O câncer de pulmão é a principal causa de mortalidade por câncer no mundo, sendo responsável por aproximadamente 1,8 milhão de mortes anualmente, de acordo com o Observatório Global do Câncer. No Brasil, a situação é preocupante, com estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontando para cerca de 30 mil novos casos por ano. Mais de 91% dos diagnósticos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ocorrem em estágios avançados, reduzindo drasticamente as chances de cura.
Fumar continua a ser o principal factor de riscosendo responsável por mais de 86% dos casos de câncer de pulmão no Brasil, segundo o INCA. Nos últimos anos, a utilização crescente de dispositivos eletrónicos, como os cigarros eletrónicos, tornou-se uma nova preocupação, especialmente entre os jovens, que representam um grupo de risco crescente. Mark Barone, fundador do FórumCCNTs, destacou que “embora o Brasil tenha avançado no combate ao tabagismo, ele ainda representa uma ameaça à saúde da população”.
Segundo Nina Melo, da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), “para combater o câncer de pulmão e essa condição é necessário adotar uma abordagem multifacetada que inclua prevenção, diagnóstico precoce, tratamento eficaz e suporte clínico abrangente”.
As desigualdades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento são evidentes. Apenas 15% dos casos de câncer de pulmão no Brasil são diagnosticados em estágio inicialquando as chances de cura podem chegar a 88%. Em estágios avançados, esse índice cai drasticamente para 15%, ressaltando a importância da detecção precoce, destaca Daniel Bonomi, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT). Para enfrentar esse desafio, Bonomi destaca que “a Sociedade Brasileira de Pneumologia (SBPT) e o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) recomendam a implementação de triagem nacional e a adoção de medidas de controle do tabagismo”. Triagem por tomografia de baixa dose pode reduzir a mortalidade associada ao câncer de pulmão em até 26% e, quando combinada ao controle do tabagismo, a redução pode chegar a 39%.
Além dos desafios no diagnóstico precoce, o tratamento do câncer de pulmão no Brasil enfrenta disparidades significativas entre os setores público e privado. Enquanto a medicina privada avança com o uso de tecnologias como a cirurgia robótica e a imunoterapia, o SUS ainda enfrenta sérias limitações. Segundo Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia, “apesar das promessas de mudanças significativas nas políticas públicas, ainda existe uma lacuna entre as promessas e a implementação real, com a população aguardando ações concretas”. Ela revela que foi levantado recentemente pelo Instituto Oncoguia que metade dos hospitais oncológicos do SUS ainda não fornece medicamentos incorporados ao tratamento há mais de uma década. Para Gustavo Prado, do HAOC, “é fundamental a atualização do Documento de Diretrizes Terapêuticas (DDT) para o câncer de pulmão, que já completa 10 anos de elaboração e dará origem a um Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica (PCDT) em 2025”. .
Segundo o secretário de Saúde do Paraná, César Neves, diretor do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), nos últimos cinco anos, de 2019 a 2023, as neoplasias malignas foram a segunda principal causa de mortalidade no Paraná, atrás apenas de doenças doenças cardiovasculares, sendo o câncer a principal causa de morte em 12% dos municípios do estado. Neves ressalta que para enfrentar esse desafio é fundamental uma abordagem tripartite envolvendo União, estados e municípios, considerando fatores como testes diagnósticos e a incorporação de novos medicamentos pela CONITEC. A judicialização dos medicamentos oncológicos, que consome quase um quarto do orçamento destinado à assistência farmacêutica no Paraná, é um problema significativo. A experiência bem-sucedida do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, com programa de detecção precoce mostra a importância de iniciativas eficazes. Além disso, os programas antitabagismo implementados em quase 80% dos municípios paranaenses demonstram o compromisso com a prevenção. Neves conclui que a coordenação e o financiamento adequados são essenciais para melhorar os resultados clínicos e reduzir os custos associados ao tratamento do cancro.
O combate ao câncer de pulmão no Brasil exige uma abordagem integrada que vai da prevenção ao tratamento avançado. Apesar dos avanços em algumas áreas, ainda há muito a fazer para garantir que todas as pessoas com esta doença tenham acesso a cuidados eficazes e que o país possa reduzir significativamente a mortalidade associada a esta condição devastadora.
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