O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, fez declaração considerada dura contra a inflação, reconhecendo que o período complicado de volatilidade “acima do normal” traz “cenário desconfortável para autoridade monetária alcançar o objetivo.”
Foi a primeira declaração pública de um dirigente do BC sobre política monetária após a última reunião do Copom e a piora dos mercados globais. Pela manhã, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, participou do evento, mas não comentou o cenário econômico.
O grau de preocupação de Galípolo, visto como possível sucessor de Campos Neto, com a inflação provocou novo aumento nos juros futuros — a taxa DI para janeiro de 2026 passou de 11,52% para 11,645%. O diretor enfatizou que a projeção de inflação de 3,2% no horizonte relevante, atualmente o primeiro trimestre de 2026, está acima da meta e apontou mais uma vez para a necessidade de os novos diretores do BC ganharem credibilidade.
“Foi claramente explicado nesta ata [divulgada na terça-feira] que, de 3,2%, é uma interpretação do Copom de que você está acima da meta”, disse o diretor. Além disso, para ele, “cabe a nós, os novos dirigentes, ganhar credibilidade na sociedade”. Galípolo participou do 15º Congresso Brasileiro de Cooperativas de Crédito (Concred).
Galípolo destacou que houve um debate sobre se o BC entendia que o cenário atual estava “ok e esperava não ver deterioração” ou se entendia que o cenário era desconfortável e esperava uma melhora nas variáveis que influenciam a inflação para atingir convergência para o alvo. “Eu me alinho com a visão do segundo cenário. É um cenário desconfortável para a autoridade monetária atingir a meta. As coisas como estão hoje representam um cenário desconfortável.”
O diretor ainda destacou que a definição de que a projeção de 3,2% está “acima da meta” é importante porque, em alguns momentos, foi utilizado, na linguagem do Copom “que uma projeção de 3,1% estava em torno da meta ou em torno da meta”. .”
O diretor disse que era normal que surgissem dúvidas sobre o que significava “ao redor” ou “ao redor” da meta. “É importante dizer que, em nenhum momento, isso significou leniência no cumprimento da meta de 3%. De forma alguma a faixa é utilizada para reduzir o esforço da política monetária”, destacou.
Em seu discurso, Galípolo mencionou que diversas análises de bancos e investidores passaram a estabelecer uma correlação entre taxas de câmbio, inflação e a função de reação da política monetária. O diretor disse que o impacto da taxa de câmbio na inflação atual e nas expectativas é “conhecido e reconhecido”, mas que “seria um erro” estabelecer a reação mecânica entre a taxa de câmbio e a política monetária.
O diretor explicou que o repasse cambial para a inflação depende de uma série de condições e há vários outros pontos de preocupação levantados pelo BC. “Para dar um exemplo, um agente compareceu a todas as reuniões desde que entrei, destacando o dinamismo do mercado de trabalho e o crescimento económico tem sido uma surpresa repetida.”
Galípolo destacou que a inflação dos serviços é importante não só pela maior inércia, mas também porque “os serviços não podem ser importados”. Assim, serviria como referência sinalizadora adicional sobre a trajetória da inflação.
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