Você já deve ter ouvido essa frase sobre FIIs. Geralmente repetido com certo tom depreciativo. A afirmação está errada porque o Os FIIs têm entregue retornos de renda fixa, mas com risco também semelhante ao dos ativos de renda fixa. No Brasil com altas taxas de juros, esse desempenho pode ser invejável.
Na verdade, essa classe de ativos é considerada no meio acadêmico como híbrida, por se tratar de renda variável, mas com características semelhantes às da renda fixa.
Uma breve revisão dos conceitos antes de prosseguirmos. Quando um investimento distribui renda, a diferença entre ser fixo ou variável será a fonte da renda. Se for proveniente de juros cobrados de um empréstimo, o rendimento será fixo, sem depender da existência de lucro. Se for proveniente da participação no negócio, como é o caso dos fundos imobiliários, o rendimento estará condicionado à existência de lucro e variará em função do seu porte. Em ambos os casos, o preço dos ativos irá flutuar ao longo do tempo. Preço é diferente de renda e tudo que pode ser negociado oscila de preço, independente de ser um ativo de renda fixa ou variável.
E por que os FIIs atrapalham? Porque o lucro tende a variar pouco. Os fundos que adquirem imóveis para arrendamento, em condições normais, apresentam receitas (aluguéis) e custos operacionais relativamente estáveis. Como resultado, os lucros variam pouco. Nos fundos de papel, os lucros variam mais no curto prazo, por conta dos indexadores, mas são originados de títulos de renda fixa, que tendem a entregar resultados previsíveis.
Analisando o histórico de risco e retorno das diversas classes de ativos, percebemos que o desempenho dos fundos imobiliários tem se aproximado da renda fixa, tanto em termos de retorno quanto de risco. Para visualizar esse binômio (dupla inseparável de investimentos) é necessário utilizar um gráfico de dispersão. Nele, o retorno é representado no eixo vertical e o risco no eixo horizontal. A posição de cada bolinha marca o ponto exato de quanto retorno um ativo entregou com quanto risco, aqui medido pela variação dos retornos do ativo (desvio padrão dos retornos).
O lugar dos sonhos nesse tipo de gráfico é uma bolinha bem para cima e para a esquerda (alto retorno com baixo risco). Algo que não deveria existir na prática, mas acontece que estamos no Brasil e existe aqui. É a bola do CDI.
Em teoria, os ativos com mais risco deveriam proporcionar mais retornos. Assim, quanto mais à direita a bola estiver localizada (maior risco), mais alta ela deverá ser (maior retorno). E quanto mais à esquerda (menor risco), mais abaixo (menor retorno). Acontece que nem tudo acontece como na teoria. Ainda mais no Brasil, que pratica juros elevados por longos períodos.
Comparei o retorno mensal dos principais indicadores de renda fixa e renda variável. CDI, IMA-B 5+ (representa carteira do Tesouro IPCA+ com prazo superior a 5 anos) e índices de fundos imobiliários (IFIX), ações amplas (IBOVESPA B3), ações que melhor pagam dividendos (IDIV) e ações de empresas de menor porte (SMLL), de 2011 (quando o IFIX começa a ser calculado) até julho de 2024. Temos a seguinte disposição:
Retorno e risco
CDI | IFIX | IBOV | IDIV | PEQUENO | IMA-B 5+ | |
retornar | 0,74% | 0,74% | 0,37% | 0,76% | 0,21% | 0,87% |
risco | 0,28% | 3,10% | 6,36% | 6,26% | 7,04% | 3,02% |
Todos os retornos são brutos, ou seja, não consideram impostos ou custos operacionais.
O CDI entregou rentabilidade média de 0,74% ao mês com o menor risco de todos. Trata-se de uma verdadeira fraude, que distorce todo o mercado financeiro nacional, mas é fato que existe e é difícil de ser vencida.
O IMA-B 5+ entregou retorno médio de 0,87% ao mês, com maior risco (desvio padrão de 3,02%). Para um título de renda fixa é um retorno muito alto, mas com risco que equilibra melhor a relação retorno e risco. O IFIX entregou rentabilidade média de 0,74%, praticamente igual ao CDI (acima em casas decimais) e abaixo do IMA-B 5+, com risco um pouco superior (3,10%). Portanto, retorno e risco semelhantes aos títulos do Tesouro IPCA+ de longo prazo.
