Embora o ambiente externo tenha dado alguma trégua, depois da forte volatilidade nos mercados no início do mês, o cenário interno ainda é preocupante, alerta o Boletim Macrodo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Isso ocorre porque as chances de estabilização do inflação a médio prazo ainda não são evidentes e a necessidade de Banco Central precisa aumentar você tarifas é colocado sobre a mesa.
“Ainda não sabemos se haverá necessidade de subir [os juros]. Mas o risco certamente é mais de subida do que de uma possível queda pela frente”, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro. “Talvez, se houvesse um política fiscal mais consistente, sem que a credibilidade das metas inflacionárias seja prejudicada, poderá haver espaço [para reduzir os juros] que perdemos por razões internas.”
O boletim adianta que agosto parece caminhar para um “final feliz”, depois de o índice de volatilidade da bolsa americana (S&P 500) ter atingido no início do mês o seu valor mais elevado em quatro anos. O cenário atual inclui uma melhora na situação inflacionária nos Estados Unidos, uma indicação de que o Federal Reserve (Fedo banco central dos EUA) poderá começar a cortar as taxas de juro no próximo mês.
“A perspectiva de cortes a partir de setembro traz alívio aos ativos dos países emergentes, como bolsas de valores e moedas. Alívio que chega em boa hora”, destaca a edição de agosto do Boletim, lembrando que, após atingir R$ 5,76 no dia 5 de agosto, o câmbio caiu abaixo de R$ 5,5 desde 12 de agosto. . “Tanto factores externos como internos explicam estes movimentos.”
Ao contrário dos EUA, o Brasil vive um período de forte e desemprego em níveis baixos, devido ao mercado de trabalho aquecido, o que contribui para um cenário inflacionário.
Segundo o FGV Ibre, os dados do mês de junho e as previsões para o mês de julho reforçam esse quadro. O índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) de junho subiu 1,4%, acima das expectativas do mercado. Como resultado, o Boletim Macro reviu a sua previsão de crescimento económico para o segundo trimestre, face ao primeiro, de 0,7% para 0,9%. Para 2024, a projeção de crescimento do PIB passou de 2,2% para 2,3%.
O estudo deste mês destaca que tanto o consumo quanto o investimento das famílias devem ter destaque no segundo trimestre, o que tende a resultar em crescimento significativo da demanda interna.
A taxa de desemprego, por sua vez, continua em queda e atingiu 6,9% em junho, a mais baixa desde 2014, movimento no sentido oposto ao dos EUA. A robustez do mercado de trabalho traduziu-se num crescimento do rendimento nominal de cerca de 10% nos últimos 12 meses, o que resulta em 6% em termos reais, incluindo uma taxa de inflação anual de 4%.
No Boletim, porém, Matos e o economista Armando Castelar Pinheiro afirmam que, diante da forte desvalorização do real, o agravamento do cenário inflacionário está consolidado. O FocoO relatório semanal de expectativas do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (19), mostrou aumento nas expectativas de inflação para 2024. A mediana das projeções dos analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 4,20% para 4,22%. Para 2025, houve queda de 3,97% para 3,91%, enquanto para 2026 a projeção permaneceu inalterada, em 3,60%.
“Algo que chama a atenção é que as expectativas de inflação pioraram não só no mercado financeiro. O Banco Central lançou a pesquisa Firmusque visa aumentar as expectativas das empresas em relação à economia. No total, 92 empresas não financeiras reportaram as suas expectativas relativamente ao desempenho da economia e da inflação. As medianas das expectativas de inflação foram consistentemente superiores à mediana correspondente da pesquisa Focus: 4% em 2024, 4% em 2025 e 3,70% em 2026”, escrevem Pinheiro e Matos, no Boletim.
“Esses choques externos corroboraram a necessidade de a autoridade monetária se manifestar, destacando fatores de risco externos, como a desaceleração da economia mundial, e também internos, que amplificam [pressões inflacionárias]”, argumenta Matos. “Tudo sugere que teremos uma inflação maior e mais persistente.”
