Há algo em nosso corpo humano que os mosquitos adoram. Além do nosso cheiro e do nosso hálito, a nossa pele funciona como uma espécie de sinal que anuncia que o nosso sangue “está pronto para ser sugado”.
Isto acontece porque os mosquitos, especialmente aqueles que transmitem a dengue, usam sensores infravermelhos nas suas antenas para rastrear as suas presas, revelou um novo estudo.
Em muitas partes do mundo, as picadas de mosquito são mais do que apenas uma coceira irritante. Eles são capazes de espalhar doenças como dengue, febre amarela e vírus Zika.
A dengue, por exemplo, causada pelo mosquito Aedes aegypti, já registrou 3,57 milhões de casos confirmados no mundo, 82% deles no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Pesquisa publicada em revista científica Natureza, Um estudo liderado por cientistas da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA), descobriu que os mosquitos usam a detecção infravermelha junto com outras pistas que já conhecíamos, como o nariz para o CO2 da nossa respiração e certos odores corporais para procurar hospedeiros.
“O Aedes aegypti é excepcionalmente hábil em encontrar hospedeiros humanos”, diz o biólogo molecular da UCSB Nicholas Debeaubien, para o site do Alerta Ciência.
Mas a visão dos mosquitos não é muito boa e os cheiros podem não ser confiáveis se estiver ventando ou se o hospedeiro estiver em movimento. Dessa forma, a equipe avalia que o “sensor” infravermelho pode oferecer uma ajuda extra aos insetos na busca por alimento.
Apenas os mosquitos fêmeas bebem sangue, por isso os investigadores apresentaram gaiolas contendo cada uma 80 mosquitos fêmeas (com cerca de 1 a 3 semanas de idade) com uma variedade de ‘hospedeiros’ fictícios representados por combinações de placas termoelétricas, concentração de CO2 na respiração humana e odores humanos. Eles gravaram vídeos de cinco minutos para observar seus comportamentos de busca de anfitriões.
Alguns mosquitos foram presenteados com uma placa termoelétrica regulada para a temperatura média da pele humana de 34 graus, que também servia como fonte de radiação infravermelha. Outros foram ajustados para uma temperatura ambiente de 29,5°C – uma temperatura que os mosquitos gostam, mas que não emite infravermelho.
Cada sinal por si só – CO2, odor ou infravermelho – não conseguiu despertar o interesse dos mosquitos. Mas a aparente sede de sangue do inseto dobrou quando uma configuração com apenas CO2 e odor teve o fator infravermelho adicionado.
“Qualquer sinal por si só não estimula a atividade de busca do hospedeiro. É apenas no contexto de outros sinais, como CO2 elevado e odor humano, que a IR faz diferença”, diz Craig Montell, neurobiólogo da UCSB.
A equipe também confirmou que os sensores infravermelhos dos mosquitos estão localizados nas antenas, onde contêm uma proteína sensível à temperatura, TRPA1. Quando a equipe removeu o gene dessa proteína, os mosquitos não conseguiram detectar o infravermelho.
As descobertas ajudam a explicar por que os mosquitos parecem particularmente atraídos pela pele exposta e por que as roupas largas – através das quais o infravermelho é dissipado – são uma capa de invisibilidade tão eficaz contra eles. O estudo também poderá incentivar a criação de tecnologias eficientes contra os mosquitos, como a possibilidade de criação de armadilhas que utilizem a radiação térmica na temperatura da pele como isca.
“Apesar do seu pequeno tamanho, os mosquitos são responsáveis por mais mortes humanas do que qualquer outro animal”, diz DeBeaubien. “Nossa pesquisa aumenta a compreensão de como os mosquitos atacam os humanos e oferece novas possibilidades para controlar a transmissão de doenças transmitidas por mosquitos.”
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