O país fica atrás apenas dos EUA e do Reino Unido no total de ações em 2023, e o desastre no Rio Grande do Sul pode acelerar o número de casos. O risco climático tem ganhado cada vez mais preocupação na agenda do G20, dos bancos centrais e das instituições financeiras, o que tem liderado análises sobre o impacto da devastação ambiental na Amazônia e um número crescente de litígios ambientais, estando o Brasil próximo do topo mundial neste campo, situação que pode se acelerar após o desastre socioambiental ocorrido no Rio Grande do Sul, em maio. Veja também Um estudo do Grantham Research Institute mostra que os casos de litígios climáticos estão estáveis em todo o mundo, mas em ascensão no Brasil, que ficou em terceiro lugar no mundo no ano passado entre as nações com mais casos registrados, com dez ações. Em primeiro lugar ficaram os Estados Unidos, com 129, e depois o Reino Unido, com 24. A Alemanha ficou em quarto lugar, com sete litígios registados. No total, o Brasil tem 82 casos, sendo 22 de iniciativa do Ministério Público, 21 casos da sociedade civil e 15 que incluem outras esferas públicas, como agências reguladoras, o que mostra, segundo o estudo, uma diversificação das fontes de aqueles que procuram litígios. Isso traz ameaças. Tudo isso é novo e exigirá uma nova mentalidade e postura de todos os elos da cadeia” Relatório da Rede para Ecologização do Sistema Financeiro (NGFS), publicado no início de julho, aponta que o crescimento do contencioso estratégico relacionado à natureza é uma tendência crescente e tem sido usada pelos litigantes “como uma ferramenta para influenciar resultados políticos e regulatórios, bem como para mudar o comportamento corporativo e social mais amplo”. Isto provoca riscos relevantes para o setor financeiro com múltiplos canais de contágio. “O setor financeiro está começando a incorporar esses custos na cadeia porque vemos a dimensão dos impactos, que vão desde as famílias até as seguradoras. Brasil, ao sediar a COP30 [conferência da ONU sobre clima, em Belém] no próximo ano, terá a oportunidade de destacar seus cases positivos e também o desafio de valorizar o produto mais sustentável. Tudo isso é novo e vai exigir uma nova mentalidade e postura de todos os elos da cadeia porque o modelo de negócio mudou e as mudanças climáticas estão materializando os custos crescentes de não mudar”, afirma Ana Luci Grizzi, vice-líder de Sustentabilidade e Mudança da Latam Climas e sócio da EY Brasil. “O avanço da agenda está intimamente ligado à materialidade, à verificação de impactos tangíveis. O metrô de São Paulo publica anualmente hipóteses sobre como a mobilidade sobre trilhos reduz os acidentes de trânsito e a poluição, mas esses dados são pouco mensuráveis, isso é um desafio, assim como aumentar o número de avaliadores dessas métricas”, observa Ewerton Henriques, da SH Consultoria, que assessora o governo de Mato Grosso do Sul, concessionárias e instituições financeiras. Pesquisa do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), publicada no mês passado, destaca que 46% da carteira de crédito corporativo do setor bancário brasileiro é direcionada a empresas cujos processos de negócios são altamente ou muito dependentes de um ou mais serviços ecossistêmicos. Ameaças agrícolas A região amazônica – que poderia contribuir para a absorção de 1,5 bilhão de toneladas de dióxido de carbono, o equivalente a 4% das emissões globais do setor energético, segundo o relatório – tem um foco global e as ameaças de devastação estão ligadas ao avanço da ocupação de terras pelo agronegócio. Segundo o estudo, o Brasil é o maior produtor de soja do mundo, com uma produção de 120 milhões de toneladas anuais. “Perturbações anteriores na cadeia de abastecimento – como um declínio na produção de soja – podem, consequentemente, resultar em flutuações nos preços das matérias-primas a nível mundial. Essas flutuações também poderiam aumentar o preço dos produtos feitos a partir da soja (ração animal, alimentos, óleo, biodiesel).”
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