O Boletim lembra que, apesar da atividade aquecida, a má notícia é que, após um ciclo de queda, a taxa básica de juros Selic estacionou em 10,5%. “E tudo indica que não voltaremos tão cedo a um ciclo descendente, com risco muito elevado de ter que aumentar os juros em setembro”, alerta o texto.
O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV Ibre, argumenta que são claros os sinais de que o Copom promoverá um aumento da Selic, provavelmente em 50 pontos-base, na reunião do próximo mês.
“O BC arriscará sua reputação se optar por não alterar a Selic, a menos, é claro, que haja uma reviravolta importante no cenário atual. Dada a possibilidade de que a provável flexibilização monetária nos EUA traga algum alívio às pressões inflacionárias internas, via câmbio, é bem possível que o BC decida elevar a Selic sem se comprometer com novos aumentos, deixando os próximos passos condicionados à desdobramentos não só da flexibilização da política monetária nos EUA, mas também das nossas próprias questões fiscais”, diz Senna, na parte de política monetária do Boletim.
Na secção sobre a atividade económica, o Boletim assinala ainda que no segundo trimestre de 2024 a economia superou as expectativas e resistiu ao impacto da tragédia no Rio Grande do Sul.
Embora o desastre tenha causado danos significativos, o seu impacto foi menor do que o esperado, destaca o FGV Ibre.
“Os efeitos do desastre gaúcho acabaram sendo totalmente compensados pelo resultado positivo do segundo trimestre. No início de junho reduzimos a projeção de 2024 para 2% e, agora, com todos os dados, revisamos para 2,3%.”
Para o segundo trimestre, a projeção é de crescimento de 2,9% da economia brasileira, em relação ao primeiro, com contribuição de 2,7 pontos percentuais (pp) para o PIB cíclico – o mais sensível às oscilações da política monetária – e 0,2 ponto de PIB exógeno – menos influenciado pelos juros.
Com dados sobre a aceleração da indústria manufatureira em Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), o FGV Ibre elevou a projeção de que o setor crescerá 1,1% no segundo trimestre, ante o segundo, para 2,1%. E de 2,5% na variação anual para 4%. Por outro lado, as estimativas do indústria extractiva passaram de -4% para -6,3% no segundo trimestre, em relação ao anterior, e de 1,5% para 1%, na variação anual.
A projeção para o serviços passou de 0,3% para 0,5% no segundo trimestre, em relação ao primeiro, e de 2,5% para 2,7% em relação ao mesmo trimestre de 2023.
Outra revisão realizada pelo FGV Ibre foi a projeção de consumo domésticoque passou de 0,2% para 0,6%, em termos trimestrais, e de 3,4% para 3,9%, em termos anuais.
“A atividade é mais forte do que o esperado. Mas não existe almoço grátis em economia. Atividade mais forte não é inflação se houver um contexto de ociosidade, de capacidade de aumentar a produção sem ser inflacionário. Mas este não é o nosso caso”, afirma Matos.
Na parte sobre inflação, o Boletim afirma que a expectativa para agosto é de desaceleração, com possibilidade de deflaçãoà medida que a pressão dos preços administrados diminui. Mas alerta: “Mesmo assim, fatores como o aquecimento do mercado de trabalho e a volatilidade cambial sugerem que a inflação poderá encerrar o ano na casa dos 4,2%”, diz o texto, destacando a resistência da inflação em ceder.
“Temos que utilizar todos os elementos à disposição do BC. [Contudo]ainda há dúvidas de que a autoridade monetária fará o que for necessário para trazer a inflação para a meta”, afirma Matos. “Por que as pessoas acreditam que em 2027 a inflação será de 3,5% e não de 3%? Até o próximo ano, as projeções dão conta de possíveis choques e não se trata tanto de falta de credibilidade. Mas para 2027 não faz sentido [pensar em inflação acima da meta] se não [um problema de falta de] credibilidade.”
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