O Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL)disse a uma plateia de investidores neste sábado (31) que o Congresso tem dificuldade em aprovar aumentos de impostos hoje, e afirmou que é “quase impossível” aprovar o projeto de lei enviado pelo governo que aumenta os impostos sobre lucros e rendimentos das empresas aos acionistas.
O projeto foi enviado ao Congresso em regime de urgência constitucional para agilizar sua tramitação. O regime de urgência prevê deliberação sobre o tema em até 45 dias – caso contrário, a agenda da Câmara ficará bloqueada.
O governo quer uma receita adicional de R$ 32,56 bilhões entre 2025 e 2027 com a medida. Só no ano que vem, o aumento seria de R$ 21,03 bilhões. A receita ajudará a fechar as contas do Orçamento de 2025 dentro da meta fiscal, que é o défice zero.
“Não creio que esse debate sobre o envio de um projeto com urgência constitucional, sem discussão prévia, possa ocorrer no Congresso Nacional. Portanto, a discussão da JCP e da CSLL para aumentar a arrecadação, para cumprir a meta, dificilmente será aprovada , é quase impossível que seja aprovado”, disse Lira durante evento Expert XP, em São Paulo.
“Qualquer aumento de impostos hoje no Congresso Nacional tem muita resistência em ser aprovado”, completou.
Neste mesmo evento, na véspera, o Ministro das Finanças, Fernando Haddad (PT)voltou a dizer que o governo tem conseguido organizar as contas públicas sem aumentar impostos.
Questionado sobre esta fala dos jornalistas após o painel em que participou, Lira disse que se a Câmara identificar que as medidas do governo para aumentar a arrecadação têm caráter de aumento de impostos, o assunto não terá vida fácil no Congresso.
Lira, porém, afirmou em conversa com jornalistas que tem um bom relacionamento com o ministro Haddad e que ele tem boas intenções em seu trabalho.
O presidente da Câmara defendeu o corte nas despesas obrigatórias, considerando que pela natureza do atual governo, tem acontecido o contrário, enquanto as despesas discricionárias são cada vez mais espremidas no Orçamento. Para ele, isso tem dificultado a atração de investimentos.
Lira disse que o marco fiscal é o instrumento que existe hoje que dá segurança em relação às contas públicas, e que não pode ser violado.
“Temos que aprender a respeitar as leis tal como elas são feitas e aprovadas. E trabalhar para nos adequarmos ao que a lei prevê, e se por acaso não conseguirmos [a meta fiscal]o normal é ter as consequências de não atingir a meta”, disse o parlamentar em referência ao gatilho que prevê desaceleração no crescimento da despesa pública em caso de descumprimento da meta para o resultado primário.
Sobre as emendas parlamentares, Lira disse que sempre procurou ser o mais franco possível no que diz respeito ao Orçamento. Segundo ele, é mais correto que os 594 parlamentares do Congresso decidam para onde direcionar recursos para políticas públicas do que apenas um ministro, que nem foi eleito pela população.
O presidente da Câmara afirmou que as discussões sobre as chamadas “emendas do pix” ocorrem sem problemas porque o Congresso “não tem problemas com transparência”. Em meados deste mês, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu suspender a execução de emendas parlamentares obrigatórias até que haja maior transparência.
Esse tipo de alteração tem baixa transparência, pois não é necessário indicar para qual área ou projeto os recursos serão destinados – aplicados diretamente no caixa das prefeituras.
Lira afirmou que a emenda do repasse obrigatório foi criada para quebrar a burocracia e liberar recursos para políticas públicas, ou seja, tem função social, segundo ele. Mas argumentou que ele próprio criticou o facto de não ter um objeto previamente definido, algo que agora está a ser corrigido.
O parlamentar reiterou então que o mais importante nesta discussão é garantir que o Congresso Nacional seja quem legisla sobre o Orçamento. Lira afirmou que a Câmara está aberta ao diálogo, para que se chegue a uma decisão consensual sobre o assunto, para que não haja interferência de um poder sobre o outro.
Lira também foi questionado no evento sobre a proposta do governo de reforçar o Auxílio Gás usando como artifício uma medida vista por especialistas como um drible no quadro fiscal.
O parlamentar disse que ainda não teve tempo de analisar os detalhes do assunto. Mas afirmou que já existe um movimento dentro do governo para definir, de alguma forma, a origem do valor que será destinado ao programa.
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