O bom desempenho do Ibovespa nas últimas semanas, com máximas históricas, pode ser apenas o início de um movimento mais sustentado de valorização do mercado acionário brasileiro. A proximidade do ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos, o alívio nos prêmios de risco embutidos nas taxas de juros de longo prazo e a melhora na rentabilidade das empresas sustentam a percepção de que o mercado acionário poderá ter mais ganhos pela frente, apesar das incertezas, especialmente macroeconômicas , ainda são relevantes, o que pode indicar maior volatilidade à frente.
Embora o real continue sendo uma das moedas com pior desempenho do ano em relação ao dólar e as taxas de juros de longo prazo também apresentem aumento significativo no ano, o Ibovespa se destacou entre os demais ativos nacionais e se valorizou ao longo do ano, embora tímido (aumento de 1,06%). Na semana passada, o índice superou momentaneamente os 137 mil pontos, nova máxima histórica intradiária, e, na avaliação de analistas ouvidos pelo Valorpode ter um caminho de elevação adicional.
Ainda durante a temporada de resultados do segundo trimestre, os resultados melhores que o esperado das empresas brasileiras sustentaram a valorização do mercado acionário, num momento ajudado pelo cenário externo, com indícios mais claros de cortes de juros nos Estados Unidos em breve, e de uma alívio nos prêmios de risco locais, após o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, endurecer o discurso e indicar a possibilidade de alta da Selic, o que reduziu as chances implícitas nos preços dos ativos de que a próxima composição do BC seja ser mais brando com a inflação.
“O Brasil está muito barato e a bolsa é o melhor ativo que você poderia ter, porque estava muito descontado”, diz o head de corretagem de valores do Scotiabank Brasil, Michel Frankfurt. Ele cita que, em estudo recente realizado pelo banco, os múltiplos indicavam um mercado acionário brasileiro muito descontado em relação a outros mercados pares, como México e Chile. “E isso já nos dava algum sinal de que, se um dia o mercado se ajustasse, haveria espaço para o Ibovespa ir para 150 mil pontos, por exemplo. Ainda vemos muito espaço para o mercado de ações avançar.”
A visão não é isolada. Não foi por acaso que, logo após o encerramento da temporada de resultados do segundo trimestre, a equipe de estratégia de ações brasileiras do JP Morgan, liderada por Emy Shayo Cherman, elevou a projeção para o Ibovespa no final deste ano de 135 mil para 143 mil pontos. Na esteira da colheita de balanços e com expectativa de crescimento econômico mais forte para o ano – 2,9% -, “o Ibovespa alcançaria facilmente nosso anterior cenário otimista (‘touro’) de 140 mil pontos, superando-o inclusive para atingir 143 mil pontos” , dizem os estrategistas do banco americano.
Frankfurt, do Scotiabank, nota que, durante o primeiro semestre, foi relevante a ausência de gatilhos para uma melhoria no mercado accionista, ao mesmo tempo que o mercado mexicano “foi o ‘queridinho’ e o que veio para os mercados emergentes foi para lá, enquanto o Brasil ficou em segundo plano”. Ele diz, porém, que houve uma reavaliação desse cenário.
Como comparação, ele observa que, no início do ano, a relação entre o principal fundo de índice (ETF) de ações mexicanas em dólares, o EWW, e o EWZ, principal ETF de ações brasileiras em Wall Street, estava em 2,10, e agora está em torno de 1,82. Além disso, os fluxos de capital estrangeiro no mercado de ações brasileiro fortaleceram-se desde julho. Frankfurt lembra que, somando o mercado secundário à vista e os futuros, houve uma entrada de US$ 3,93 bilhões de julho até o início da semana passada, após uma saída significativa de US$ 10,16 bilhões no primeiro semestre do ano.
Não existe uma métrica semelhante para medir os fluxos de capitais no México, mas, segundo o profissional, alguns dados indicam saídas de capitais de lá. “Se estamos vendo saída do México, entrada no Brasil e a relação entre EWW e EWZ está caindo, é bem possível que estejamos vendo uma alocação do México para o Brasil.”
