Depois de ser o ministro civil mais influente em 21 anos de ditadura militar (1964-85), Antonio Delfim Netto, falecido hoje aos 96 anos, tornou-se uma das figuras mais respeitadas do mundo econômico brasileiro no período pós-redemocratização , tornando-se peça-chave no Congresso Nacional e no apoio a governos que enfrentavam turbulências.
Deputado federal que cumpriu cinco mandatos consecutivos sem nunca ter subido ao pódio para discursar, Delfim era um parlamentar procurado por diversos atores por sua “influência como formador de opinião” no andar de cima, como disse ao Valor o ex-deputado e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, que foi seu colega em Brasília durante a Constituinte.
Como conselheiro e até fiador político, o economista teve papel crucial na estabilização do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006) e na chegada de Michel Temer à presidência em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff (PT). .
Com Lula, que o contatou inúmeras vezes por telefone, o relacionamento chegou a ponto de Delfim quase retornar ao governo federal como ministro no início do segundo mandato, em 2007, o que acabou não acontecendo. Ministro da Fazenda nomeado por Lula após vencer a primeira eleição em 2002, Antonio Palocci foi o responsável por fazer a ponte entre os dois.
“É meio irônico. Para nós, Delfim simbolizava o cara da ditadura e o cara com o aperto salarial das greves do final dos anos 1970. E com o passar do tempo houve aproximação e até identificação”, disse ele ao Valor Gilberto Carvalho, que foi ministro próximo de Lula – ocupou a Secretaria-Geral da Presidência – nos seus dois primeiros mandatos e que acompanhou de perto o diálogo entre eles, quase sempre sobre questões fiscais.
“Palocci insistiu, mesmo fora do governo, que o diálogo continuasse”, acrescenta Carvalho. “Lembro-me de ter ficado muito assustado quando ouvi essa história [a proximidade de Lula e Delfim] pela primeira vez. Mas ele também teve muita coragem em apoiar e assumir o governo num momento muito ruim. Por isso Lula agradece.”
Segundo Nelson Jobim, que também foi ministro da Defesa de Lula, o presidente apreciava muito a sinceridade de Delfim, que “falava as coisas sem engano”.
Gilberto Carvalho e outros membros do PT reconhecem o papel de Delfim Netto na consolidação do poder e autoridade de Palocci como Ministro das Finanças. Anos depois, durante a investigação da Lava-Jato, Palocci foi apontado pela Polícia Federal como “porta-voz” de um pedido de propina de Delfim relacionado à construção da Usina de Belo Monte. Também investigado na operação, Delfim negou irregularidades e disse que recebia pagamentos das empreiteiras envolvidas por serviços de “consultoria”, atividade que exerceu após deixar o Congresso, em 2007.
Com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a relação era mais distante. FHC, pessoalmente, era mais próximo de Roberto Campos, outro economista que serviu à ditadura. Do PSDB, o político com quem Delfim Netto sempre teve maior proximidade foi o ex-senador, ex-prefeito e ex-governador José Serra, relação que também se estreitou após a Constituinte.
“Acho que foi ciúme por causa do Plano Real. Apoiou o Brasil, mas o apoio a FHC foi moderado. É aquela coisa, os príncipes costumam se antagonizar. Afinal, os dois são da mesma geração”, afirma o ex-deputado federal Roberto Brant, que foi colega de Delfim na Câmara no mesmo período, ambos cumprindo mandatos entre 1987 e 2007.
José Genoíno, outro deputado que atuou na Constituinte e que conviveu como líder do PT com o ex-czar econômico da ditadura no Congresso, lembra que, apesar de nunca ter subido à tribuna para fazer um discurso, o então deputado foi o “o primeiro a chegar para as discussões plenárias e o último a sair”.
“Eu disse ao Delfin que ele era um economista da burguesia brasileira que nunca escondeu suas posições. Ele sempre ria. Dialogou com pessoas antagônicas, não foi truculento nem maniqueísta. E muito culto. Ele nunca se arrependeu de seus atos durante a ditadura, que disse ter sido fruto de uma situação histórica”, lembra.
Genoíno menciona o aspecto liberal do economista, que incentivou discussões no Congresso sobre a agenda aduaneira como forma de “arejar” a Casa.
O trabalho com alguns colegas constituintes – caso de Serra, Brant e Jobim, por exemplo – tornou-se mais próximo e teve influência nacional em 2016, durante as discussões que levaram ao impeachment de Dilma da Presidência, abrindo caminho para o vice-presidente, Michel Temer , outro deputado constituinte, assume o governo.
Durante essa crise, Temer – que reconheceu em nota na segunda-feira o papel de Delfim como “assessor” – deixou Brasília e viajou para São Paulo para se reunir com Delfim, que trabalhou no desenvolvimento do programa econômico intitulado “Ponte para o Futuro”.
“Ele foi o fiador do projeto, tinha respeito e acesso à classe empresarial, ao setor produtivo, mais que ao mercado financeiro”, comenta Brant. Jobim concorda: “Não tenho dúvidas da influência dele, Michel entrou no governo muito enfraquecido”.
Um dos últimos movimentos de Delfim Netto na política, que se tornou público nas eleições de 2022, foi o apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos) – até então um tecnocrata que nunca havia disputado uma eleição – para concorrer ao governo de São Paulo. O atual governador recordou esta segunda-feira, ao homenagear Delfim, a conversa decisiva que teve com o “professor”.
“Você vai vencer. Tem o que os paulistanos gostam: delivery”, teria dito Delfim, que o aconselhou a procurar Gilberto Kassab. Então foi feito. Kassab, desde então, é um dos principais aliados do governador, atualmente comandando a Secretaria de Governo do Executivo Estadual.
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