Com apoio em falas de Lula, dólar sobe de novo e Ibovespa fica a ver navios | Bolsas e índices

• Hoje o dólar comercial teve avanço mais brando, de 0,22%, negociado a R$ 5,66, apoiado na queda dos juros públicos americanos. No momento mais crítico do dia para o real, a moeda atingiu a máxima de R$ 5,70.

Mas se o dólar mais caro preocupa, porque tende a aumentar a inflação e a elevar os juros, beneficia os exportadores, que têm receitas em moeda americana e saem na frente. Na verdade, são eles que têm levado o balanço da bolsa brasileira para positivo.

• Em dia de instabilidade, o Ibovespa terminou quase em zero, com alta de 0,06%, aos 24.787 pontos; permanecendo bem abaixo dos índices americanos que atingiram hoje máximas de até 0,84%. No ano, queda acumulada na carteira teórica brasileira é de 6,82%

Nas cenas dos capítulos mais recentes da troca de farpas, Lula deu a entender que o próximo presidente do BC, com mandato a partir de janeiro, deveria estar mais alinhado ao projeto político do Executivo. Ou como disse o presidente: “olha o país como ele é e não como o sistema financeiro fala”.

O petista também reclamou de estar há dois anos com “o presidente do BC de (Jair) Bolsonaro” e disse que Campos Neto tem viés político. Os discursos não foram bem recebidos pelo mercado, que teme, com razão, que o próximo chefe do BC tenha mais uma postura política do que um compromisso de manter a inflação nos trilhos.

Lula tentou destacar, porém, que o presidente que nomeou não sentará na cadeira para fazer o que o Executivo quer. “O Banco Central tem a função de zelar pela política monetária e atingir a meta de inflação”, comentou em entrevista à Rádio Sociedade, na Bahia.

Campos Neto rebateu afirmando que é preciso se afastar da narrativa de que o BC tem viés político. Num discurso num evento para bancos centrais em Portugal, disse também estar convencido de que o trabalho da autoridade monetária permanecerá independente mesmo após a sua saída. Os comentários ajudaram a reduzir o prêmio de risco nos contratos de juros futuros, que caíram influenciados pelas taxas dos Estados Unidos. Contudo, a redução foi menor no extremo longo da curva, o que reflecte precisamente o receio de falta de compromisso com as autoridades fiscais.

• A Taxa de Depósito Interbancário (DI) referente a janeiro de 2025 foi reajustada de 10,83% para 10,77%. Os prêmios em contratos de prazo mais curto estão mais ligados às expectativas dos investidores em relação à Selic;
• Para janeiro de 2033, a alíquota passou de 12,47% para 12,45%. Há um mês, esses contratos eram negociados a 11,88%. Vencimentos com prazos mais longos refletem maior preocupação com a inadimplência do governo (“risco fiscal”, se preferir).

O mercado reagiu bem aos discursos do presidente do Banco Central Americano (Federal Reserve), Jerome Powell, no evento em Portugal. Reconheceu que as taxas elevadas já afectam alguns sectores mais sensíveis da economia e reconheceu a melhoria da inflação; o que reduziu a pressão sobre as taxas de juro, melhorou o apetite pelo risco e aumentou as apostas de que haverá um corte em Setembro e outro em Dezembro.

Mesmo com a desaceleração da inflação na comparação anual, Powell destacou o nível ainda elevado dos salários e que a política deve continuar restritiva, já que o índice de preços só deve atingir a meta no final de 2025 ou 2026.

• Os choques superam as expectativas: como é que os dados sobre o emprego afectam a política monetária nos EUA?

Fora dos comentários do presidente Lula, a percepção de aumento do risco fiscal também foi vista nas derrotas do governo no Congresso. Este é mais um reforço para a saída de dólares que faz com que o real continue a se desvalorizar.

A alta do dólar poderá dificultar ainda mais o que o presidente mais deseja: um ambiente de taxas de juros mais baixas que permita o crescimento da economia. Isso porque com um real mais desvalorizado a inflação tende a subir. Com diversos produtos negociados em dólar ou indiretamente vinculados a ele, o cálculo do índice de preços computa o aumento do custo desses itens.

Esta é uma má notícia para aqueles que esperam ver uma redução nas taxas de juro, porque uma inflação mais elevada exige taxas de juro mais elevadas para a controlar. Segundo estudo do Deustch Bank, ele aponta que no atual patamar do dólar, a Selic (taxa básica de juros referencial no Brasil) teria que subir dos atuais 10,50% para 12% para atingir a meta de inflação de 3%. por ano.

Para piorar, os agentes de mercado avaliam que a mudança da bandeira da conta de luz, para amarela, nos próximos meses, também deverá pressionar o índice de preços.

Das 86 ações do Ibovespa, 37 conseguiram se manter positivas. Os outros 46 sofreram perdas.

O destaque positivo ficou, mais uma vez, com os exportadores, que se beneficiam da queda da taxa de câmbio real. Na outra ponta, os títulos mais sensíveis aos juros e prejudicados pelo aumento da inflação, como o varejo, tiveram mais um calvário.