Prevê-se que as alterações climáticas tenham impacto em todos os sectores económicos, alguns em maior medida e outros em menor medida. Para os investidores, o mapeamento dos riscos climáticos intrínsecos aos negócios das empresas em que investem começa a fazer parte integrante da análise de investimento. Ou pelo menos deveria fazer parte disso.
Para ajudar os investidores brasileiros a identificar possíveis riscos climáticos nas empresas da bolsa brasileira, a equipe de análise da XP, sob a liderança de Marcela Ungaretti, realizou uma avaliação por setor econômico sob duas perspectivas: riscos físicos e riscos de transição. Os riscos físicos incluem danos materiais e financeiros resultantes de eventos climáticos extremos. Os riscos de transição estão relacionados com a perda de quota de mercado, a obsolescência de produtos e serviços, os processos e a pressão das partes interessadas.
“A pressão dos investidores afeta as empresas de diferentes maneiras. Nas conversas com investidores institucionais nos últimos meses, temos visto um interesse crescente em integrar os riscos climáticos na análise financeira dos ativos investidos”, comenta Ungaretti. No entanto, ela destaca que, embora mais empresas e seus acionistas reconheçam a importância das práticas ESG [ambientais, sociais e de governança corporativa] e ações alinhadas com a agenda climática, fazê-lo não é simples. “A incerteza sobre a melhor forma de avaliar a resiliência e os planos de adaptação das empresas ainda dificulta a integração da informação climática no processo de investimento”, afirma.
Ao avaliar os riscos físicos, é considerado o impacto das secas severas; inundações; tempestades; incêndios; altas temperaturas; e escassez de água. Os riscos de transição avaliados, por sua vez, incluem mudanças nas preferências dos consumidores; maior preocupação das partes interessadas; aumento no custo das matérias-primas; transição de produtos para alternativas de baixo carbono; aumento do preço das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE); e exposição das empresas a litígios.
Na análise da casa, nenhum setor está isento de perdas e a adaptação às mudanças climáticas é essencial para qualquer negócio. No entanto, é inegável que o tipo de impacto e a gravidade dos problemas variam.
Considerando uma escala de 1 a 4 para classificar os riscos físicos e de transição, onde 1 representa o menor risco e 4 o maior risco, o setor com maior número de pontuações máximas foi Celulose e Papel, que tem maior propensão a experimentar os efeitos da secas, incêndios florestais, escassez de água e aumento dos custos das matérias-primas.
Petróleo e gás e Mineração e siderurgia ficaram em segundo lugar, com três alertas máximos cada. No caso do petróleo e do gás, é elevada a probabilidade de sentirmos o efeito do aumento da preocupação das partes interessadas, com a transição dos produtos para alternativas de baixo carbono e o aumento do preço das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). A mineração e a siderurgia, que foram colocadas como um único setor, poderão sofrer com o aumento do custo das matérias-primas, a transição dos produtos para alternativas de baixo carbono e também uma possível escassez de água.
Na outra ponta, o segmento de Telecomunicações apresenta apenas um risco moderado (nível 2) em duas categorias analisadas (inundações e tempestades), enquanto o setor de saneamento apresenta um risco moderadamente baixo (nível 2) em inundações e exposição a litígios. Todos os outros 10 indicadores de risco avaliados estão classificados, por enquanto, como de baixo risco para estes segmentos de mercado. A educação também apresenta risco baixo em nove categorias, riscos moderados em duas (inundações e tempestades) e um risco elevado (maior preocupação das partes interessadas).
“Em geral, não tivemos surpresas. Por exemplo, já esperávamos que as alterações climáticas representassem desafios significativos para o sector da pasta e do papel, potencialmente perturbando as operações e danificando as florestas, impactando as operações. Nos setores de petróleo e gás, mineração e siderurgia, também esperávamos que fossem diretamente afetados pelos riscos de transição”, comenta o analista da XP.
Ela menciona que os riscos de transição também estão ligados a uma mudança de mentalidade dos stakeholders, mais preocupados com as questões ambientais, e também na legislação, como no caso de países, como os da União Europeia, que aprovaram restrições à entrada de produtos com elevada pegada de carbono ou suspeitos de serem provenientes de área de desmatamento. “Isso aumenta a complexidade do ambiente operacional”, diz ela.
Veja o resumo de cada setor:
Agronegócio, Alimentos e Bebidas
Agronegócio: Os principais riscos físicos são eventos climáticos extremos, como secas, incêndios florestais, altas temperaturas e escassez de água, que afetam a produtividade agrícola e a demanda por insumos. Os riscos de transição incluem preocupações ambientais das partes interessadas, especialmente dos importadores da União Europeia, o que poderia aumentar os custos e impactar a procura. A diversificação geográfica é crucial para mitigar estes riscos.
“Esses fatores afetam principalmente a produtividade dos produtores agrícolas (SLC e Brasil Agro) e consequentemente a demanda por produtos dos players de insumos agrícolas (3Tentos, Boa Safra, Vittia e AgroGalaxy)”, comentam Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, analistas da XP.
Alimentos e Bebidas: As altas temperaturas representam um risco significativo para a produção pecuária e avícola. A mudança das preferências dos consumidores e a crescente procura de práticas ambientais podem aumentar os custos para as empresas de alimentos e bebidas.
No caso dos riscos físicos, os analistas Lucas Laghi, Fernanda Urbano e Guilherme Nippes apontam que condições climáticas extremas, como enchentes e fortes tempestades, podem causar paralisações de produção e gargalos na cadeia de abastecimento, como evidenciado pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que afetou temporariamente as operações de empresas como Marcopolo, Randon e Frasle Mobility, que possuíam fábricas nas áreas afetadas.
