Entenda em quatro pontos o primeiro prejuízo da Petrobras em quase quatro anos | Empresas

A renegociação de passivos no âmbito do disputa entre a estatal e o Conselho Administrativo da Receita Federal (Carf) realmente refletiu no balanço, mas outros fatores contribuíram para a formação do resultado negativo.

O desvalorização do real foi apontado como outro importante fator de impacto para as perdas da estatal, pois a variação cambial afetou as obrigações das empresas do Sistema Petrobras no exterior com a holding, segundo a empresa.

Apesar do prejuízo, a Petrobras não hesitou em anunciar o distribuição de dividendos aos acionistas. Entenda, em quatro pontos, como se desenrolou no trimestre a primeira divulgação de resultados trimestrais sob a gestão de Magda Chambriard:

Como o acordo com o Ministério das Finanças afetou os resultados da empresa?

Em junho, a Petrobras assinou acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), órgão do Ministério da Fazenda, para encerrar litígios com o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), referentes a remessas ao exterior para pagamento de afretamentos ( modalidade de aluguel) de embarcações de exploração de petróleo, referente ao período entre 2008 e 2013.

Esse ajuste já estava programado para aparecer no segundo trimestre, pois não havia previsão sobre o tema nos balanços anteriores.

O impacto, segundo a Petrobras, foi de US$ 2,1 bilhões, pois o valor foi provisionado para cumprir o acordo, que prevê o pagamento em seis parcelas mensais. A estatal será reembolsada parcialmente pelos sócios das unidades envolvidas no caso, mas é um valor considerado simbólico pela estatal, representando 13% do total. O mercado considerou o acordo positivo, pois houve desconto de 65% em relação ao passivo original de R$ 44,79 bilhões com a União.

Como a desvalorização cambial influenciou a perda?

A Petrobras destacou que o dólar mais caro em relação ao real não teve efeito no caixa ou nos ativos, mas no resultado financeiro. Segundo a empresa, o dólar ao final de junho estava cotado a R$ 5,56, contra R$ 5,00 em março, alta de 11,2%.

A principal questão é que a Petrobras possui empresas abertas no exterior para tratar de negócios como exportação de petróleo e compra e venda de combustíveis, entre outras operações.

Tais negócios envolvem a contratação de dívidas pela holding com subsidiárias integrais no exterior. Quando o dólar sobe no Brasil, a dívida aumenta em reais, já que a moeda de atuação da empresa no país é o real. Uma regra contábil faz com que essa dívida seja incluída no resultado financeiro da holding, sem impactar o fluxo de caixa da estatal. O efeito dessas obrigações entre empresas do grupo foi de US$ 2,3 bilhões.

Quais foram os outros fatores que refletiram nos números da petrolífera?

Segundo a Petrobras, houve impacto de US$ 1,3 bilhão no balanço, chamados de “outros eventos exclusivos”, como o acordo coletivo firmado com os empregados, referente a 2023, contingências judiciais, resultado de baixas contábeis, entre outros pontos. Um tema esperado envolveu a mudança no custo do plano de saúde corporativo, anunciada pela estatal no final de junho.

A empresa pagará dividendos, mesmo com prejuízo. Como isso é possível?

A empresa anunciou o pagamento de R$ 13,57 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio aos acionistas. A empresa explica que, mesmo não tendo havido lucro no segundo trimestre de 2024, a remuneração refere-se ao fluxo de caixa, o que não foi problema neste período.

Mesmo assim, a gestão de Chambriard recorreu a uma reserva de capital deixada pelo presidente anterior, Jean Paul Prates, que pretendia equalizar a distribuição aos acionistas. Foram utilizados R$ 6,4 bilhões dessa reserva, que tinha saldo de R$ 22 bilhões relativos a dividendos extras para 2023, e que agora também conta com R$ 15,5 bilhões.

A remuneração aos acionistas corresponde a R$ 1,05320017 por ação ordinária e preferencial em circulação e o pagamento será feito em duas parcelas, em novembro e dezembro.

Em relatório divulgado esta manhã, o Itaú BBA afirma que, em teleconferência com a administração da Petrobras após a divulgação da noite de ontem (8), o conselho disse que espera ter uma visão mais clara das necessidades de capital até o final do ano e que pode anunciar dividendos extraordinários em novembro.