Expandindo o seu domínio para atividades legais, o crime organizado passou a atuar nos setores de mineração (ouro, mercúrio, diamantes), imobiliário, concursos públicos (transportes e limpeza urbana), comércio de combustíveis, fertilizantes, veículos e defensivos agrícolas, e em serviços de água e luz, aponta levantamento da Esfera Brasil em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta terça-feira.
O estudo identificou pelo menos 21 atividades legais afetadas por fluxos ilícitos de facções criminosas em todos os continentes. Para Esfera, a crise de segurança pública precisa ser enfrentada para reduzir os danos causados à vida e à liberdade, bem como o impacto negativo na economia.
“A insegurança atual é uma barreira ao crescimento econômico e à chegada de investidores estrangeiros, além de aumentar os custos de transação das empresas brasileiras, o que impacta a nossa competitividade”, afirma Camila Funaro Camargo Dantas, CEO da Esfera Brasil.
Segundo o levantamento, existem 72 facções criminosas diferentes ligadas ao tráfico de drogas no Brasil, sendo que duas delas têm características transnacionais, com poderes sobre outras facções. São eles: o Comando Vermelho (CV), nascido no final da década de 1970, nos presídios do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que teve origem em 1993, nos presídios de São Paulo.
O PCC está presente em 23 estados do país, com grande influência nas áreas fronteiriças do Centro-Oeste e Sul brasileiro, atuando também na região Norte, com destaque para o garimpo ilegal de ouro. No Sudeste, e parcialmente no Sul, tem influência nos maiores portos e aeroportos, conseguindo operar fluxos ilícitos de produtos para continentes como Europa, África, Ásia e Oceania.
A segunda maior organização criminosa que atua no tráfico de drogas é o Comando Vermelho, com presença em pelo menos 20 estados, tendo grande influência nas regiões Norte e Nordeste, onde opera produtos como cocaína, maconha, armas, veículos e ouro. Na região Norte, a CV adquiriu grande predominância nas rotas originárias da Colômbia.
A pesquisa também destaca alguns gargalos na luta contra o crime organizado. Embora o Brasil possua mais de 1.500 diferentes instituições de segurança pública previstas na Constituição, não existe uma coordenação federal capaz, técnica e juridicamente, de integrar informações e otimizar o combate às organizações criminosas.
Para Pierpaolo Bottini, advogado criminalista e membro do conselho consultivo da Esfera, o Governo precisa entender que é preciso ir além da tradicional repressão, prisão e apreensão, uma vez que essas ações não afetam a estrutura do crime organizado.
“É preciso conhecer a lógica econômica dessas organizações, cortar seus suprimentos, quebrar suas cadeias financeiras, focar na gestão de dados e no combate à lavagem de dinheiro”, afirma.
O estudo propõe soluções estratégicas para combater a expansão geopolítica do crime organizado, com base em estudos que acompanham a trajetória dos recursos do crime organizado.
Entre as principais ideias para combater a disseminação de facções nas áreas jurídicas estão: aprovação do Projeto de Lei Geral de Proteção de Dados de Interesse de Segurança Pública, para evitar que a insegurança jurídica afete as investigações criminais; e criação de uma comissão interministerial composta por membros do Ministério da Justiça, da Fazenda, da Casa Civil, da Controladoria-Geral da União e da Procuradoria-Geral da União, para definir ações conjuntas em escala nacional.
Outras propostas são: ampliar e fortalecer o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), destinando ao órgão parte dos recursos obtidos com impostos e multas aplicadas no setor de ativos virtuais e apostas de cotas fixas para aumento de pessoal e tecnologia; promover alterações constitucionais e legais para racionalizar as bases de dados relativas à segurança pública apresentadas pelas unidades da federação, a fim de garantir maior qualidade de informação e transferência de recursos de acordo com padrões objetivos; regulação de criptoativos; e regulação do setor de apostas.
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