Certas políticas públicas que, embora bem intencionadas, se não forem calibradas corretamente, podem gerar problemas inesperados e bastante graves.
O programa Microempreendedor Individual (MEI) foi criado em 2008 como uma iniciativa louvável para reduzir a burocracia e os custos para regularizar o trabalho de pessoas à margem do mercado formal de trabalho. Ao cadastrar os trabalhadores informais no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), esperava-se que eles pudessem prestar seus serviços a empresas maiores e tivessem acesso mais fácil ao crédito, entre outras vantagens que lhes permitiriam prosperar e superar a pobreza.
Publicada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pesquisa Estatísticas de Cadastro de Microempreendedor Individual apresenta um perfil abrangente deste contingente de 14,6 milhões de pessoas, permitindo lançar luz sobre suas virtudes, mas principalmente sobre distorções desta política pública.
Olhando por uma perspectiva positiva, 2,1 milhões de MEIs são beneficiários do Bolsa Família, enquanto outros 2 milhões estão cadastrados no CadÚnico, banco de dados do governo federal que inclui pessoas que fazem parte de famílias de baixa renda (com rendimento de até meio salário mínimo per capita). ) para ter acesso a benefícios sociais.
Se por um lado a pesquisa do IBGE indica que o MEI auxilia pessoas das camadas mais pobres da sociedade a oferecerem seus serviços como cabeleireiros, manicures, entregadores e operários da construção civil, entre outras atividades, por outro lado há amplas evidências de que isso programa de formalização foi distorcido por muitas empresas no país.
O primeiro sinal de que o programa gerou uma precarização no mercado de trabalho brasileiro vem do fato de 69,4% dos MEIs ativos no país terem sido criados a partir de 2018, na esteira da reforma trabalhista e de uma legislação que ampliou as possibilidades de terceirização das atividades das empresas .
Outros indícios de que muitas empresas obrigaram funcionários CLT a pedir demissão para contratar seus serviços como MEI e, assim, reduzir seus custos com pessoal, vêm dos dados de novas pessoas ingressando no programa em 2022.
Dos 2,6 milhões de MEIs criados naquele ano, o IBGE apurou que 54% abandonaram o vínculo empregatício formal no ano anterior e cerca de um milhão de novos microempreendedores foram demitidos pelo empregador, enquanto outros 625 mil solicitaram as contas “espontaneamente”. ou o seu contrato temporário expirou.
O perfil dos novos MEIs elaborados pelo IBGE também sinaliza um movimento em direção a uma maior flexibilização nas relações de trabalho de profissionais bem qualificados. Entre os MEIs abertos em 2022, 946 mil tinham experiência de mais de 5 anos como trabalhadores formais e quase 858 mil haviam saído de empresas com mais de 100 funcionários.
Esses dados reforçam evidências já destacadas por especialistas em estudos anteriores, que constataram que os MEIs tendem a ter, em média, ensino superior do que os demais trabalhadores com carteira assinada e a estar mais concentrados nos estados do Sul e Sudeste – evidência de que o programa está atraindo trabalhadores de partes mais dinâmicas da economia, ao contrário do que é proposto.
Os erros de direcionamento do MEI não resultam apenas na perda de direitos trabalhistas para quem é obrigado a sair da CLT e abrir CNPJ.
Como a contribuição previdenciária dos participantes do MEI (5% do salário mínimo) é muito inferior ao valor arrecadado pelo mesmo indivíduo se ele for CLT (até 14% da renda bruta), esse movimento de pejotização das pessoas com renda de até R$ 81 mil por ano tem graves consequências no déficit da Previdência Social. Para piorar, como o MEI é recolhido de forma autônoma, e não descontado da folha de pagamento, o índice de inadimplência é bastante elevado (cerca de 60% dos participantes do programa).
Rogério Nagamine e Otávio Sidone, no livro Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasilestimam o déficit acumulado em 40 anos em R$ 728,8 bilhões, num cenário base sem reajustes reais do salário mínimo. Uma simulação realizada por Fernando Veloso, Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti calcula que, para ser fiscalmente sustentável, a contribuição do MEI para o INSS deveria subir para pelo menos 29,7% do salário mínimo (assumindo taxas de juros reais de 4% ao ano).
Analisando os números divulgados pelo IBGE e os estudos de especialistas, não há dúvidas de que o caminho correto seria ajustar o foco do MEI, restringir novas adesões apenas aos trabalhadores mais pobres, com baixa escolaridade e difícil ingresso no mercado de trabalho, funcionando como uma das portas de saída para os inscritos no Bolsa Família e no CadÚnico.
No entanto, a classe política é insensível às evidências e ao défice multibilionário da segurança social e está a avançar para aumentar o limite de adesão ao programa, o que só aumentará o problema.
Como sempre, os políticos jogam para a multidão e deixam a conta para todos nós pagarmos.
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