Apesar das profundas mudanças pelas quais o Brasil passou desde o século XVII, o tamanho da desigualdade de riqueza no país permaneceu praticamente estável nos últimos séculos. Contrariando a tendência global de estabilidade e redução da desigualdade no século XX, o Brasil viu seu crescimento. As conclusões são de estudo dos economistas Pedro Fandiño, Celia Kerstenetzky e Tais Simões, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O artigo mostra que da monarquia ao império, passando pelos primeiros anos da república, pela ditadura militar e pelo regresso da democracia, a concentração de activos manteve-se sempre muito elevada, apesar das diferentes formas de riqueza ao longo do tempo. Por exemplo, nos séculos XVIII e XIX, a concentração do rendimento dos 10% mais ricos situava-se entre 55% e 75% da riqueza nacional.
“Durante muito tempo, a elevada desigualdade de riqueza no Brasil foi atribuída a instituições nocivas do período colonial, como a escravidão, o latifúndio e a monocultura, bem como ao controle de acesso à terra e ao poder político. Nossas desigualdades extremas foram entendidas como uma espécie de legado dessas instituições”, afirma Fandiño.
O economista afirma que, nas últimas décadas, estudos sobre a história da desigualdade mostram que nos países desenvolvidos a desigualdade de riqueza diminuiu acentuadamente na primeira metade do século XX, graças às guerras mundiais, à crise de 1929 e a outros choques económicos e políticos. que destruíram ou reduziram o valor dos ativos, além de políticas subsequentes de regulação, tributação e controle público de capitais.
“Assim, embora o legado colonial não possa ser desconsiderado, parte importante da explicação para a persistência da nossa elevada desigualdade de riqueza está em acontecimentos que não ocorreram no Brasil”, afirma o economista. “Além de não termos passado por esse nivelamento como os países desenvolvidos, é preciso destacar o papel residual da nossa tributação sobre heranças, riqueza e renda, bem como a ausência de qualquer reforma agrária ou habitacional significativa.”
Para buscar compreender a trajetória da desigualdade de riqueza no Brasil, os autores revisam 49 artigos, livros, relatórios, teses e dissertações, que se baseiam em censos e inventários dos séculos XVII a XX, e em dados fiscais e inferências sobre a distribuição de renda do país. o século XX. XXI. Nenhuma estimativa foi encontrada para o século XVI.
No Rio de Janeiro, em 1820, os 10% mais ricos detinham 57,4% da riqueza e em 1855 detinham 59,1%. No final do século XIX, registros anteriores revisados pelos autores mostram que 10% dos mais ricos do Estado do Rio de Janeiro detinham 82% da riqueza. Esse percentual caiu para 75% na primeira década do século XX, mas voltou a crescer e atingiu 97% na década de 1960. Na década de 1980, caiu para 79%.
Kerstenetzky argumenta que no século XIX o aumento da concentração de riqueza parece estar associado a dois factores principais.
“O primeiro é o processo de formalização do comércio de terras, que estabeleceu (ou aumentou) o seu valor de mercado. Antes eram recebidos via sesmarias, e se tornaram formalmente mercadorias com a Lei de Terras, em 1850”, afirma.
“A segunda diz respeito à ‘propriedade’ das pessoas escravizadas. Até meados do século XIX, os escravizados constituíam um dos bens mais relevantes e difundidos nos inventários.”
Ela diz que, com o movimento abolicionista e a legislação que antecedeu a Lei Áurea de 1888, a ‘propriedade’ de escravos tornou-se menos acessível e cada vez mais concentrada entre os mais ricos, aumentando a desigualdade. “[Por isso,] Mesmo depois de 1888, quando os seres humanos já não eram entendidos como património, a desigualdade de riqueza parece não ter diminuído significativamente.”
No texto, os autores argumentam que, embora em alguns países o imposto sucessório constitua uma importante fonte para a construção de estimativas, como mostram estudos de economistas como Thomas Piketty e Gabriel Zucman, no Brasil não há informações sobre a concentração de riqueza construída a partir de essas fontes. As estimativas são efetuadas com base nas declarações de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares.
Como exemplos, os autores citam os trabalhos de Marcelo Medeiros, que calculou que metade da riqueza declarada em 1998 pertencia a 1% da população, ou de Fábio de Castro e Davi Bhering, que mostram que o 1% mais rico detinha 44,8% da renda. riqueza no Brasil em 2006 e 46,8% em 2021, enquanto a parcela dos 0,01% mais ricos aumentou de 12% para 18% no período.
Kerstenetzky argumenta que, mais do que os níveis de desigualdade, o que mais chama a atenção é a trajetória de concentração de riqueza no Brasil. “A estabilidade da concentração de ativos ao longo do tempo é notável”, diz ele.
Ao lado dos demais autores, o economista conclui no artigo que “a concentração de riqueza no Brasil é surpreendentemente semelhante àquela estimada para as sociedades servis europeias no final do século XIX”.
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