Uma das complexidades do mundo atual é o impacto que o fenômeno do partidarismo político e dos valores políticos tem no mundo corporativo. A polarização de agendas tomou tais proporções que mesmo agendas pragmáticas, como os critérios ESG, têm sido alvo de discursos que visam questionar o valor das iniciativas ambientais para os negócios.
Presente nos Estados Unidos, a agenda do movimento anti-ESG está ancorada na ideia de que a agenda sustentável é um obstáculo à prosperidade económica das empresas, pois as impediria de maximizar os seus lucros. “O debate nos Estados Unidos gira muito em torno do dever fiduciário”, define Carlos Penteado Braga, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC). Neste contexto, explica: “Se devo procurar a melhor rentabilidade possível para os meus investidores, ao desviar-me desta lógica, estaria a quebrar o meu dever fiduciário”.
Há ainda outra questão: uma parcela dos americanos com viés conservador criticou o surgimento de agendas raciais e de gênero — conhecidas como “agenda acordada”. A palavra, em tradução literal, significa algo como despertar, despertar. “Ao trazer a agenda da diversidade, as empresas passam a ser entendidas por essa parcela da sociedade como marcas que estão tentando forçar uma agenda social que, nessa lógica argumentativa, seria uma distração em relação ao real propósito das empresas de prestação de serviços, entregar produtos e criar valor financeiro para seus acionistas”, explica Danilo Maeda, diretor geral da Beon ESG.
Todo esse argumento contra a agenda ESG ganhou força nos últimos dois anos. Os estados americanos começaram a aprovar leis para dificultar o investimento sustentável, surgiram fundos de investimento anti-ESG e os gestores de investimentos evitam usar a sigla por medo de retaliação.
Contudo, para os especialistas, a principal contradição do movimento anti-ESG reside precisamente no argumento financeiro, uma vez que o objectivo da agenda sustentável é também proteger o capital e obter melhores retornos económicos. “Quando se avalia o desempenho dos fundos que utilizam critérios ESG e se percebe que é superior, fica claro que esses são objetivos totalmente conciliáveis e que se complementam”, explica Maeda.
“Quem está atento às mudanças climáticas e às demandas da sociedade percebeu o quanto é urgente que as empresas incorporem uma visão estratégica do impacto dos riscos socioambientais nos negócios”, acrescenta Maeda.
Mas para compreender o valor da prática ESG, o investidor não deve ter um perfil imediato. Analisar a agenda de sustentabilidade, social e de governação exige pensar no futuro. “Dentro da estratégia ESG, é importante que a empresa tenha investidores com essa visão de longo prazo, porque eles entenderão que a empresa fará aportes que poderão vencer um pouco mais tarde, que talvez gaste ainda mais dinheiro para se proteger de a crise climática. construir uma fábrica, por exemplo, num local mais caro, mas que não seja afetado por enchentes”, detalha Braga.
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