Iniciativas buscam expandir os sabores amazônicos no exterior e gerar riqueza na região A riqueza gastronômica da Floresta Amazônica tem despertado interesse crescente não só dos amantes da culinária, mas também de empresários que buscam levar os sabores únicos desta região para além das fronteiras do Brasil. Um dos tesouros mais emblemáticos desta biodiversidade é a mandioca, planta nativa e base fundamental da alimentação local. Leia também Gestão do pirarucu ganhará protocolo de rastreabilidade na Amazônia Lojas Carrefour terão prateleiras exclusivas para produtos amazônicos Redes típicas ‘administram’ 20% da agricultura amazônica A farinha de mandioca, por exemplo, já é considerada parte da cesta básica da região, e ainda destaca-se como elemento crucial na economia local, proporcionando emprego e renda para milhares de agricultores familiares e pequenos negócios. Produtor da farinha de mandioca Uarini, o microempreendedor de Manaus Ricardo Nery, da Rico Farinha, quer levar para o exterior o alimento, reconhecido em 2024 como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Amazonas. Pela sua indicação geográfica, o uarini é aquele fabricado apenas nos municípios de Tefé, Uarini, Alvarães e Maraã, e é conhecido como o “caviar amazônico”, devido ao seu formato, semelhante a ovas de peixe. É produzido por pequenos produtores familiares e é transportado de barco por 36 horas até chegar a Manaus. O grande diferencial da farinha de uarini é a qualidade, segundo Nery. Isso se deve a iniciativas desenvolvidas pela Associação dos Produtores Agroextrativistas da Floresta Nacional de Tefé e Entorno (Abafe), apoiada pelos institutos Mamirauá e Chico Mendes, que atua junto às comunidades locais oferecendo mentorias e estruturas, como moinhos de farinha higienizados. Segundo o microempreendedor, a participação da Abafe oferece garantias de processos produtivos mais transparentes e sustentáveis, o que não acontecia anteriormente, quando havia vendas sem nota fiscal e não havia divulgação dos métodos de produção. Na busca de expandir seus negócios para o mercado internacional, Nery participou da feira Lacflavors, promovida em maio, em Manaus, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Apesar de não terem fechado negócios imediatos por falta de certificações que atestem boas práticas de qualidade e sustentabilidade, os exportadores americanos demonstraram interesse, indicando um potencial promissor para a expansão dos sabores amazônicos pelo mundo. Thayse e Tainara Vasconcelos criaram a startup Diamante Negro da Amazônia (Dinam), em Parauapebas, Pará Dinam / Divulgação Startup de condimentos Para as irmãs Tainara e Thayse Vasconcelos, que criaram a startup Diamante Negro da Amazônia (Dinam), em Parauapebas, no Pará , a sustentabilidade na produção pode ser um atrativo para chegar ao mercado externo. A Dinam, também presente na Lacflavors, comercializa uma linha de condimentos, como pimenta-do-reino, e oferece apoio e assistência técnica aos agricultores familiares dos municípios de Tomé-Açu e Capitão Poço, no Pará. Segundo eles, grande parte do cultivo da pimenta anteriormente utilizava estacas de madeira como suporte para as plantações. Nesse sistema, foi necessário derrubar muitas árvores para obter as estacas, segundo Tainara. Além disso, significava um alto custo de produção. Como alternativa, a startup incentiva o plantio de gliricídia (Gliricidia sepium), planta que serve como guardiã natural das plantas de pimenta e também fornece adubo verde ao solo, enriquecendo-o e promovendo um ciclo nutricional completo. A Dinam vende uma linha de condimentos, como pimenta-do-reino Dinam/Divulgação Cooperativa do Suriname Ainda na Amazônia, mas não no Brasil, a cooperativa feminina Wi! A fu Sranan, do Suriname, aposta nas tradições ancestrais para conquistar novos mercados e também mostrou seus produtos na feira de Manaus, em maio. Tania Lieuw-A-Soe, presidente da cooperativa, diz que a ideia é levar a culinária amazônica – marca de identidade cultural – para outros cantos. “Não estamos reinventando a roda, estamos profissionalizando o que já existia lá e que, durante décadas, já foi fonte de renda e segurança alimentar das populações indígenas”, afirma. Cooperativa de mulheres indígenas do Suriname Divulgação A cooperativa, que conta com 38 mulheres indígenas membros, fabrica produtos principalmente de mandioca e taro, uma raiz tuberosa semelhante ao inhame. Ambos são então transformados em farinhas veganas e “carnes” de origem vegetal, buscando agregar valor ao produto. Para Lieuw-A-Soe, a única forma de garantir que a riqueza gerada pela venda e exportação de produtos permaneça nas populações locais e originais é incluí-las. “Fazemos com que a população indígena faça parte de uma cadeia de valor global, com conhecimento e tradição, através da inovação e de produtos de alta demanda. Eles têm que estar em cada etapa dessa cadeia, não podem apenas fornecer os produtos e ficar reféns das empresas”, ele afirma. A feira promovida pelo BID contou com 700 encontros entre exportadores e pequenas e médias empresas, e negócios no valor de mais de US$ 40 milhões. *O repórter viajou a convite do BID
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