo.
“Já são mais de oito anos falando sobre racismo estrutural e formas de combatê-lo, de educar e conscientizar. Mas percebi que precisava de escala para lidar com o desafio, e a tecnologia pode ser muito útil nisso”, diz ela.
Até agora, a iniciativa vinha sendo apresentada ao público durante algumas participações do Genót em eventos de tecnologia nacionais e internacionais, e foi citada no Prêmio “Sim à Igualdade Racial”, promovido pelo ID_BR e transmitido pela Rede Globo em maio de 2024. Mas , em evento no Cubo Itaú, em São Paulo, nesta quarta-feira (24), o consultor falará, pela primeira vez, sobre as novidades do Deb, que terá uma versão “corporativa”, com plug-in que dá acesso ao consultor virtual em qualquer dia e horário da semana.
Em parceria com o AfroCubo, programa que quer, ao lado de lideranças negras da comunidade, ampliar as possibilidades de ferramentas de inclusão nas empresas. O desenvolvimento da funcionalidade foi feito em colaboração com a Lanum, empresa especializada em Business Analytics.
O objetivo agora é levar a Deb para empresas e escolas. “Cada ambiente pode treinar a Deb para a sua realidade. É um ambiente seguro para os professores pedirem ajuda para montar aulas com conteúdo antirracista, para os profissionais tirarem dúvidas após os cursos de alfabetização racial e para as pessoas da gestão e recursos humanos terem apoio para tomar decisões e tornar suas equipes mais inclusivas”, ele diz. Génot afirma ser um ambiente seguro e aberto para qualquer dúvida.
O desenvolvimento de Deb começou há cerca de um ano, mas, como todas as IAs generativas, o aprendizado é constante. Depois de alguns meses de testes, agora está acessível em um perfil do Instagram. Qualquer pessoa pode enviar uma pergunta para ela pelo chat e em breve receberá uma resposta pelo canal.
O universo de questões que pairam sobre as questões raciais são incontáveis e variados. Isso se reflete nas perguntas enviadas a Deb até agora, que vão desde “o que são cotas raciais”, passando por “qual a diferença entre negros e negras”, até “tenho filhas adotivas com cabelos cacheados; qual creme de pentear usar “.
Mas, ao contrário de outras IAs, como o conhecido ChatGPT, Deb não fica em cima do muro. “Ela é intencionalmente uma defensora da igualdade racial”, diz ela.
Um exemplo que ilustra a diferença é a resposta para saber se as cotas raciais são uma boa ideia. Embora o ChatGPT deixe claro no primeiro parágrafo que se trata de uma tecnologia e não compartilha de opinião própria, limitando-se, portanto, a apresentar argumentos a favor e contra para que o usuário possa tirar suas próprias conclusões, Deb é incisiva ao responder que ter cotas questões raciais é uma boa ideia para diminuir a desigualdade entre negros e brancos no país, trazendo um argumento ou outro.
Outra diferença é o discurso dialógico. Após uma breve explicação (bem mais curta que o ChatGPT), Deb devolve a pergunta ao interlocutor: “É você, o que acha das cotas raciais”?
Génot explica que a IA por si só não resolverá o problema do racismo, mas acredita que Deb pode acelerar o processo de conscientização das pessoas. “O diálogo é fundamental para promover uma sociedade mais justa e igualitária.”
Só na área da educação o potencial é enorme: são cerca de 160 mil professores e gestores educacionais. As empresas, muitas das quais já clientes dos cursos, treinamentos e consultorias do ID_BR, teriam uma ferramenta adicional de educação corporativa. “Já impactamos direta e indiretamente cerca de 700 mil funcionários de empresas ao longo dos anos e mais de 60 mil educadores e gestores escolares e governamentais. Queremos exponencializar o impacto”, afirma Génot.
O custo de acesso ao plug-in da Deb por funcionário, diz o empresário, atualmente gira em torno de R$ 9,90 por pessoa por mês. Génot explica ao Valor que ainda não há contratos assinados com empresas, mas que alguns grandes clientes da área de treinamento estão em processo de validação do processo de integração para assinar o contrato.
A utilização do Instagram como apresentação de IA se deve a dois motivos principais: a proximidade com qualquer público e a possibilidade de fazer de Deb também uma influenciadora digital com voz ativa na agenda racial.
“A ex-apresentadora e cantora Xuxa é uma das embaixadoras da Deb”, afirma Génot.
“Além da IA para tirar dúvidas, ela também pode ser porta-voz da causa, influenciadora da pauta”, comenta. Hoje Deb tem quase 15 mil seguidores. Mas Génot afirma que o objetivo é ter uma aplicação num futuro próximo, para tornar a ferramenta mais profissional. Outro plano é treinar Deb para lecionar em outros idiomas.
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