Além disso, com a possibilidade de os EUA escaparem a uma recessão e a economia americana convergir para uma aterragem suave, a Reserva Federal deveria começar a reduzir as taxas de juro de forma suave. “E isso beneficia os mercados emergentes como um todo. Se os juros estão caindo lá, isso funciona como um gatilho para recebermos mais fluxo de investidores internacionais, que é o que movimenta as usinas. A língua brasileira aqui é relevante, claro, mas não adianta: o fluxo internacional é muito pesado.”
Apesar disso, o executivo do Scotiabank nota que os investidores locais “também estão comprando e estão mais entusiasmados porque tivemos um esforço – combinado ou não – do governo em relação à entrega da meta fiscal e do Banco Central, com uma mudança de discurso focado em trazer a inflação para a meta”. “É raro que locais e estrangeiros estejam do mesmo lado. É interessante ver isso”, diz Frankfurt.
O superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos, Gilberto Nagai, concorda que o cenário externo é o que mais tem impulsionado o mercado acionário brasileiro nas últimas semanas, destacando a entrada significativa de capital estrangeiro, principalmente na comparação com o primeiro semestre. Com o Fed sinalizando claramente o início do ciclo de redução dos juros em setembro, Nagai avalia que, no curto prazo, os investidores não residentes devem continuar investindo no mercado acionário brasileiro.
Imagino que os estrangeiros continuarão a contribuir [na bolsa]”
-Gilberto Nagai
“Como acredito que os EUA estão em uma desaceleração suave e como o Brasil provavelmente não aumentará tanto a taxa Selic, imagino que os estrangeiros continuarão contribuindo. Não tanto quanto já se viu, mas deve continuar com o fluxo por mais algum tempo”, afirma.
Ele também observa fatores locais que apoiaram o mercado de ações, como o crescimento dos lucros corporativos, especialmente após a colheita dos resultados corporativos no segundo trimestre. “Foi, no geral, uma boa temporada, o que fala muito do que está acontecendo na economia. O setor doméstico está prosperando. Foram bons resultados, nada espetacular, mas decentes”, pontua o executivo.
Nagai, aliás, diz que as empresas brasileiras se fortaleceram após a pandemia e não estão tão alavancadas, tendo se preparado para uma possível crise econômica. “O nível de despesas também é baixo, então tudo que aumenta de receita aparece com muita força em lucro. Assim, o valor do negócio aumenta, porque aumenta o lucro, o que aumenta o valor da ação”, afirma.
Diante do cenário esperado de queda dos juros americanos, o gestor de ações Tiago Cunha, da Ace Capital, também avalia que o cenário externo está por trás da dinâmica recente do mercado acionário brasileiro. Ele diz que os setores mais atrativos são aqueles ligados à economia nacional, “justamente o que os estrangeiros procuram devido à queda dos juros no exterior”. Cunha cita como exemplos os bancos, o varejo e o setor imobiliário. “As menos interessantes são as empresas ligadas a commodities, que estão mais expostas às variações de preços no mercado internacional.”
Na visão de Cunha, a queda dos juros americanos deverá fazer com que o custo de oportunidade caia em todo o globo e, assim, o efeito nas ações das empresas ligadas à economia nacional tende a ser maior. “O mercado já trabalha com corte de juros em setembro [nos EUA] e o mais provável é que haja uma redução de 0,25 ponto”, afirma. O gestor cita, no entanto, alguns riscos, como as eleições presidenciais americanas no início de novembro, alguns números mais fracos da atividade nos EUA e a dinâmica das taxas de juro no Japão.
consignado para servidor público
empréstimo pessoal banco pan
simulador emprestimo aposentado caixa
renovação emprestimo consignado
empréstimo com desconto em folha para assalariado
banco itau emprestimo