A combinação de fatores conjunturais e estruturais fez com que o número de demissões a pedido dos trabalhadores atingisse novos recordes. Segundo economistas, o mercado de trabalho ultraaquecido, a expansão do trabalho remoto e a presença de jovens mais qualificados no mercado de trabalho fizeram com que as demissões sob demanda crescessem fortemente, inclusive em setores que vinham apresentando queda nessa tendência no início de ano, como informação e comunicação. .
De acordo com pesquisa da LCA Consultores realizada para o Valor, com base nos números do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em termos proporcionais, o número de demissões a pedido como percentual do total de demissões acumulado em 12 meses atingiu 34,6% em maio, ante 34,4% em abril e 34,2% em março. Em maio de 2023 a proporção era de 33,7%.
Em termos absolutos, o número de 12 meses também indica uma aceleração nas demissões a pedido, de 7,68 milhões em abril para 7,77 milhões em maio. Em maio de 2023 atingiu 7,03 milhões. Na comparação mensal, o total de desligamentos dessa modalidade acelerou fortemente até abril, para 734,94 mil, mas houve leve desaceleração em maio, chegando a 705,71 mil.
Segundo Bruno Imaizumi, economista da LCA responsável pela pesquisa, o fenômeno é explicado por uma combinação de fatores cíclicos e estruturais.
“O que está acontecendo, basicamente, é a combinação de aquecimento da atividade econômica e do mercado de trabalho, inserção dos jovens nesse mercado e mudanças comportamentais pós-pandemia, que estão relacionadas a questões como tempo de deslocamento para o trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e qualidade de vida”, afirma. “O principal impulso para isso foi o retorno ao trabalho presencial exigido pelas empresas.”
Tanto os números do Novo Caged quanto da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostram aumento desse tipo de demissão, observa.
“No Brasil, há um aumento no número de demissões feitas a pedido do próprio trabalhador, segundo o Novo Caged, sugerindo que os titulares de CLT estão confiantes em obter admissões em outros empregos, com remuneração mais elevada, horários de trabalho mais flexíveis e/ ou empregos mais adequados à sua qualificação”, afirma Lucas Assis, economista sênior e analista da Tendências Consultoria.
“Além do cenário econômico atual ser menos instável do que no período 2020-22, o comportamento recente do mercado formal sinaliza maior oferta de empregos formais.”
Outra evidência do dinamismo do mercado formal de trabalho é o aumento no número de pedidos de seguro-desemprego, acrescenta Assis. Em maio, o número de pessoas que procuraram emprego e não encontraram chegou a 7,78 milhões, segundo dados da Pnad Contínua.
“No Brasil, o seguro-desemprego é pró-cíclico, ou seja, as aplicações aumentam quando a economia aquece. Isso porque, ao verem robustez no mercado, os trabalhadores tendem a abandonar o emprego em busca de melhores oportunidades”, argumenta.
A atual situação de expansão econômica leva ao aumento da oferta de empregos relativamente melhores, comenta Assis, com aumento do número de recém-contratados com aumentos salariais, decorrentes da migração de empregos piores.
“Não é por acaso que no trimestre móvel encerrado em maio o rendimento real habitual, medido pela Pnad Contínua, atingiu R$ 3.181, um aumento de 0,6% em relação ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, segundo nossos cálculos. Na comparação com o mesmo trimestre móvel de 2023, o aumento foi de 5,6%”, afirma.
O aumento do rendimento do trabalho refletido em maiores salários ajuda a explicar o número de demissões a pedido, uma vez que esses valores mais elevados aumentam o poder de barganha do trabalhador, afirma Rodolfo Margato, economista da XP.
“Além da dinâmica do mercado de trabalho apertado ou aquecido, com a menor taxa de desemprego em quase 10 anos, de 7,1% em maio, os salários reais tiveram um crescimento médio significativo”, argumenta. De setembro de 2023 a maio de 2024, diz o economista, o rendimento médio real cresceu mais de 4%, enquanto o rendimento disponível das famílias deverá crescer 6% este ano, face a 2023.
Titulares CLT estão confiantes em conseguir admissão em outros empregos”
-Lucas Assis
“Nesse cenário, os trabalhadores têm maior poder de negociação e isso aumenta a rotatividade no mercado de trabalho, gerando pedidos de demissão voluntária, pois esses trabalhadores buscam melhores condições em outros empregos e oportunidades que surgem”, afirma.
