Em abril deste ano, a ponte aérea Rio-São Paulo registrou um volume de 557 mil passageiros transportados — cerca de 18 mil por dia —, segundo relatório da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta). A maioria deles são pessoas em viagens de negócios que se deslocam frequentemente entre as duas cidades.
Para muitos que visitam regularmente a capital paulista, resta pernoitar em hotéis ou estúdios de “curta estadia” para amenizar a rotina estressante de passar grande parte do tempo entrando e saindo de aviões. O alento para esse grupo é que a oferta de estadias sazonais na cidade ganhou um novo produto nas últimas semanas: apartamentos em clubes privados, com lazer de alto padrão e conforto “cinco estrelas”.
Em conceito, são luxuosos quartos de hotel, alguns do tamanho de uma casa, que ficam em complexos de entretenimento, com serviços e acesso seguro restritos aos associados do empreendimento.
Mas o que torna esses apartamentos uma opção muito sedutora — rivalizando com o mercado imobiliário local — é o pacote que oferecem: alta gastronomia, eventos exclusivos, “networking” com outros associados, praia artificial e piscina de ondas para surf. Resumindo, você pode cumprir sua agenda de trabalho e voltar para finalizar o dia na balada — seja para um “happy hour” no bar exclusivo ou para pegar uma onda no coração da metrópole.
Na Zona Sul de São Paulo, o Beyond The Club (BTC), da KSM Realty, Realty Properties e BTG Pactual Asset Management, está em obras em ritmo acelerado. O empreendimento ocupa uma área de 70 mil metros quadrados e contará com piscina de ondas para surf em 30% do terreno, além de praia de areia, três restaurantes, spa e infraestrutura completa de lazer. A meta é concluir a obra em julho de 2025, mas as ondas devem começar a quebrar por lá em março.
Cerca de 45% dos três mil títulos de sócios já foram vendidos. O valor unitário é de R$ 778 mil, equivalente a um estúdio compacto no Itaim. Segundo o sócio fundador da KSM, Oscar Segall, muitos clientes moram fora de São Paulo e fecharam negócios com o objetivo de trabalhar e descansar na cidade.
“Tem associados que vêm uma ou duas vezes por semana do Rio ou de cidades do agronegócio e não possuem imóveis em São Paulo. Se você ficar no clube, pode trazer sua esposa ou família, pois eles terão o que fazer.
O espaço conta com ‘coworking’ e salas de reuniões. No final do dia, ainda dá tempo de mergulhar na praia ou pegar onda, quem sabe ao lado de Gabriel Medina, campeão de surf e cliente da Beyond”, afirma Segall.
O BTC terá 74 salas, algumas com cem metros quadrados, e design de interiores do arquiteto Gui Mattos. A ideia é oferecer serviços básicos, como limpeza e governança.
A comida deve ser encomendada diretamente nos restaurantes do clube. “Um cliente sugeriu alugar o apartamento por dez anos, mas isso não está previsto nos estatutos do clube. Quando entrar em operação entenderemos o uso e ocupação das unidades e poderemos repensar essa operação”, afirma o executivo.
Os apartamentos não são imóveis tradicionais ou ativos hoteleiros: na prática, não estão à venda nem podem ser alugados ou reservados ao público comum — estão vinculados a programas de adesão e só podem ser ocupados com a presença do associado.
É assim que funciona no Soho House São Paulo, filial brasileira da rede internacional de “member’s club”, fundada pelo empresário Nick Jones, em Londres. Inaugurado em junho passado na Cidade Matarazzo, na região da Avenida Paulista, o clube conta com áreas sociais, ambientes de trabalho e 32 apartamentos para associados, com decoração que valoriza a identidade histórica e cultural do local.
“O projeto levou mais de quatro anos de trabalho e busca refletir a rica materialidade da cidade, com pisos de madeira recuperada, revestimentos cerâmicos pintados à mão e padrões sobrepostos, em meio a detalhes da arquitetura existente”, explica o diretor de Membership for Latin América, Alicia Gutierrez.
A estadia pode ser de curta ou longa duração, dependendo da disponibilidade. Para fazer parte do Soho House São Paulo é preciso ter o nome aprovado em um comitê interno, pagar uma taxa de adesão de R$ 3.800 e anuidades entre R$ 8.150/ano (para usufruir apenas da casa em São Paulo) e R$ 20,65 mil no caso da categoria com acesso a todas as 43 sedes espalhadas pelo mundo.
A executiva não revelou quantos associados já aderiram à operação paulista, mas disse estar “impressionada com o interesse”. Em todo o mundo, a marca conta com 193 mil membros, alguns deles celebridades como Leonardo DiCaprio, Miley Cyrus e Justin Bieber.
O charme de passar um tempo hospedado no Soho House é exatamente esse: poder conviver com personalidades e participar de uma comunidade ligada à economia criativa — algo que nem o melhor hotel “business” da cidade é capaz de oferecer.
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