Os índices de ações apresentaram riscos muito maiores. Observe como todos os pontos aparecem mais à direita no gráfico. A carteira com melhor retorno foi a dos melhores pagadores de dividendos, com média de 0,76% ao mês, mas com risco de 6,26%. O IBOVESPA B3 entregou rentabilidade média de 0,37% ao mês com risco de 6,36% e o índice Small Caps entregou rentabilidade de 0,21% ao mês, com risco de 7,04%.
Sim, os dividendos estão incluídos nessas contas, pois os índices são de retorno total e consideram o reinvestimento integral de todos os rendimentos, em dinheiro ou títulos.
Note-se que a afirmação de que os FIIs proporcionam retornos de renda fixa com risco de renda variável não é consistente com os dados. Porque o risco do IFIX está mais alinhado com o do Tesouro IPCA+ e foi menos da metade de todos os índices de ações comparados.
Para que este texto não gere discussões rasas, típicas das redes sociais, vamos entender outro conceito importante em finanças, que é o de dominância. Espera-se que as escolhas conscientes sejam baseadas no binômio retorno e risco, buscando o máximo retorno possível dentro dos padrões de risco aceitáveis para cada perfil. Portanto, se um investimento entrega mais resultados, mas com mais risco, ele não domina os demais, pois nem todos os investidores estarão dispostos a assumir riscos maiores. Um ativo que oferece mais retorno com menos risco domina os demais.
Para ilustrar esse conceito no gráfico, vou desconsiderar a nossa maior jabuticaba, o CDI. O IMA-B 5+ dominou todos os outros ativos, pois proporcionou mais retornos com menos risco. O IFIX dominou o IBOV e o SMLL, pelo mesmo motivo. O IDIV dominou o IBOV e o SMLL, mas não dominou o IFIX, pois o maior retorno veio acompanhado de maior risco.
Estudos como esse não são feitos para determinar qual é o melhor investimento (o que não existe), mas sim para que você saiba o que esperar do comportamento de cada classe de ativos e como eles devem se comportar quando combinados em uma carteira. Com base nos dados, podemos perceber que combinar FII e ações reduziu o risco da carteira sem comprometer o retorno.
A combinação de FII e renda fixa aumentou o risco (conforme esperado) sem contribuições relevantes para o retorno.
A combinação de ações com outras classes aumentou consideravelmente o risco sem aumentar o retorno, com exceção do IDIV que rendeu pouco mais que o IFIX.
Você deve estar se perguntando se realmente vale a pena investir em FII ou se deveria apenas ter renda fixa. Estou empenhado em elaborar esta resposta em um texto futuro.
Para finalizar, incluiremos outro índice de ações na comparação, mas desta vez o S&P 500, indicador das principais empresas negociadas na bolsa de valores dos Estados Unidos.
O que você espera que aconteça? Irá a “bolinha” do S&P 500 dominar todas as outras classes de ativos nacionais?
Retorno e risco
CDI | IFIX | IBOV | IDIV | PEQUENO | IMA-B 5+ | S&P 500 | |
retornar | 0,74% | 0,74% | 0,37% | 0,76% | 0,21% | 0,87% | 0,91% |
risco | 0,28% | 3,10% | 6,36% | 6,26% | 7,04% | 3,02% | 4,15% |
Veja que interessante. Como esperado, o mercado de ações dos Estados Unidos entregou mais resultados que todas as classes de ativos brasileiras (0,91% ao mês), mas dominou apenas os índices de ações brasileiros, pois apresentou um risco (4,15%) maior que o CDI, IMA-B 5 + e IFIX.
O investimento é um portfólio. Não é uma competição de quem ganha mais, que é sempre efêmera. Tenha um portfólio que combine diferentes classes de ativos, considerando primeiro a proteção dos seus ativos e depois quanto você pode ganhar. Não corra riscos desnecessários, nunca invista antes de saber que risco está correndo.
Diferentes classes de ativos não são perfeitamente comparáveis. Todo estudo, por mais complexo e elaborado que seja (o que não é o caso deste), apresenta falhas e lacunas. E, principalmente, consegue relatar o passado, mas nada diz sobre o futuro. Espero ter ajudado você a entender melhor o que esperar dos FIIs e ter despertado o interesse em discutir finanças com base em dados e não apenas em opiniões.
PS: estudos semelhantes que apresentam IFIX com rentabilidade bem acima do CDI (comum em relatórios gerenciais e de analistas) não estão errados. Consideram apenas a rentabilidade líquida do CDI, descontada de 20% ou 15% de imposto de renda, dependendo do período estudado.
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