“Um grande ponto de interrogação”. Esse tipo de conclusão inexplicável tem sido foco de análises na França que tentam elucidar o que poderá acontecer ao país caso o Executivo se divida entre forças políticas opostas, como sugerem as pesquisas para as eleições legislativas que começam neste domingo (30), antecipadas pelo presidente Emmanuel Macron.
O país passou da surpresa ao choque muito rapidamente no início do mês, quando a ultradireita venceu as eleições para o Parlamento Europeu. A reação de Macron foi dissolver a Assembleia Nacional e depois convocar novas eleições – uma medida constitucional utilizada outras vezes na história da Quinta República, que começou em 1958.
As pesquisas indicam que a Reunião Nacional (RN), de ultradireita, sairá vitoriosa. Se será com uma maioria absoluta que deixará o partido em condições de nomear o primeiro-ministro é mais uma questão. O mandato de Macron vai até 2027, e ele já disse que não vai renunciar, seja qual for o resultado.
Levantamento do instituto de pesquisas Ipsos desta sexta-feira (28) mostra o RN e seus aliados com 36% das intenções de voto, contra 29% da esquerdista Frente Nova Popular e 20% do bloco governista.
O cenário que surge, portanto, é o que ficou conhecido como coabitação, termo que descreve a situação de um Executivo composto pelo presidente de um partido e um primeiro-ministro da oposição.
Grosso modo, o regime político em França pode ser caracterizado como semipresidencialista, um modelo híbrido em que o presidente é o chefe de Estado e trata principalmente de questões externas e de defesa, e o primeiro-ministro chefia o gabinete governamental.
É o presidente quem nomeia o primeiro-ministro, e a Assembleia Nacional pode derrubar o governo com um voto de censura, razão pela qual a nomeação de um primeiro-ministro pelo presidente depende mais da composição da maioria parlamentar do que da vontade do chefe de estado.
As coabitações ocorreram três vezes na história do país: de 1986 a 1988, com François Mitterrand, à esquerda, no Palácio do Eliseu (sede da Presidência) e Jacques Chirac em Matignon (sede do governo); de 1993 a 1995, novamente com Mitterrand, mas agora com Édouard Balladur como primeiro-ministro; e de 1997 a 2002, com Chirac, agora como chefe de Estado, e com o socialista Lionel Jospin como primeiro-ministro.
“Não é algo que foi previsto pela Constituição de 1958. Sempre se pensou que haveria a mesma cor no Legislativo e no Executivo. Agora, o interessante é que a Constituição é muito plástica, no sentido de que se adapta a muitas situações”, diz Gaspard Estrada, cientista político da Universidade Sciences Po, em Paris.
As experiências anteriores poderiam indicar o que acontecerá após uma vitória da ultradireita? Ou mesmo o bloco de esquerda unificado, que está acima do macronismo nas sondagens?
A resposta é um pouco mais complexa, porque cada coabitação apresentou uma dinâmica política muito particular, com impactos diferentes nas decisões do Executivo. E o momento atual sugere mais novidade do que repetição de padrões.
A começar pelas forças em disputa. Os três arranjos anteriores se opunham às forças tradicionais de esquerda e de direita, sem grandes partidos concorrendo do lado de fora, algo diferente do cenário polarizado com um governo no centro e enfraquecido como vemos hoje.
Só se pode especular, portanto, como cada um dos blocos se comportará neste novo quadro tripartite do Legislativo, ainda mais sem uma ideia completa do seu tamanho após a eleição. Pode haver acordos, ou a falta de consenso pode, na prática, paralisar o país.
“Tudo vai depender dos resultados”, afirma Estrada, reforçando que não é possível saber antecipadamente como se dará a convivência. “Mas é difícil ver um cenário em que Macron se recuse a assinar propostas [do governo], por exemplo. Ele sai de tudo muito fraco”, diz ele.
De qualquer forma, há pistas na história. A primeira coabitação foi marcada por conflitos entre Mitterrand e Chirac e por crises institucionais, nomeadamente a recusa do presidente de esquerda em assinar as reformas feitas pelo governo de direita, incluindo as privatizações.
Foi também um momento em que Mitterrand e Chirac estiveram na curiosa posição de dividir o Executivo e ao mesmo tempo competir pela Presidência, numa espécie de pré-campanha alongada. Nas eleições de 1988, o chefe de Estado aproveitou o desgaste do rival à frente do governo para conquistar a reeleição.
Transportada até hoje, a estratégia não funcionaria para Macron, que não pode concorrer a um terceiro mandato – uma reforma em 2002 limitou as tentativas. “Agora é a gestão do legado dele, mas ele está começando com o pé esquerdo”, diz Estrada. Os ministros distanciaram-se de Macron desde que ele dissolveu a Assembleia, um gesto que até agora tem sido pouco compreendido mesmo pelos aliados do presidente.
Durante a segunda convivência, de 1993 a 1995, o clima foi diferente. Com a saúde debilitada, ficou claro que Mitterrand não concorreria novamente à presidência (ele morreu em janeiro de 1996). Seu primeiro-ministro no período foi Édouard Balladur, que brigou mais com Chirac, seu parceiro de coalizão, do que com o socialista, com quem buscava consenso.
A disputa foi tanta que Balladur e Chirac concorreram com chapas separadas pelo mesmo partido no primeiro turno das eleições de 1995, vencidas pelo socialista Lionel Jospin. No segundo turno, Chirac se consolidou como candidato de direita e foi eleito.
A terceira coabitação foi o único resultado de uma dissolução do Parlamento, como no cenário actual, e não de uma eleição legislativa planeada. Finalmente chefe de Estado, Chirac antecipou as eleições de 1998 e convocou a votação em 1997.
Mas o tiro saiu pela culatra. A coligação de esquerda venceu e Jospin foi escolhido primeiro-ministro. Foi a coabitação mais longa, a primeira com a direita na Presidência, e com um relativo enfraquecimento dos poderes presidenciais.
Reflexo disso foi a limitação de dois mandatos consecutivos para chefe de Estado e a redução de 7 para 5 anos para representação presidencial, que atingiu Chirac, reeleito em 2002 após concorrer em segundo turno contra Jean-Marie Le Pen, pai de Marina Le Pen. Pen, o líder da ultradireita hoje.
Desde esse ano, as eleições presidenciais e legislativas foram realinhadas com a reforma eleitoral: ambas a cada cinco anos, primeiro para o Executivo, meses depois para o Parlamento. A previsibilidade foi quebrada com a dissolução de Macron.
A eleição legislativa antecipada por Emmanuel Macron tem seu primeiro turno neste domingo (30), e o segundo turno acontecerá no próximo domingo (7), nos distritos onde for necessário – em geral, na maioria deles.
A votação é direta para os candidatos a deputado à Assembleia Nacional em cada um dos 577 círculos eleitorais do país. Cada distrito elege um representante, cujo nome é indicado pelos partidos e coligações de cada localidade.
O candidato só é eleito à primeira volta se obtiver mais de 50% dos votos válidos, desde que estes representem pelo menos 25% dos inscritos para votar. Geralmente, esses requisitos não são atendidos, o que obriga a um segundo turno com os concorrentes que tiveram pelo menos 12,5% dos votos no primeiro turno (ou com os dois que tiveram mais votos, caso ninguém atinja esse percentual). Quem obtiver mais votos é eleito.
consignado para servidor público
empréstimo pessoal banco pan
simulador emprestimo aposentado caixa
renovação emprestimo consignado
empréstimo com desconto em folha para assalariado
banco itau emprestimo