As lavouras estão enfraquecidas, gerando expectativas de queda na produção. Os preços do café Arábica e Robusta oscilaram nos últimos dois anos. Os motivos são variados, envolvendo questões logísticas e geopolíticas, mas no centro deles está a crise climática. “As colheitas [para a safra 2025/26] estão muito enfraquecidos, com alta desfolha e ressecamento dos botões florais. Só vejo consequências ruins por conta da seca”, conta o pequeno produtor Alexandre Maroti à reportagem. Leia também Quando termina a onda de calor no Brasil? Previsão indica nova data Preços dos alimentos têm tendência mista por causa da estiagem Seca e queimadas geram incerteza na produção de açúcar e etanol, diz Cepea Ele é dono de 15 hectares de café na cidade de Bom Jesus (MG). A sua produção média era de 80 a 90 sacas de café por hectare, mas neste momento “não passa de 40 sacas por hectare” devido à falta de chuvas, altas temperaturas e seca. Maroti prevê queda de 20% para o próximo ciclo (2025/26). A situação muda para alguns produtores maiores que têm irrigação, mas ainda há tensão entre os cafeicultores brasileiros que estimam uma redução no volume de café até o próximo ano, pois em alguns estados, como Minas Gerais, já estão quatro meses sem chuva. No Brasil, o centro nacional de monitoramento de desastres naturais, Cemaden, informou que o país enfrenta o clima mais seco desde 1981. Mais recentemente, incêndios atingiram as proximidades de uma fazenda em Pedregulho (SP), queimando 50 mil pés de café. A mesma propriedade, um mês antes, havia perdido 50 hectares na geada repentina causada pela diferença brusca de temperatura entre os dias 11 e 12 de agosto. O gerente de produção, Marco Pagliaroni, já está acostumado com os ciclos de seca. Ele disse ao repórter que na área de menor altitude de seu parque cafeeiro atingida pela geada, a decisão foi não replantar pés de café. Por outro lado, não esperava os prejuízos dos incêndios “que serão grandes, mas que foram rapidamente contidos”. Preços internacionais Fatores climáticos se expressaram nos preços internacionais do café arábica na Bolsa de Nova York, que fechou ontem com alta de quase 4%, cotado a US$ 2,4520. “Os preços do café dispararam devido a eventos climáticos adversos em todo o mundo, que podem reduzir a produção. A seca no Brasil, maior produtor mundial de café arábica, impulsionou os preços depois que a Somar Meteorologia informou que a região de Minas Gerais, responsável por cerca de 30% da produção de arábica no Brasil, não recebeu chuva na última semana”, afirmou o Barchart Coffee analista Rich Asplund. Ele lembra que os preços do Robusta também subiram após o tufão Yagi atingir o Vietnã, possivelmente prejudicando as plantações de café do país, que já vinham de um ano de seca intensa em 2023, fazendo com que os agentes do mercado se preocupassem com o volume de oferta a ser disponibilizado mundialmente. Por exemplo, a produção do Vietname no ciclo 2023/2024 não excedeu 26 milhões de sacas, apesar da capacidade anual do país ser de 31 milhões por ano. Para a safra 2024/2025, a Bolsa Mercantil do Vietnã estima queda de 20% na produção de café canéfora. A previsão é baseada na falta de chuva e água para irrigação. No final de agosto, o café Arábica atingiu seu preço mais alto em 13 anos e o Robusta atingiu um recorde, devido a preocupações de que a seca excessiva no Brasil pudesse desencadear o florescimento precoce das plantas de café, reduzindo a produtividade da safra 2024/ 25. Plugin inicial texto Oferta mundial No dia 22 de maio, a empresa Volcafé, uma das maiores indústrias do segmento no mundo, projetou um déficit global de 4,6 milhões de sacas de Robusta em 2024/25, um déficit menor se comparado aos 9 milhões de sacas de 2023 /24, mas ainda será o quarto ano consecutivo de défices, lembra o analista do Barchart. Isso beneficiou os ganhos do Brasil nas exportações, incluindo o conilon, desde o segundo semestre do ano passado. As variáveis levaram a um aumento nos preços dos grãos no mercado físico entre setembro de 2023 e julho de 2024 de 100,2% para o café conilon, segundo dados enviados ao relatório da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic). Os embarques foram recordes e atingiram 28,14 milhões de sacas das duas variedades no primeiro semestre deste ano, volume 46,3% superior ao registrado nos primeiros seis meses de 2023. A produção no ciclo brasileiro 2023/24 é projetada entre corretores privados em aproximadamente 69 milhões de sacas de 60 quilos. Porém, em diversas regiões produtoras foi observado que os grãos estavam com “peneira baixa”, e devem continuar assim na próxima safra. Isso evidencia o impacto das altas temperaturas, da falta de chuvas e da baixa umidade do solo e do ar, que fazem com que o enchimento dos grãos seja antecipado e o ciclo de desenvolvimento vegetativo não seja concluído. O resultado é que os grãos ficam menores e são necessários mais grãos para encher uma saca de café, o que é ruim em termos de lucratividade para os cafeicultores, principalmente os pequenos. Apesar da variável conilon do Brasil, que é mais resistente ao calor que o arábica, há cafeicultores do Espírito Santo e do Sul da Bahia – onde está a maior parte da produção dessa variedade – que apontam problemas com o peso do grão, o que pode reduzir o volume a ser produzido em 2025/26. Spreads entre Arábica e Robusta Nas últimas semanas, os preços tanto do Robusta quanto do Arábica subiram no mercado interno brasileiro. Porém, o Robusta teve uma valorização maior, superando os valores do Arábica na última semana. É o que avalia a consultoria Hedgepoint Global Markets. O Indicador Cepea/Esalq para o café Robusta aproximou-se de R$ 1.490/saca nos últimos dias, enquanto o do Arábica permaneceu no patamar de R$ 1.440/saca, fazendo com que o spread entre as variedades atingisse números negativos. A última vez que os preços das variedades se comportaram assim foi em janeiro de 2017. “Além do recente aumento nos contratos de Londres, muitos produtores no Brasil estão segurando seus grãos, enquanto a demanda pelo conilon brasileiro é alta em meio à menor disponibilidade na Ásia, o que é também apoiando os preços internos”, explica Hedgpoint. Mercado volátil Segundo análise da consultoria, o mercado também permanece altamente volátil, devido aos riscos climáticos que ainda virão com o período mais forte de La Niña, embora sejam esperadas chuvas no final de setembro ou início de outubro. “Além de nossas expectativas de menor produção para a safra vietnamita 2024/25, as previsões indicam que o clima quente e seco continuará no Brasil nos próximos dias, aumentando os riscos negativos para o desenvolvimento do café 2025/26”, finaliza. Embora ainda em pequena escala, a floração da colheita 2025/26 já foi registada em parte do país, aumentando os riscos negativos para o desenvolvimento do café, “uma vez que a actual precipitação acumulada e a humidade do solo estão abaixo dos níveis médios”. “Nesse sentido, caso as chuvas não voltem às regiões cafeeiras em maiores volumes na segunda quinzena do mês e as temperaturas continuem elevadas, os preços poderão encontrar sustentação nas próximas semanas”, acredita o analista da consultoria Laleska Moda.
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