No caso dos riscos de transição, a mudança para veículos eléctricos e combustíveis alternativos oferece riscos e oportunidades, exigindo adaptação dos produtos. Variações nos preços de matérias-primas como aço e cobre também impactam nos custos, embora a maioria das empresas possua mecanismos para repassar esses custos.
Para Rafael Barros e Raphael Elage, os riscos físicos do segmento têm impactos limitados, sendo os principais riscos as interrupções na oferta de cursos presenciais devido a eventos climáticos extremos. Mudanças no cenário macroeconômico podem afetar os resultados das instituições de ensino.
Bancos: Exposição moderada, com riscos relacionados a eventos climáticos que podem afetar a inadimplência dos clientes. Contudo, a diversificação e adaptabilidade dos modelos de crédito ajudam a mitigar estes riscos. Os bancos também podem promover práticas ambientais sustentáveis.
“Vale ressaltar, porém, que os bancos podem desempenhar um papel importante como vetores de mudança dada a sua capacidade de direcionar linhas de crédito com taxas mais baixas para projetos focados na preservação ambiental. Nesse sentido, o Banco do Brasil incluiu metas de crescimento para sua ‘Carteira de Negócios Sustentáveis’ no seu guidance para 2024”, afirmam Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, da XP.
Seguradoras: Maior exposição, com potencial necessidade de ajustes nos preços e modelos de risco devido às mudanças climáticas.
O sector da saúde está mais ligado aos riscos físicos do que aos riscos de transição e, mesmo assim, são limitados. Rafael Barros e Raphael Elage comentam que as empresas de saúde possuem infraestrutura predominantemente em áreas menos suscetíveis a eventos extremos. As alterações climáticas podem afectar a transmissão de doenças, com impactos variáveis nos custos e na procura de serviços de saúde e medicamentos.
Condições climáticas extremas, como inundações e escassez de água, podem perturbar as operações e danificar infraestruturas, bem como afetar a qualidade dos minerais. É o que explicam os analistas Lucas Laghi, Guilherme Nippes e Fernanda Urbano no documento. Mas também existem riscos de transição para o sector, tais como as pressões para reduzir as emissões de carbono e as preferências por produtos sustentáveis que podem aumentar os custos operacionais e afectar a procura e a rentabilidade.
Riscos de transição: A substituição por fontes alternativas de energia, o aumento dos preços das emissões e as mudanças nas preferências dos consumidores são os principais riscos. Condições climáticas adversas também podem afetar temporariamente as operações. “Esses riscos estão presentes para empresas upstream (PETR, PRIO, RRRP, RECV), distribuidoras de combustíveis (VBBR, UGPA) e, em menor escala, para empresas petroquímicas (BRKM, UNIP)”, afirmam os analistas Regis Cardoso e Helena Kelm.
Secas, inundações e incêndios florestais podem perturbar as operações e danificar as florestas. Portanto, para Lucas Laghi e Fernanda Urbano, Suzano, Klabin e Irani poderão ser impactadas.
A escassez de água é uma preocupação significativa para a produção de celulose. Entre os riscos de transição, o aumento dos custos dos insumos e o aumento das regulamentações sobre emissões impactam a indústria.
Propriedades Comerciais: Condições climáticas severas podem danificar ativos e afetar o comportamento do consumidor, impactando temporariamente as operações e vendas. Ygor Altero e Ruan Argenton trazem como exemplo que as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em maio impactaram as vendas dos lojistas da Multiplan e Iguatemi no resultado financeiro do segundo trimestre de 2024.
Empresas de construção: Os impactos incluem danos nos locais de construção, atrasos e aumento de custos devido a condições climáticas extremas e escassez de materiais.
Danniela Eiger, Gustavo Sendy e Laryssa Sumer explicam que, em geral, as empresas do setor varejista têm uma exposição média às mudanças nas condições climáticas. Separando as implicações para cada subsegmento:
Consumo discricionário: Mudanças nas condições climáticas podem afetar a sazonalidade e a demanda por coleções.
Varejo Farmacêutico: Temperaturas extremas podem impactar a demanda por produtos sazonais.
Retalho Alimentar: Cheias e secas podem aumentar os preços e impactar as vendas.
Comércio eletrônico: Impactos indiretos relacionados aos custos de envio e mudanças nas preferências de compra.
Telecomunicações e Tecnologia
As empresas de tecnologia, meios de comunicação e telecomunicações (TMT) têm um impacto relativamente baixo nas alterações climáticas. Mas, segundo Bernardo Guttmann e Marco Nardini, condições climáticas extremas podem afetar temporariamente o funcionamento de empresas de tecnologia que comercializam produtos físicos.
Pedro Bruno e Matheus Sant’anna detalham no relatório que riscos físicos – secas, enchentes e tempestades – podem afetar a infraestrutura e o patrimônio das empresas do setor de transportes, como comprovam as fortes chuvas no Rio Grande do Sul, onde a ViaSul da CCR e a Malha Sul da Rumo sofreram danos estruturais e lojas e veículos da Localiza/Movida/vamos foram danificados.
“Podem levar a possíveis quebras de safra, dificuldades de navegação (principalmente no transporte aquaviário), possíveis danos às estruturas físicas (estradas, portos, ferrovias) e também aos ativos da empresa (carros, caminhões, lojas físicas)”.
Os riscos de transição estão associados a mudanças nas tecnologias e as emissões de GEE são relevantes, especialmente para os setores com utilização intensiva de emissões.
Vladimir Pinto e Bruno Vidal detalham que condições climáticas severas podem afetar temporariamente a distribuição de energia, mas não a geração. As usinas de energia são projetadas para resistir a condições adversas.
Em termos de riscos de transição, destacam-se a exposição a litígios e custos de matérias-primas, que geralmente são repassados ao consumidor final por meio de tarifas reguladas.
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