A Comissão Especial para Inteligência artificial do Senado adiou, mais uma vez, a votação do projeto de lei que regulamenta o uso de tecnologia no país. A matéria ainda não tem data para ser votada e o relator, senador Eduardo Gomes (PL-TO)ele disse ao Valor que não deverá ser votado em plenário antes do recesso parlamentar informal.
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“É melhor se dedicar um pouco mais ao debate. Acho difícil [votar antes do recesso]. Acho que amanhã, depois de amanhã, as coisas param por aqui”, disse Gomes.
Na abertura da sessão o presidente da comissão especial Carlos Viana (Podemos-MG), declarou que o projeto não seria votado nesta terça-feira (9). “Já aviso que não votaremos hoje o relatório. A decisão é minha, como presidente desta comissão. Já comuniquei ao senador Eduardo Gomes. Não votaremos até que tenhamos esclarecido ponto por ponto tudo isso”, disse Viana.
Mais cedo, antes da sessão colegiada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)defendeu que a proposta fosse votada antes do recesso.
“Outro projeto de minha autoria, que está sendo relatado pelo senador Eduardo Gomes, e que deve ser votado antes do recesso é o projeto de lei que regulamenta a inteligência artificial. É algo que as empresas e os setores também têm que prestar muita atenção porque a inteligência artificial não é mais perigoso do que a estupidez humana. É algo muito sensível que precisa de ser regulamentado. É um erro pensar que não deveria haver protecção legislativa em relação a este tema, e é também um erro pensar que não existe. . deve haver proteção legislativa em relação às redes sociais”, declarou Pacheco.
Carlos Viana criticou discursos populistas de parlamentares que, segundo ele, estão desinformando a população.
“Há hoje no Parlamento brasileiro quem quer que a discussão, a mídia, ganhe dinheiro e se aproveite da desinformação da população. Está cheio de gente que faz isso nas redes sociais, que levanta o argumento da censura e faz isso porque eles ganham. O Senado não é a Câmara para esse tipo de arena”, disse Viana.
O relator defendeu que o texto só deverá ser votado quando os parlamentares chegarem a uma versão minimamente consensual. “Vamos aproveitar que temos um texto em que se avançou muito e passar para essa relação de finalização, de votação. Precisamos fazer essa votação o mais rápido possível, isso não significa o que é pior, não temos esse compromisso”, pontuou o repórter.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Mobilização Empresarial da Inovação criticou, em nota, o projeto de Inteligência Artificial. Segundo análise do grupo, o texto, tal como está, “criará a legislação mais restritiva do mundo para o desenvolvimento e aplicação de tecnologia”.
“Isso porque, diferentemente de outros países, o PL regulamenta não só o uso da IA, por nível de risco, mas também o design e o desenvolvimento, o que deve prejudicar a inovação”, afirmam as entidades.
“O Brasil tem vantagens competitivas e a inteligência artificial tem grande potencial para aumentar a produtividade do setor. Mas a regulamentação prevista ignora os diferentes usos e riscos e impõe um pesado aparato regulatório não só nas aplicações de IA, mas na pesquisa e desenvolvimento da tecnologia”, afirmou o diretor de Tecnologia e Inovação da CNI, Jeferson Gomes.
“Corremos o risco de espantar novos investimentos, prejudicar projetos de IA no setor produtivo que sequer utilizam dados pessoais e fazer com que o país perca competitividade e oportunidade de se inserir como importante player nas cadeias globais”, completou.
Entre os pontos considerados mais críticos no texto, a CNI cita a regulamentação desde a concepção até o desenvolvimento e adoção de sistemas de IA, e não apenas a implementação e utilização de aplicações por grau de risco, o que resulta em barreiras científicas e tecnológicas da tecnologia; e o estabelecimento de uma declaração de direitos que antecede e é dissociada da análise de risco da aplicação, em vez de estabelecer as obrigações do agente regulado perante o regulador.
“Falta iniciativa em colocar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) como órgão central, que ainda está em processo de estruturação para a proteção de dados pessoais, e não possui competência técnica em IA ou políticas de inovação, como outros órgãos do governo mais adequados ao desafio”, apontam.
Eles sugerem um “ajuste de escopo”. “A lei deve focar nas aplicações dos sistemas, que é a fase em que eles se concretizam e podem ser avaliados, e não na concepção e desenvolvimento, sob pena de barrar a inovação.”
Além disso, sugerem que a lei se concentre nas aplicações de alto risco e exclua as aplicações de baixo e médio risco, especialmente aquelas que não envolvem dados pessoais ou interação com seres humanos.
O relator da matéria afirmou que na elaboração do texto ouviu todos os setores envolvidos e disse que um ponto de divergência não pode invalidar todo o trabalho.
“Sinceramente não podemos sentar com a instituição, fazer uma lista sobre o debate de 10 pontos, atender 9, e o ponto restante gerar uma nota que critica todo o trabalho da Comissão e todo o trabalho dos senadores. isso vai acontecer. Assim como não podemos ganhar uma votação digital, porque, no momento em que você está discutindo um tema, você é membro do Congresso Nacional, e, a qualquer momento, pode ser interrogado”, declarou Gomes.
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