O potencial de crescimento do mercado latino-americano de publicidade, arte e entretenimento na economia global e os efeitos da inteligência artificial (IA) nesses setores foram discutidos por uma equipe líder no painel “Futuro do Entretenimento: a América Latina se tornará o centro do cultura global?”, durante a Cúpula Prioritária do FII, realizada este mês no Rio.
A necessidade de valorizar a criatividade como negócio foi um alerta feito pelo publicitário Nizan Guanaes, fundador e presidente-executivo da N.Ideias, no painel mediado pelo fundador e presidente-executivo da S4 Capital, Sir Martin Sorrell, que também fundou o conglomerado de Publicidade e comunicação britânica WPP.
“Você pode ser criativo, mas no final você vende [a criatividade] como uma mercadoria. Temos que ter uma mentalidade econômica do governo e precisamos ser competitivos globalmente”, destacou Guanaes.
No painel, Sorrell reforçou o comentário referindo-se à falta de visibilidade global em relação ao potencial criativo da América Latina, dando como exemplo o festival de criatividade Cannes Lions, o “Oscar” da publicidade global, que foi realizado em Cannes, na França, este mês. “Acredito que as pessoas ainda não entendam o quão boa é a comunidade criativa latino-americana”, ponderou.
O Brasil está entre os cinco países que mais ganharam “leões” no festival de criatividade desde 2001. O desempenho é considerado consistente e reflexo “de um país que tem a criatividade enraizada em sua cultura”, disse o presidente do Cannes Lions, Simon Cook, em entrevista ao Valor, no início de junho.
No evento, Guanaes criticou o que chamou de “mudanças oscilantes” no país. “O Brasil é um capitalista que não sai do armário e não decide se é capitalista. Precisamos ter uma política de Estado, antes de apenas ter uma política de governo, para que as regras sejam contínuas quando os governos mudam. Isso é ruim para nós como um todo, como marca e como negócio”, disse ele. Segundo ele, o Brasil está cheio de oportunidades. “Mas como disse Roberto Campos, ‘não perdemos oportunidades para perder oportunidades’”.
O painel mediado por Sorrell contou ainda com a participação do artista e fotógrafo Vik Muniz, do cineasta Fernando Sulichin, presidente-executivo da Alvear, e de Pierre Halimi Lacharlotte, diretor geral da marca suíça de relógios de luxo FP Journe Americas.
Sulichin, que tem mais de 25 filmes e documentários em seu currículo, incluindo parcerias com diretores como Oliver Stone e Spike Lee, defendeu a produção latino-americana. “Estamos exportando muito conteúdo e acredito que os diretores aqui serão massivos. Sempre há espaço para histórias incríveis.”
Durante o painel, Lacharlote tirou do bolso uma banana presa em fita prateada, fazendo referência à obra “Comediante”, do artista italiano Maurizio Cattelan, que exibia uma banana fixada em uma parede branca com fita prateada. “O conteúdo é bom e o contexto também”, comentou ela.
Em 2019, a obra exposta na Exposição de Arte Contemporânea, em Miami, na Flórida, viralizou nas redes sociais e foi vendida a um colecionador francês por US$ 120 mil. Na mesma exposição, a banana foi retirada da parede e comida por um visitante, o que também gerou repercussão nas redes.
O avanço da inteligência artificial (IA) na produção criativa também foi discutido entre os painelistas. Na visão de Muniz, a IA ajuda a dar visibilidade global não só à produção latino-americana, mas de outros países. “A IA reduzirá as barreiras geográficas. Há jovens que monetizam conteúdos no Ruanda e no Tibete e isto é bom para eles porque dá às pessoas a oportunidade de se expressarem dentro das suas próprias culturas.”
Na abertura do painel, o artista fez uma apresentação sobre a diferença entre a criatividade humana e a tecnologia. “Desenvolvemos ferramentas que nos diferenciam de todo o reino animal. Acreditamos e acreditar é algo que nos conecta com coisas que não existem, o que é parte essencial da criatividade.”
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