Margato acrescenta ainda questões estruturais relativamente recentes que influenciam este cenário. “Desde a pandemia, ficou mais visível um novo comportamento entre os trabalhadores, buscando empregos com horários mais flexíveis”, comenta o economista da XP.
Ele diz que a proporção de demissões voluntárias é maior entre os trabalhadores com maior qualificação, que têm maior poder de barganha na hora de negociar com o empregador. E, do ponto de vista regional, tende a ser maior em estados com taxas de desemprego mais baixas, como Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Ainda em termos estruturais, diz Assis, os efeitos da expansão do trabalho remoto também ajudam a explicar os novos recordes de demissões a pedido dos trabalhadores.
“Devido às melhorias tecnológicas, à crescente demanda por flexibilidade, à redução de custos e de tempo de viagem, entre outros benefícios, o trabalho remoto ganhou espaço no Brasil, embora em menor proporção do que nas economias mais ricas”, afirma. Segundo a Pnad Contínua, lembre-se, cerca de 9,5 milhões de pessoas trabalharam remotamente em 2022, o que representa 9,8% do total de ocupados do país, chegando a 11,8% na Região Sudeste.
“O perfil predominante dos trabalhadores remotos é o de maior renda, atribuído a fatores como maior escolaridade e empresas envolvidas em atividades com maior remuneração”, analisa Assis.
O economista lembra que, nos Estados Unidos, uma consequência do trabalho remoto foi um aumento acentuado das demissões voluntárias durante a pandemia, resultado de mudanças nas percepções dos trabalhadores sobre as condições e arranjos de trabalho desejados. O fenômeno ficou conhecido como a “grande renúncia”.
Com exceção das atividades económicas como agricultura, pecuária, produção e indústrias extrativas, em todas as outras a proporção de despedimentos a pedido do trabalhador aumentou em relação ao total de despedimentos acumulados em 12 meses, mostra o inquérito da LCA.
Olhando para os números absolutos acumulados em 12 meses, o setor de serviços foi onde houve maior crescimento de demissões solicitadas entre abril e maio, passando de 3,64 milhões em abril para 3,69 milhões em maio, um aumento de 1,2%. Em seguida vem a construção (com aumento de 1,1%), comércio (com aumento de 1,08%), indústria (com aumento de 1%). Na agricultura houve estabilidade de um mês para o outro.
“Isso pode ser explicado pela queda projetada na produção agrícola neste ano em relação a 2023, o que certamente acaba afetando o nível de emprego”, afirma Imaizumi. “Por outro lado, os agentes de construção têm dificuldade em reter funcionários, principalmente os mais qualificados.”
Nos sectores dos serviços e do comércio, afirma, como os salários são geralmente baixos, o número de despedimentos a pedido é maior, pois é mais fácil encontrar melhores oportunidades.
No médio prazo, a perspectiva é que 2024 seja um ano de demissões recordes a pedido dos trabalhadores. Mas a tendência futura é que o ritmo desacelere, prevêem os economistas.
“Para o restante do ano, a expectativa é de perda do ritmo de crescimento da população ocupada, apesar do início de ano surpreendente, dada a expectativa de menor expansão do PIB nos próximos trimestres. Com isso, o número de demissões a pedido deve diminuir no curto prazo”, afirma Assis.
Este ano, argumenta Margato, além do mercado de trabalho em franca expansão, a busca por maior flexibilidade e pelo trabalho remoto continuará pesando.
“É difícil imaginar uma mudança estrutural nesse sentido. Em 2024 provavelmente veremos renovados recordes de demissões voluntárias”, afirma, citando um aumento de 15% dessas demissões no acumulado do ano, em relação ao mesmo período do ano passado, e de 25% em relação ao mesmo período de 2023 . “Esperamos 2025, porém, podemos não ver uma renovação desses máximos históricos.”
Isto deve-se à perspectiva de aumento do desemprego, em linha com o abrandamento económico. A XP projeta aumento da taxa de desemprego de 7,3% neste ano para 7,6% no próximo ano, acompanhando a perda de tração do PIB, cujo crescimento deverá passar de 2,2% em 2024 para 1,7% em 2025.
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