Os investimentos brasileiros em minerais estratégicos para a transição energética começam a ganhar força impulsionados pela transição energética para uma matriz mais limpa. Estão previstos US$ 17,2 bilhões entre 2024 e 2028 em substâncias como lítio, níquel, cobre, titânio, terras raras, nióbio, vanádio, zinco e manganês, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). É uma expansão de 89,4% em relação aos investimentos programados no quinquênio 2023 a 2027.
Os minerais estratégicos têm grande potencial de expansão da procura devido à sua utilização em painéis solares, turbinas eólicas, baterias de veículos eléctricos e componentes electrónicos. “Empresas em todo o mundo assumiram compromissos para descarbonizar as suas atividades. Isso só é possível com fontes de energia limpa”, afirma o consultor Afonso Sartorio, sócio da EY Brasil.
Um parque eólico offshore consome 13 vezes mais metais estratégicos do que uma central de gás natural para produzir a mesma quantidade de energia; na usina solar essa relação é cinco vezes maior. E os veículos elétricos consomem em média 200 kg de minerais estratégicos, seis vezes mais que um veículo a combustão.
Segundo Sartorio, a maior parte dos metais estratégicos passa por uma fase de ajuste entre a oferta e o ritmo de expansão da demanda, o que gera fortes oscilações nos preços. A situação, porém, não impacta os investimentos, que respondem a uma expectativa de grande expansão da demanda nos próximos anos.
A maior aplicação do lítio está em baterias automotivas. A demanda global por LCE de lítio industrial (equivalente a carbonato de lítio) deverá atingir 1,1 milhão de toneladas este ano. Para 2025, mesmo com as vendas globais de carros elétricos abaixo do esperado, a expectativa do setor é de um crescimento de 30% na demanda por lítio LCE, atingindo 1,45 milhão de toneladas.
“Só para atender ao crescimento de um ano de demanda seriam necessários dez novos Sigma Lithium”, compara Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, empresa localizada no Vale do Jequitinhonha (MG) que iniciou suas atividades comerciais no segundo trimestre de 2023 com capacidade anual de 270 mil toneladas de lítio concentrado, o que proporciona a produção de 36,7 mil toneladas de LCE por ano. A unidade está entre as cinco maiores do mundo e se caracteriza por adotar um sistema de produção neutro em carbono e com baixo impacto ambiental. “Temos escala, baixo custo e rastreabilidade socioambiental”, afirma o CEO.
Em julho, a empresa iniciou as obras de uma segunda planta industrial no mesmo local, utilizando tecnologia greentech. O investimento de R$ 500 milhões permitirá à Sigma aumentar sua produção para 520 mil toneladas de lítio concentrado por ano e para 80 mil toneladas/ano de lítio LCE. “O crescimento é necessário. Os concorrentes estão investindo massivamente”, afirma Cabral.
Em agosto, a australiana Pilbara Minerals anunciou a compra por US$ 370 milhões de um projeto de lítio da Latin Resources em Salinas (MG), no vale do Jequitinhonha, que já foi chamado entre os executivos da mineração de “Vale do Lítio”. ”, por concentrar os principais projetos metalúrgicos do país. Na semana passada, a empresa, maior produtora mundial de lítio, anunciou investimento de R$ 2,2 bilhões (US$ 400 milhões) na operação.
O CEO e diretor administrativo da Pilbara, Dale Henderson, disse ao anunciar o investimento que o projeto Salinas poderia se tornar uma das maiores operações de rocha-lítio do mundo. “Será vital consolidar a nossa posição de liderança nos mercados de baterias norte-americano e europeu”, disse ele. “Parte do motivo de virmos ao Brasil é que vemos um desenvolvimento sem precedentes na região do Vale do Jequitinhonha”, acrescentou.
A AMG Brasil, uma das pioneiras na produção de lítio no país, também está ampliando sua produção. A empresa, subsidiária do grupo holandês AMG, mantém desde 2018 uma planta com capacidade para 90 mil toneladas de concentrado de lítio por ano, processando apenas o material contido nos rejeitos de mineração de cassiterita, estanho e tântalo, que a empresa mantém em Nazareno (MG).
Em 2023, a AMG começou a investir US$ 50 milhões para ampliar sua capacidade de produção para 130 mil toneladas de concentrado de lítio por ano. O próximo passo é a instalação no Brasil de uma unidade para conversão de concentrado de LCE em lítio. “A decisão já foi tomada”, afirma Fabiano Costa, presidente da AMG Brasil. A construção deverá começar em 2025, com conclusão em 2028. Os investimentos estão estimados entre US$ 280 e US$ 300 milhões. Atualmente, o lítio concentrado da AMG é enviado para a China, onde ocorre a conversão, e depois para a Alemanha, onde a empresa produz hidróxido de lítio para uso em baterias.
O fundo de investimentos londrino Appian Capital, especializado em ativos minerais, anunciou este ano um projeto de R$ 350 milhões para construir uma planta de demonstração de processamento de grafite, que terá capacidade de 5,5 mil toneladas por ano. A unidade será operada por meio da subsidiária Graphcoa e está localizada na mina Boa Sorte, em Itagimirim (BA). O grafite será processado por uma unidade do grupo Appian nos Estados Unidos.
O produto brasileiro será avaliado por potenciais clientes estratégicos no próximo ano, ação que definirá o futuro do ativo. Uma avaliação positiva deverá prever investimentos de R$ 1,5 bilhão em cinco anos para uma capacidade de produção de 25,5 mil toneladas/ano. “Também buscaremos oportunidades de processamento no Brasil para as próximas fases de expansão do projeto, que tem potencial de atingir até 120 mil toneladas por ano”, afirma Paulo Castellari, CEO da Appian Capital Brasil.
A grafite representa 95% da composição dos ânodos das baterias dos veículos elétricos. Em cada bateria são utilizados, em média, 68 quilos da substância.
A Appian também mantém outros dois ativos minerais estratégicos no Brasil. Por meio da Atlantic Nikel, produz 110 mil t/ano de concentrado de níquel na mina Santa Rita, em Itagibá (BA). Com a Mineração Vale Verde, produz 70 mil toneladas de concentrado de cobre por ano na mina de Serrote, em Craíbas (AL). O fundo de investimento não pretende permanecer neste patamar. “Buscamos novas oportunidades para projetos minerais estratégicos no país”, afirma Castellari.
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